Nem só preocupados com a beleza vivem os consumidores de cosméticos


Os consumidores brasileiros têm buscado alternativas sustentáveis no mercado de beleza. Segundo pesquisa realizada pela publicitária Keloane Mendes durante o curso de mestrado em Comportamento do Consumidor na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), mais de 60% das pessoas fazem todos os esforços para comprar cosméticos com matérias-primas ecológicas. 

O comportamento reflete uma nova mentalidade: os consumidores não estão apenas preocupados com os resultados estéticos, mas também com o impacto que suas escolhas têm sobre o meio ambiente. 

O estudo ouviu 386 pessoas em todo o país e revelou que a confiança na capacidade das marcas de realizarem ações sustentáveis é um dos principais motivadores do consumo de cosméticos verdes. A confiança ambiental impacta 69% o comportamento de consumo ecologicamente consciente e 54% o consumo socialmente consciente.

Outro estudo, realizado pela Nielsen, aponta que 42% dos consumidores já mudaram seus hábitos de compra com o objetivo de reduzir o impacto ambiental. Além disso, 30% das pessoas estão atentas aos ingredientes dos produtos, e 58% não compram marcas que realizam testes em animais.

O mercado de clean beauty – ou beleza limpa, em tradução livre – tem crescido no Brasil, impulsionado pela busca por produtos mais naturais e sustentáveis, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec)

A tendência rejeita o uso de componentes sintéticos comuns nos cosméticos tradicionais, substituindo-os por ingredientes naturais, veganos e orgânicos, extraídos de maneira responsável da natureza.

O movimento não se restringe apenas à produção de cosméticos, mas se estende a todo o ecossistema de beleza e bem-estar. Clínicas de massagem modeladora em São Paulo, por exemplo, podem adotar óleos vegetais e produtos orgânicos nos tratamentos, oferecendo serviços alinhados com a busca por um consumo mais consciente.

“A forma como as pessoas buscam os produtos para uso pessoal e autocuidado está mudando e há um aumento do engajamento nas escolhas que priorizam a saúde do corpo e do planeta”, informa, em nota, a Abihpec.

Consumidores estão dispostos a investir em sustentabilidade

A disposição dos consumidores em pagar mais por produtos sustentáveis é um dos destaques da pesquisa realizada por Mendes. Os dados do estudo mostram que 60,1% dos entrevistados desembolsam mais de R$ 100 por mês com cosméticos verdes. Entre eles, 24,6% gastam entre R$ 101 e R$ 150, enquanto 11,1% chegam a investir entre R$ 201 e R$ 300.

Mendes destaca que as informações sobre os produtos que indicam uso de matérias-prima ecológicas, como as naturais, orgânicas e veganas, influenciam diretamente na decisão de compra. 

O comportamento do consumidor também se reflete na oferta de serviços estéticos: ao procurar onde fazer depilação em São Paulo, por exemplo, é possível encontrar estabelecimentos que oferecem ceras naturais e veganas, alinhadas às novas exigências dos consumidores.

O mercado global de cosméticos veganos deve ultrapassar a marca de US$ 21 bilhões até 2027, segundo relatório da empresa de pesquisa MarketGlass. A projeção é que o crescimento se dê a uma taxa composta anual de 5,1% nos próximos sete anos.

Confiança e transparência impulsionam o consumo consciente

O estudo realizado por Mendes destaca, ainda, que a confiança na postura ambiental das marcas é um elemento determinante para o consumo de cosméticos sustentáveis. Segundo a professora e orientadora da pesquisa, Luciana Florêncio de Almeida, quanto maior a confiança no comportamento ambiental das empresas, maior é a motivação dos consumidores para adquirir esses produtos. 

Ela avalia que a confiança atua tanto de forma intrínseca, ao sensibilizar o consumidor em relação à importância do consumo consciente, quanto de forma extrínseca, ao validar suas decisões de compra através da credibilidade das marcas. 

Almeida destaca, também, que as empresas do setor cosmético podem implementar estratégias que vão além da escolha de matérias-primas ecológicas. Ela sugere que investir na sustentabilidade do modelo de negócios e, sobretudo, na transparência das ações ambientais, é fundamental para fortalecer a confiança dos consumidores e promover um maior engajamento. 



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