“Inteligência emocional: o segredo para lidar com pressão e conflitos”, por Jalme Pereira


Conta-se que, em um reino montanhoso, havia um vulcão adormecido. Ninguém ousava viver perto dele, pois todos temiam sua força destrutiva.

Um dia, um jovem guardião recebeu a missão de vigiar o vulcão. Ele não podia impedir a montanha de tremer nem o fogo de existir, mas aprendeu a ouvir seus sinais: o cheiro da fumaça, o calor das pedras, o ritmo dos tremores. Com paciência, passou a prever quando a erupção estava próxima e a conduzir o povo para longe, antes que a lava descesse.

Enquanto muitos viam apenas ameaça, o guardião entendeu que a chave não era controlar o vulcão, mas compreender sua natureza.

Assim também é a vida: não podemos impedir que as emoções surjam — mas podemos aprender a reconhecê-las e a direcionar sua força. Esse é o segredo da inteligência emocional.

O que é, afinal, inteligência emocional?

Inteligência emocional é a capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar nossas próprias emoções e, também, de perceber e lidar com as emoções dos outros. Ela envolve autoconsciência, autocontrole, empatia e habilidades sociais, permitindo que transformemos impulsos em escolhas, e pressões em oportunidades de crescimento. É o que nos ajuda a manter equilíbrio em situações de alta pressão, resolver conflitos sem ampliar a guerra e tomar decisões mais assertivas mesmo sob estresse.

Quando falta inteligência emocional

Quando a pessoa não desenvolve essa habilidade, a pressão vira explosão e o conflito vira campo de batalha. Em vez de responder com clareza, a pessoa reage com impulsividade. Em vez de buscar soluções, busca culpados. O resultado? Relações quebradas, decisões ruins e reputação fragilizada.

Por que falta inteligência emocional?

  1. Educação voltada só para o “saber técnico” – fomos treinados para resolver problemas racionais, não para lidar com sentimentos.
  2. Crenças culturais – muitos ainda veem emoção como fraqueza, quando na verdade é combustível.
  3. Falta de autoconhecimento – quem não olha para dentro, não percebe os gatilhos que disparam explosões emocionais.

Impactos da falta de inteligência emocional

  • Perda de credibilidade e confiança.
  • Conflitos que poderiam ser resolvidos viram rupturas.
  • Decisões precipitadas em momentos de pressão.
  • Stress acumulado que leva ao esgotamento.
  • Dificuldade em liderar ou inspirar equipes.

10 sinais de que você não está lidando bem com a pressão e os conflitos

  1. Você perde o controle facilmente quando contrariado.
  2. Leva críticas para o lado pessoal.
  3. Evita conflitos a qualquer custo — ou explode quando eles aparecem.
  4. Sente-se drenado após discussões, mesmo pequenas.
  5. Não consegue separar emoção de decisão.
  6. Costuma reagir impulsivamente e depois se arrepender.
  7. Tem dificuldade em pedir desculpas ou reconhecer erros.
  8. Entra em “modo defensivo” com frequência.
  9. Guarda ressentimentos por muito tempo.
  10. Percebe que sua presença gera tensão em vez de segurança.

Se você concordou com mais de 3 sinais, você precisa trabalhar sua inteligência emocional.

Como desenvolver inteligência emocional no dia a dia

  1. Pratique o autoconhecimento: Reserve alguns minutos do dia para registrar situações que provocaram desconforto, identificar os gatilhos e nomear as emoções. Por exemplo, se em uma reunião o gerente questionou seu prazo com um tom acusatório, isso pode ter gerado vergonha e levado você a se calar. Ao nomear a emoção, ela perde força e você começa a enxergar padrões.
  2. Respire antes de reagir: Essa prática, ajuda a transformar o impulso em escolha consciente. Imagine estar numa reunião, ser interrompido e sentir raiva; em vez de responder de forma brusca, você respira e diz: “Deixa eu terminar, depois eu ouço você.” A pausa protege contra arrependimentos.
  3. Cultive a empatia: Antes de reagir, reflita: o que essa pessoa está tentando alcançar? Que limitações ela enfrenta agora? Se receber um e-mail ríspido pedindo revisão urgente, em vez de devolver no mesmo tom, responda: “Entendo a urgência. O que é mais crítico: prazo ou qualidade?” Esse tipo de atitude abre espaço para diálogo.
  4. Treine o diálogo assertivo: Uma fórmula simples é: observação, sentimento, impacto e pedido. Exemplo: “Na reunião, quando você me interrompeu, senti frustração porque perdi a sequência da apresentação. Pode esperar eu terminar e depois comentar?” Dessa forma, você expõe o que sentiu sem acusar e ainda propõe uma solução.
  5. Reinterprete conflitos: Em vez de encarar como guerra, use-os como oportunidade de entendimento. Faça uma pausa, questione qual é o verdadeiro problema, liste os interesses de cada lado e busque duas opções de compromisso. 

Como vivem as pessoas emocionalmente inteligentes

Elas não são imunes à pressão — mas sabem respirar fundo e responder em vez de reagir. Não evitam conflitos — mas transformam embates em conversas produtivas. Inspiram confiança, porque transmitem equilíbrio mesmo em cenários caóticos. Tomam melhores decisões, pois unem razão e emoção. No fim, essas pessoas constroem não apenas carreiras mais sólidas, mas também relações mais saudáveis e vidas mais leves.

Da próxima vez que sentir o “vulcão” dentro de você prestes a explodir, lembre-se do guardião da fábula: não lute contra o fogo, aprenda a ouvi-lo. Inteligência emocional é isso — transformar calor em força e pressão em clareza. Na próxima situação de tensão, respire, observe, escolha. Essa é a diferença entre ser refém das emoções ou usá-las como ponte para resultados melhores.

Jalme Pereira é músico, palestrante, desenhista e trabalha na Universidade Veiga de Almeida (UVA)
Jalme Pereira é músico, palestrante, desenhista e trabalha na Universidade Veiga de Almeida (UVA)



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