Enquanto o G20 acontece, moradores do Jardim Maravilha seguem sem saneamento básico há mais de 70 anos


Enquanto líderes mundiais se reúnem para debater questões globais no G20 Social, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, os moradores do Jardim Maravilha, na Zona Oeste da cidade, enfrentam uma realidade muito distante das discussões sobre progresso e sustentabilidade. Sem acesso a saneamento básico e esgoto, a comunidade vive há mais de sete décadas abandonada pelo poder público.

A chuva que trouxe transtornos para turistas e moradores na região central intensificou ainda mais os problemas do Jardim Maravilha. Ruas alagadas e esgoto a céu aberto transformam o cotidiano da comunidade em uma luta constante pela dignidade.

“Aqui, a gente vive como se fosse invisível,” desabafa Maria do Socorro Silva, de 64 anos, moradora do bairro desde que nasceu. Segundo ela, as promessas de melhorias nunca saíram do papel.

Recursos anunciados, realidade ignorada

O sentimento de abandono é ampliado pela frustração com os investimentos prometidos e não realizados. Em ocasiões anteriores, a Prefeitura anunciou recursos que somam mais de R$ 1,6 bilhão — provenientes da venda da Cedae, de um empréstimo com o Banco do Brasil e do PAC 2024. Apesar disso, nenhuma melhoria estrutural foi implementada na comunidade.

“O esgoto corre na frente da minha casa, e quando chove, tudo volta,” relata José Roberto, de 45 anos, pai de três crianças. Ele questiona o destino do dinheiro anunciado: “Se tudo isso foi liberado, por que continuamos vivendo assim?”

Contraste com o G20

A apenas 50 quilômetros de distância, o G20 Social atrai multidões para eventos no Museu do Amanhã e na Praça Mauá. Enquanto turistas e autoridades discutem desenvolvimento sustentável e justiça social, comunidades como Jardim Maravilha personificam a disparidade entre os discursos e a prática.

Cleuma Rocha, moradora de Guaratiba e participante ativa de movimentos sociais, acompanhou de perto as atividades do G20. “É importante discutir soluções globais, mas o que falta é trazer essas soluções para o nosso dia a dia. O Jardim Maravilha, por exemplo, não pode esperar mais,” ressalta.

Um futuro incerto

Sem respostas concretas ou intervenções do poder público, os moradores do Jardim Maravilha seguem resistindo. “Só queremos o básico: água limpa, esgoto tratado e um lugar digno para viver,” finaliza Maria do Socorro.

Enquanto o G20 acontece sob holofotes internacionais, a dura realidade das periferias brasileiras é um lembrete de que as promessas de mudança precisam alcançar aqueles que mais necessitam.



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