Blindados venezuelanos avançam e atropelam opositores em Altamira

Enquanto blindados da Guarda Nacional Bolivariana reprimiam manifestantes diante da base militar de La Carlota, em Altamira, o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, anunciava pela TV uma tentativa de golpe de Estado “insignificante” na Venezuela, que segundo ele foi “parcialmente derrotada”. Imagens da TV Reuters mostraram pelo menos quatro veículos blindados, um deles em chamas, avançando contra pessoas em frente à base, que fica em um bairro de classe média alta de Caracas,  onde de manhã cedo o  líder opositor da Venezuela Juan Guaidó anunciou “o fim definitivo da usurpação” do poder pelo presidente Nicolás Maduro. Guaidó conclamou os venezuelanos a ir às ruas em apoio ao movimento, e depois falou a uma multidão reunida na principal praça de Altamira.

Segundo Padrino, o coronel Yerzon Jiménez Báez foi baleado no pescoço na rodovia Francisco Fajardo, onde ocorreram os confrontos, e será operado. Pelo menos 52 manifestantes ficaram feridos e foram levados a hospitais da região, uma delas baleada, segundo o site Efecto Cocuyo. Um jovem manifestante também teria sido ferido com um tiro no pescoço e foi levado a um hospital particular. Os manifestantes tentaram marchar para oeste da cidade, liderados por Guaidó, mas foram reprimidos por um contingente da Polícia Nacional Bolivariana e da Guardia Nacional na altura de Chacao, que lançaram bombas de gás lacrimogêneo, e tiveram que recuar. Nessa mesma região, tiros foram disparados de dentro Ministério dos Transportes. Chegaram, então, agentes da polícia de Miranda que atiraram em direção ao prédio, protegendo os manifestantes.

Falando ao vivo da sede do Batalhão de Caracas, o ministro da Defesa afirmou que um grupo reduzido de militares e policiais decidiu sequestrar alguns veículos, armamentos e munições, depois de o autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó , anunciar, ao lado de soldados, o início da operação para depor Nicolás Maduro. Na TV, Padrino assegurou que 80% dos militares retornaram a suas unidades. O metrô de Caracas teve as operações suspensas por medida de segurança. “Este ato de violência foi derrotado. Quase todo esse grupo de uniformizados com armas deixou o distribuidor e foi para a praça Altamira, repetindo 2002, afirmou Padrino, terminando o pronunciamento com a expressão “Chávez vive! Não se chega a Miraflores pela violência. É uma oposição golpista e selvagem”.

Luz Mely Reyes , uma das criadoras do site Efecto Cocuyo e uma das jornalistas mais respeitadas do país, afirmou que segundo fontes, a oposição teria entrado em contato com altos funcionários militares e inclusive com o Tribunal Supremo de Justiça para realizar a Operação Liberdade, que precisou ser adiantada por rumores de que Guiadó seria preso pelo governo. Com a mudança de data, no entanto, os militares recuaram. O líder opositor da Venezuela Juan Guaidó – que em janeiro se proclamou presidente interino com o apoio da Assembleia Nacional de maioria opositora –  publicou no início da manhã desta terça-feira em suas redes sociais um vídeo, gravado próximo à base militar de La Carlota, anunciando “o fim definitivo da usurpação” do poder pelo presidente Nicolás Maduro.

No vídeo postado às 5h47 locais (6h47 no Brasil),  Juan Guaidó aparece cercado de militares, e firma que “hoje valentes soldados acudiram a nosso chamado” e conclama a população a ir às ruas. Desde que se autoproclamou presidente interino, em 23 de janeiro, Guaidó trabalhou para arregimentar membros das forças militares da Venezuela, principal pilar de sustentação de Maduro no poder. Organizou uma operação de ajuda internacional nas fronteiras de Colômbia e Brasil, na esperança de que os soldados deixassem passar as mercadorias e desertassem em apoio à oposição.

Em janeiro, um pequeno grupo de militares se rebelou no quartel da Guarda Nacional de Cotiza, em Caracas, mas acabou reprimido pela força do governo. O regime chavista negou nesta terça-feira que haja grande mobilização de soldados contra si e convocou cidadãos ao Palácio de Miraflores para a defesa do regime. Até o início da tarde desta terça-feira, não estava claro o tamanho da adesão dos militares e da população ao movimento opositor. Em postagem no Twitter, a analista militar venezuelana Rocío San Miguel afirmou que “se desconhece o alcance que poderia ter na Força Armada o apoio a Guaidó e a Maduro. Não há sinais de fraturas em unidades com poder de fogo”. Em entrevista, Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela, disse que Maduro mantinha o controle da situação.

Horas depois publicar o vídeo, por volta de 10h30 locais (11h30 em Brasília), Guaidó foi até a praça Altamira, a poucas quadras da base de La Carlota, e, falando em um megafone do alto de uma caminhonete, dirigiu-se à população. – A maioria das pessoas está na rua exigindo mudanças. O povo precisa de uma mudança de Constituição e de governo – afirmou. – Chamem a todas as pessoas para que venham para cá, que vamos resistir e ser bem-sucedidos. Chamem a todos para que venham para Altamira e a Operação Liberdade. O chamado é para os poucos militares que, por perseguição, por medo, não terminam de dar o passo. Resistiremos a partir daqui.

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