Pentágono expurga heróis de guerra dos EUA de seus sites



Censura ordenada por governo Trump a programas de diversidade e inclusão apaga da memória nacional referências a negros, mulheres, latinos e indígenas que contribuíram em guerras do país. Na luta para eliminar todos os vestígios que se referem a diversidade, igualdade e inclusão nos EUA, o governo Trump tenta apagar também momentos e personagens marcantes da História americana.
Heróis de guerra desapareceram das páginas dos sites do Departamento de Defesa e do Cemitério de Arlington, em Washington, por serem negros, mulheres, latinos ou indígenas, assim como sumiram as referências que continham a palavra “gay”.
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As remoções equivalem a um expurgo da memória nacional. Assim, o nome de Medgar Evers, que serviu na Segunda Guerra Mundial e tornou-se ativista dos direitos civis, até ser assassinado em 1963 por um supremacista branco, sumiu da seção do site do cemitério militar em homenagem aos heróis negros das guerras americanas.
O irônico é que o sargento foi reverenciado pelo presidente, em seu primeiro mandato, ao inaugurar o Museu dos Direitos Civis no Mississippi, que se referiu a Evers como inspiração para todos.
“Ele lutou na Normandia na Segunda Guerra Mundial e quando voltou para casa no Mississippi, ele continuou lutando pelos mesmos direitos e liberdade que havia defendido na guerra. Evers se tornou um líder dos direitos civis em sua comunidade”, declarou Trump em 2017.
Das páginas de Arlington, sumiram também os nomes de Colin Powell, o primeiro negro a chefiar o Estado-Maior Conjunto, de Thurgood Marshall, o primeiro juiz negro da Suprema Corte, e de Kara Spears Hultgreen, a primeira brigadeira-general negra da Força Aérea.
Ao assumir o cargo, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, considerou imorais os programas do governo referentes ao DEI (Diversidade, Igualdade e Inclusão) e determinou a atualização do conteúdo digital. Deu nisso.
Os itens sinalizados para excluir as menções ao DEI — 26 mil segundo a agência Associated Press — incluíam um ganhador da Medalha de Honra da Segunda Guerra Mundial, o Enola Gay, o avião que lançou a bomba atômica em Hiroshima, batizado assim em homenagem ao nome da mãe do piloto.
Nesse teatro de absurdos, de acordo com o site Axios, foram eliminadas as referências que consagravam as enfermeiras da Guerra Civil, as mulheres pilotos da Força Aérea, unidades de veteranos negros e um aviador latino que coordenou o apoio à saúde mental.
O Pentágono removeu artigos que se referiam aos codificadores Navajo, que tiveram papel fundamental para a vitória dos EUA em Iwo Jima e nas operações do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial.
O grupo de mais de 400 indígenas desenvolveu um sistema de comunicação baseado em idiomas tribais para transmitir mensagens confidenciais no campo de batalha, impossível de ser decifrado pelo inimigo. O próprio Trump homenageou os codificadores indígenas em seu primeiro mandato na Casa Branca: “Vocês são pessoas realmente incríveis”, disse o presidente, cujo governo agora elimina a referência histórica.
Outra página apagada que causou indignação é a que hospedava a foto icônica de seis fuzileiros navais hasteando uma bandeira em Iwo Jima, em 1945, somente por ressaltar as contribuições de um deles: o soldado indígena Ira Hayes, imortalizado na canção de Johnny Cash.
Veteranos reagiram à censura e ao cancelamento de seus heróis e fizeram o Pentágono recuar em alguns casos. “O mesmo Partido Republicano que corta a assistência médica para veteranos agora decide quem é digno de lembrança. Isso não é patriotismo. É branquear a história”, resumiu o grupo VoteVets.



G1 Mundo