Estudos realizados pelo próprio Estado apontam que erosões costeiras nas praias do Massaguaçu, Maranduba, Dura, Lázaro, Toninhas e Praia Grande inviabilizam obras a beira mar
Por Salim Burihan
A duplicação da rodovia Rio-Santos, entre Caraguatatuba e Ubatuba, cujos estudos foram iniciados pelo Governo do Estado e a Concessionária Tamoios, está causando uma polêmica danada na região. Nas redes sociais, tem gente contra a duplicação junto a orla e, outros, a favor. Especialistas ambientais, do próprio Estado, recomendam que obras junto a orla devem ser evitadas no trecho entre a Massaguaçu, em Caraguatatuba e a Praia Grande, em Ubatuba, por causa da erosão costeira.
É bom deixar claro, que ninguém é contra a duplicação. A obra é realmente necessária devido ao crescente aumento do turismo na região. O que boa parte dos moradores e veranistas da costa norte de Caraguatatuba reivindicam é que o novo traçado não seja feito na orla de Massaguaçu, devido a constantes erosão que atinge essa praia, que coloca em risco qualquer tipo de obra a beira mar.
Moradores e veranistas entendem que devido as constantes de erosões provocadas pelo avanço do mar e os estudos realizados por renomados pesquisadores do próprio estado, o novo traçado da duplicação deveria ser executado fora da orla, como foi feito no Contorno Sul, na nova ligação entre Caraguatatuba e São Sebastião.
O próprio Estado conhece esses riscos (das erosões), por isso mesmo, recebeu os estudos feitos pela Concessionaria Tamoios e está revendo todo o projeto, que inicialmente previa a duplicação da rodovia junto a orla da praia de Massaguaçu, na região norte de Caraguatatuba.
O Estado já teria investido mais de R$ 50 milhões em obras de contenção na Rio-Santos, apenas no trecho de Massaguaçu, nos últimos 30 anos. Anualmente, a cada ressaca mais forte, parte do acostamento ou trechos da rodovia, são afetados pelo avanço da maré, colocando em risco a estrada. E, novas obras de contenção são executadas.
O Estado de São Paulo realiza estudos sobre erosão costeira desde 1992, quando foi iniciado um monitoramento sistemático de indicadores de erosão costeira nas praias paulistas. O primeiro Mapa de Risco à Erosão Costeira foi publicado em 2002 e, desde então, é atualizada a cada 5 anos. A avaliação é feita com base em indicadores de erosão costeira.
O Mapa é elaborado pela Dra. Celia Regina de Gouveia Souza, Pesquisadora Científica do IPA(Instituto de Pesquisas Ambientais) do Governo do Estado, ligado a Semil(Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística), que classifica as praias em cinco classes de riscos: Muito Alto, Alto, Médio e Baixo.
Na última atualização realizada em 2023, vários trechos da Rio-Santos, entre Caraguatatuba e Ubatuba, aparecem com avaliações Muito Alto, Alto e Médio, em função do número de indicadores de erosão costeira crônica.
O traçado inicial da duplicação da Rio-Santos, feito pela Concessionária Tamoios, em Caraguatatuba, aparecem com avaliação ALTO RISCO, para erosão costeira crônica, os trechos das orlas das praias Massaguaçu, Mococa e Tabatinga.
No município de Ubatuba, o Mapa de Erosão, também, alerta sobre os riscos de erosão em trechos da duplicação previstos nas orlas da Maranduba(RISCO MUITO ALTO), Dura(RISCO MUITO ALTO), Lázaro(ALTO RISCO), Enseada(RISCO MUITO ALTO), Toninhas(ALTO RISCO), e Praia Grande(RISCO MÉDIO).
Os estudos da Dra. Célia, que são do próprio Estado, reforçam o conceito defendido pela sociedade civil, de que a Rodovia não deveria ser duplicada na Massaguaçu, onde o processo erosivo crônico já está bem mais adiantado e sem reversão. As praias de Tabatinga, Mococa e Massaguaçu estão classificadas como de alto risco.
“Os estudos do IPA são sérios e científicos, os pesquisadores são pagos pelo Estado com o imposto dos cidadãos e devem obrigatoriamente ser considerados antes de qualquer definição de uso do solo. Precisamos vontade e ética política para evitar mau uso do dinheiro público além de expor a população a riscos”, alerta o ambientalista Eduardo Leduc Conselheiro do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente).
Em Caraguatatuba e Ubatuba, as prefeituras, através do projeto Orla, devem ordenar a ocupação, acesso, preservação e também a recuperação dessas áreas incluídas no Mapa da Erosão Costeira. Além, da própria duplicação da Rio-Santos, as prefeituras devem avaliar com rigor as aprovações de prédios a beira mar (entre a praia e a rodovia) nesses trechos ameaçados constantemente pelos avanços do mar.
Massaguaçu
No trecho da Rio-Santos na orla de Massaguaçu, em Caraguatatuba, as erosões ocorrem desde o início da década de 80, devido ao avanço do mar. Na década de 90, um quiosque foi derrubado pelo avanço do mar. Logo em seguida, o trevo de acesso ao Sertão dos Tourinhos, às margens da Rio-Santos, foi destruído pela erosão costeira.
No final da década de 90, o acostamento e parte da Rio-Santos, no trecho entre os quilômetros 89 e 92, foram destruídos pelo avanço do mar. Em 2006, o DER(Departamento de Estrada de Rodagem) construiu um muro de contenção ao longo de dois quilômetros da praia. A obra, custou na época em R$ 1,3 milhões.
Em 2011, o governo do estado investiu R$ 3 milhões em novas obras de contenção na orla de Massaguaçu, conhecida como proteção de talude, as obras executadas pela empreiteira Compec Galasso, de nada adiantaram, pois alguns meses depois, a maré derrubou tudo de novo. O Estado refez a obra de contenção, gastou mais dinheiro e novamente, o “muro” construído acabou parcialmente sendo derrubado pela força da maré.
Acredita-se que nos últimos anos o estado já tenha investido mais R$ 50 milhões para conter a erosão provocada pelo avanço do mar na orla do Massaguaçu. Apenas em 2021, foram executadas obras avaliadas em R$ 9 milhões para construção de muro de arrimo para impedir que o mar colocasse em risco rodovia Rio-Santos. As obras no trecho foram retomadas em 2022, 2023 e 2024.
Causas
A doutora e pesquisadora científica Célia Regina de Souza, que foi quem criou e coordena o Mapa de Risco à Erosão Costeira, em entrevista ao Notícias das Praias, em 2024, contou que entre as causas do avanço do mar nas praias de Caraguatatuba está a elevação do nível do mar que vem ocorrendo em todo o mundo.
Célia Regina explica, que o avanço do mar ocorre devido as condições naturais e antrópicas (intervenção humana). “Com a elevação dos oceanos, o mar avança em direção as praias, procurando ocupar a faixa de areia. Isso ocorre com as marés altas e ressacas. A praia é uma espécie de barreira física natural. Como existem construções, principalmente, em praias urbanas, elas impedem o mar de se acomodar, a maré procura ocupar outros espaços”, explicou.
Segundo ela, a ressaca ou maré alta, impedida de ocupar a orla natural, retira areia de um local e leva para o fundo marinho ou outro trecho da orla. A doutora Célia Regina de Gouveia Souza se posiciona contra as obras de contenção feitas com concreto(rígidas). Segundo ela, o mar vai continuar avançando atingindo outros trechos da praia que não possuí contenção.
Notícias das Praias