Naquele tempo, quando eu era jovem, a palavra Senador traduzia responsabilidade e respeitabilidade, só chegavam à Câmara Alta do legislativo pessoas de elevada cultura ou que tinham prestado relevantes serviços a sua comunidade. Eram eleitos pelo povo brasileiro, por exemplo, Getúlio Vargas, em 1946, eleito senador por dois estados brasileiros: Rio Grande do Sul e São Paulo; Juscelino Kubitschek; Amaral Peixoto, eleito e reeleito; Nelson Carneiro, importante jurista; Marechal Paulo Torres (cantagalense), ex-governador do Acre e do estado do Rio de Janeiro, que participou da FEB na luta contra o nazismo e o fascismo, na Itália; Afonso Arinos, político de extraordinária cultura; Tancredo Neves, mineiro que se caracterizava como grande mediador nas crises políticas brasileiras; enfim, eram cidadãos que apresentavam uma folha corrida de trabalho público em benefício do povo.
O Senado sempre foi considerado o setor moderador do legislativo, que analisava e revia projetos de leis elaborados pela Câmara de Deputados, poder sempre mais exaltado. Quando o imortal arquiteto Oscar Niemeyer projetou os prédios de Brasília, a Câmara de Deputados era uma meia esfera aberta para cima, enquanto o Senado estava representado por uma meia espera em sentido contrário, simbolizando que o Senado deverá sempre analisar e lapidar os excesso da Câmara do Deputados. Simbolismo importantíssimo que mostra a função e o poder dos senhores senadores.
De algum tempo para os dias de hoje, o senado perdeu essas características, chegando lá, eleitos pelo povo brasileiro, elementos despreparados, alguns até grosseiros, como ocorreu semana passada com a Ministra do Meio Ambiente, a Senhora Marina Silva, na Comissão de Infraestrutura do Senado, quando foi humilhada por alguns senadores com expressões desse tipo: “Respeito você como Ministra, não como mulher”, “ponha-se no seu lugar”, “Minha vontade é enforca-la”. O autor dessa última “pérola”, depois declarou outro absurdo: “se pedir desculpas à Ministra minha mulher não me deixa entrar em casa e eu não consigo me eleger nem a deputado”. A emenda foi pior do que o soneto, como se dizia antigamente; conseguiu associar machismo e ignorância ao mesmo tempo, na mesma frase, jamais deveria ser senador.
Durante o ocorrido nenhum senador do PT, partido do Presidente, socorreu a Ministra com alguma palavra de apoio; afinal ela faz parte do governo e representava o governo naquele momento. Onde está a solidariedade política? Ou querem fritá-la?
Em função da mentalidade desses senadores agressivos é que a representatividade feminina é mínima na política e em cargos de direção no Brasil. Em um trabalho realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), nosso pais ocupa o 15º lugar na participação feminina em cargos de direção na América Latina; apenas 27% dos cargos de secretaria executiva e subchefias, no Brasil, são ocupados por mulheres. Analisado, racialmente, a situação é mais grave, pois apenas 8% das nossas patrícias negras ocupam cargos de direção.
A atitude desses senadores gerou manifestações de apoio à Ministra Marina Silva por diversos setores de nossos meios de comunicação, com crítica aos truculentos membros do senado. Marina Silva, tanto como ministra ou mulher deveria ter sido respeitada por sua vida e por sua defesa intransigente do meio ambiente.
Marina Silva nasceu no estado do Acre, filha de seringueiros cearenses, levou uma vida dura na infância; sua história patológica pregressa mostra cinco contaminações p0r malária, duas hepatites, além, de um contaminação por mercúrio.
Foi alfabetizada pelo Mobral aos 16 anos de idade, quando era empregada doméstica; graças ao curso supletivo, em quatro anos completou o primeiro e o segundo graus. É diplomada em História e, como política, foi a senadora eleita com menos idade, apenas 35 anos. Como candidata à presidência da república obteve 20 milhões de votos.
Ambientalista rígida, que não abre mão dos princípios defendidos, Marina já teve que enfrentar garimpeiros, madeireiros, fazendeiros e cangaceiros. Já foi ministra em outro governo petista, preferindo renunciar a abrir mão das ideias defendidas. Sua figura física contradiz com a grandeza do seu caráter.
É bom lembrar que na Física há uma lei com o seguinte enunciado: “A toda ação corresponde uma reação que lhe é igual e contrária”. Cuidado preponentes, algumas vezes a mesma lei da física acontece nos relacionamentos humanos.
Júlio Carvalho.
Jornal da Região