Novo presidente da Petrobras esnobou comitê e teve nome aprovado com ressalvas


Caio Paes de Andrade, indicado para presidência da Petrobras pelo presidente da República, Jair Bolsonaro Foto: Denio Simoes / Valor
Caio Paes de Andrade, indicado para presidência da Petrobras pelo presidente da República, Jair Bolsonaro Foto: Denio Simoes / Valor

 

O novo presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade, foi aprovado por três votos a um pelo Comitê de Pessoas da Petrobras (Celeg), mas com ressalvas pelos três conselheiros que votaram favoravelmente a ele. Segundo a ata da reunião, à qual tive acesso, o currículo de Andrade foi considerado insatisfatório, mas isso não foi visto como impeditivo ao seu nome. Já o voto contrário, do presidente do comitê, Francisco Petros, afirmou que sua experiência está “muito aquém às necessidades de governança e gestão da Petrobras”.

A ata releva que Andrade recusou uma entrevista presencial com o Celeg, para tirar dúvidas sobre sua qualificação. Segundo relatos de conselheiros da empresa, Caio disse que não tinha tempo disponível e que não era obrigado a aceitar, já que estava na condição de convidado. O comitê, então, enviou dois questionamentos ao novo presidente da Petrobras, indicado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. Primeiro, se ele havia recebido orientação de alguém do governo para mudar a política de preços:

“Não tenho qualquer orientação específica ou geral do acionista controlador ou qualquer outro acionista no sentido de alteração da política de preços praticados pela Companhia.”

Depois, se ele gostaria de enviar alguma mensagem que fosse relevante para a avaliação do próprio comitê.

“Não tenho mensagem a enviar nesse momento,” respondeu Caio, de forma breve.

O Celeg emite um parecer, para ajudar o Conselho de Administração, que é quem decide sobre o nome indicado pelo acionista controlador. Essa orientação, portanto, tem um peso político considerável.

A conselheira Ana Silvia Corso Matter, que votou a favor de Caio, disse que é preferível que se tenha experiência na área, ou em área conexa, mas que isso não é uma obrigação legal. Ainda assim, pediu que essa “lacuna” em seu currículo seja avaliada pelo Conselho.

“Não obstante, é importante que os órgãos competentes que irão apreciar, oportuna e posteriormente, a nomeação/eleição do indicado avaliem essa lacuna no currículo do mesmo de não possuir experiência de liderança pretérita em empresa de porte ou objeto social semelhante ao da Petrobras”, afirmou.

Tales Bertozzo Bronzato foi pelo mesmo caminho. Aponta falhas em seu currículo, mas não vê isso como impeditivo. Ainda assim pede que isso seja analisado mais profundamente pelo Conselho de administração.

“(…) Possui formação acadêmica em Comunicação Social, que não se encontra no rol preferencial das alíneas do inciso I, do § 2.º, do artigo 62, do Decreto Federal n.º 8.945/2016, mas possui curso de extensão na conceituada Duke University e MBA em Harvard, cabendo ao Conselho de Administração e posteriormente aos acionistas em Assembleia a ser convocada oportunamente, avaliarem o juízo de evidência do atendimento desses aspectos para o exercício do cargo de Presidente Executivo da Petrobras”, disse.

O conselheiro Luiz Henrique Caroli diz que sua formação não é a “preferencial”, mas que possui cursos de pós-graduação em instituições relevantes, e que isso justificaria o seu nome.

“Embora a formação acadêmica do indicado não seja preferencial, o mesmo possui cursos equivalentes de pós-graduação em instituições internacionais renomadas e respeitadas mundialmente.”

Já Francisco Petros, presidente do Celeg que votou contra, foi direto e enfático:

“A experiência mais constante no tempo e relevante do ponto de vista da formação de conhecimento gerencial do candidato foi realizado em empresas cuja complexidade é substancialmente menor que a da Petrobras. Ademais, uma rápida avaliação dos problemas nos quais está mergulhada a companhia indicam que um candidato com experiência na gestão de grandes empresas e/ou órgãos da administração pública e do Estado é muito necessária. Neste sentido, avalio o candidato sem as aptidões necessárias para o exercício do cargo em vista da interpretação das normas cabíveis”, disse.

O governo fez uma forte pressão política para aprovação de Caio Paes de Andrade, porque quer segurar os reajustes de preços pela Petrobras, como forma de ajudar na reeleição de Bolsonaro. O Comitê de Pessoas, ao que tudo indica, não suportou essa pressão e indicou o seu nome. O fato é que a Lei das Estatais sai enfraquecida nesse processo de escolha, assim como a governança da própria Petrobras.



Jornal O Globo