
O amor transformou a dor em ação. Mirtes Renata, a mãe do Miguel Otávio, que morreu em 2020 depois de cair do 9º andar de um prédio de luxo no Recife, postou esta semana uma sessão de fotos para a formatura dela em Direito e anunciou que vai “fazer justiça para outras crianças”.
Na época, ela era empregada doméstica no apartamento de Sari Corte Real, e teve que levar o filho para o trabalho porque estava na pandemia e a creche do filho estava fechada. A patroa, incomodada com os pedidos do menino para ficar com a mãe, que havia saído para passear com o cachorro da casa, deixou que o garoto entrasse sozinho no elevador. Ele subiu até a área da cobertura e caiu lá de cima.
Foram 5 anos difíceis entre o estudo e a saudade do filho: “Transformei lágrimas em força, revolta em coragem e luto em luta, não foi fácil, mas caminhei com o coração cheio de propósito, buscar justiça, não apenas por meu filho, mas por todos que precisam de proteção, respeito e humanidade”, escreveu no post.
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TCC nota 10
Este ano, Mirtes, de 38 anos, apresentou o trabalho de conclusão de curso (TCC) sobre escravidão moderna e tirou nota 10.
Agora, com o canudo de Direito na mão, ela ganha mais instrumentos de luta pela própria família e por outras histórias de violência e injustiça.
“Está perto de encerrar um ciclo que nasceu da maior dor que uma mãe pode sentir, cada dia deste curso de Direito foi movido pela saudade, pela memória, pela força que os movimentos sociais, organizações nacionais e internacionais, pela sociedade civil e pela certeza de que o amor por meu filho jamais será silenciado e que que a justiça seja feita”, escreveu Mirtes no perfil dela no Instagram.
A vida da mãe
Mirtes hoje trabalha durante o dia em função de assessoria na Assembleia Legislativa de Pernambuco
Ela não descola o olhar sobre o andamento do processo, o que considera “moroso” e “racista”.
Ela acredita, inclusive, que o caso só terá uma conclusão depois que chegar ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília.
“O que vem acontecendo hoje é um absurdo. O Tribunal de Justiça de Pernambuco está beneficiando a Sari. Está dando a ela o privilégio de seguir a vida como se nada tivesse ocorrido”, lamentou, em entrevista à Agência Brasil.
Patroa condenada
Entre as queixas, Mirtes cita que a ex-patroa, mesmo condenada, conta com privilégios de não ter o passaporte apreendido e não atualizar informações sobre o endereço de residência. Mirtes ficou inconformada ao saber que, inclusive, Sari está cursando medicina.
Mirtes lamenta também que o processo trabalhista, que demanda indenização para ela, no valor de R$ 2 milhões, foi suspenso.
“Enquanto os processos estiverem no Recife, não serão resolvidos”, disse.
Defesa apelou
Em 2023, após o julgamento de duas apelações, tanto a acusação quanto a defesa apelaram. “Pedimos também a retenção de passaporte, mas o juiz de primeiro grau já negou”, disse a advogada de Mirtes,
A acusação espera que haja aumento de pena. A execução da prisão ocorre depois de esgotados os recursos.
“Mirtes é uma mulher que clama por essa justa reparação do Estado brasileiro. Queremos que a Justiça haja de forma imparcial”.
“Foi um acidente”
O Advogado de defesa, Célio Avelino disse que trabalha pela absolvição de Sarí Corte Real, porque nos argumentos dele, o caso foi um acidente. Ele também acredita que o caso chegará ao STJ.
Enquanto isso, a mãe diz o que representa para ela a formatura em Direito:
“Esse momento simboliza resistência, resiliência e a vontade de fazer do Direito uma ferramenta de transformação. Miguel, seu sorriso iluminou meu caminho e me guiou até aqui. Sigo em frente por você, com você e para você. Justiça é a nossa bandeira, e o amor é o que me mantém de pé”, concluiu Mirtes no post.
Veja o post mãe do menino Miguel, que se forma em Direito após 5 anos de luta:
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