Conheça detalhes da bactéria “Comedora de Carne” que supostamente causou uma morte em Ubatuba – Notícias das Praias


A Sabesp informou que tentará identificar a origem da contaminação; a Cetesb ainda não se manifestou sobre o assunto que ganhou grande repercussão na cidade de Ubatuba e região

 

Por Salim Burihan

 

Um homem, de 30 anos, morreu em Ubatuba, no dia 28 de abril, segundo seu pai, Domício Silvestre Gomes, após ter supostamente adquirido uma bactéria conhecida como “bactéria comedora de carne” durante mergulhos na praia do Perequê-Mirim. A notícia da morte pela suposta bactéria assustou os moradores de Ubatuba e região. A Sabesp informou que tentará identificar a origem da contaminação. A Cetesb ainda não se manifestou sobre o assunto.

 

O médico Pedro Norberto dos Santos, de Caraguatatuba, que além de graduação em medicina, também, tem graduação em Ciências Biológicas, enviou ao Notícias das Praias, informações importantes sobre a bactéria que supostamente teria causado a morte do morador de Ubatuba.

 

Segundo Pedro Norberto, a bactéria “COMEDORA DE CARNEO ” é um Víbrio chamado Vulníficus tem um aspecto microscópico parecido com pepinos verdes. É considerado uma BACTÉRIA e conhecida como ” BACTÉRIA COMEDORA DE CARNE” porque produz substâncias que destrói os tecidos provocando o que chamamos de “FAISCEITE NECROTIZANTE”.

 

O médico explica que a bactéria vive em águas costeiras, mais comuns entre os meses de maio e outubro, quando as águas estão mais quentes, estas bactérias podem provocar infecções intestinais graves quando da ingestão de MOLUSCOS; principalmente ostras  cruas ou mal cozidas, podendo infectar lesões ou feridas de banhistas  ou mesmo cortes recentes nas areias das praias  ou no próprio  mar; tatuagens recentes é uma porta aberta para esta bactéria.

 

“Toda suspeita de infecção por esta bactéria devem ser tomadas medidas urgentes, porque sua proliferação é rápida e pode ser mortal, principalmente em pessoas com problemas do fígado que aumentem o conteúdo de FERRO no sangue, porque ela se nutre deste metal para se reproduzir rapidamente. Porém, ela é altamente sensível ao TRATAMENTO PRECOCE COM ANTIBIÓTICOS”, alerta Pedro Norberto.

 

Relembre

 

A suposta presença da bactéria “comedora de carne” em uma praia de Ubatuba foi comunicada a partir de uma denúncia  feita por morador de Ubatuba, através da tribuna da Câmara Municipal de Ubatuba, na última terça-feira, da 13. O filho dele, de 30 anos, teria morrido após contrair a bactéria na praia do Perequê-Mirim.

 

Domício Silvestre Gomes

Na sessão da Câmara Municipal de Ubatuba, Domício Silvestre Gomes(Foto), morador do bairro do Perequê-Mirim, contou aos vereadores presentes à sessão, que seu filho, um marinheiro, de 30 anos, que trabalhava em uma marina na praia do bairro, havia morrido no dia 28 de abril deste ano, após contrair a bactéria Fasceíte Necrosante, conhecida popularmente como “bactéria comedora de carne”

 

 

Segundo Domício, a bactéria seria proveniente do esgoto despejado nos rios do bairro, que deságuam diretamente no mar, sem tratamento adequado. O pai relatou aos vereadores, que seu filho apresentou os primeiros sintomas no dia 22 de abril e no dia 25, procurou atendimento na santa casa da cidade. Ele teria retornado no dia 27 e acabou falecendo no dia seguinte, 28 de abril.

 

Emocionado, ao ocupar a tribuna da Câmara, seu Domício cobrou providências das autoridades locais, entre elas, a Câmara de Vereadores, a Prefeitura Municipal e a Sabesp para que haja um maior controle sanitário no município.  “No Perequê-Mirim, temos várias marinhas e dois rios que lançam o esgoto na praia. A Sabesp está jogando esgoto dentro do rio. Isso tem que parar. Quantas pessoas mais vão precisar morrer para que alguém tome providência. Meu filho mergulhava para pegar as poitas, para limpar os barcos, meu filho nunca precisou ir num médico…Hoje, vim aqui, para que essa casa olhe por nós, pelo amor de Deus…”, cobrou.

 

Segundo ele, o filho teria sido a quarta vítima fatal em Ubatuba da bactéria Fasceíte Necrosante, conhecida popularmente como “bactéria comedora de carne”. A partir do pronunciamento de seu Domício na sessão de terça-feira(13) na Câmara de Ubatuba, o Notícias das Praias entrou em contato com a Sabesp e Cetesb cobrando informações sobre o saneamento básico no município sobre a presença da bactéria nas praias da cidade.

 

Segundo dados do IBGE, de 2022, Ubatuba conta com uma população de 92.981 habitantes distribuída em 31.010 domicílios, sendo que 58,26% dos domicílios, ou seja, 54.171 habitantes não são atendidos pela coleta e tratamento de esgoto. Em Ubatuba, 36,01% da população afasta seus esgotos por meio de rede geral, rede pluvial ou fossa ligada à rede. 39.900 utilizam fossa séptica ou fossa filtro não ligada à rede e 317 com outras soluções.81 habitantes em Ubatuba não têm banheiros nem sanitários.

 

A Cetesb foi procurada para comentar o assunto e esclarecer se a bactéria pode ser adquirida nas praias da cidade. A companhia ainda não se manifestou sobre o assunto. Segundo os boletins de balneabilidade divulgados pela companhia, em 19 semanas deste ano, a praia do Perequê-Mirim esteve imprópria para uso em nove delas. Em 2024, nas 52 semanas do ano, a praia esteve inadequada para banho em nove semanas. A poluição na praia seria causada pela presença de esgoto doméstico.

 

Em seus canais de divulgação, a Cetesb informa que   a água marinha contaminada por esgoto pode transmitir diversas doenças, como gastroenterite, disenteria, hepatite A, cólera e febre. Outras doenças de veiculação hídrica incluem diarreia por Escherichia coli, amebíase, leptospirose, esquistossomose e febre paratifoide. 

 

A Cetesb recomenda aos banhistas evitar o banho de mar em praias classificadas como Impróprias;  tomar banho de mar nas primeiras 24 horas, após chuvas intensas; banhar-se em canais, córregos ou rios que afluem às praias e trechos próximos a eles, pois estes estão sujeitos ao aporte de carga difusa e lançamentos irregulares de esgotos domésticos; e, engolir água do mar, com redobrada atenção para com crianças e idosos, que são mais sensíveis e menos imunes do que os adultos.

 

A Sabesp se manifestou sobre o pronunciamento feito por seu Domício, na sessão da Câmara de terça-feira, dia 13. A Sabesp afirmou que lamenta profundamente o falecimento do filho do sr. Domício Silvestre Gomes e se solidariza com a família e os amigos. A Companhia adiantou que fará todo o possível para contribuir com os órgãos responsáveis pela identificação da origem da contaminação e da causa do óbito.

 

A empresa informou ainda que está comprometida com a expansão da rede de saneamento básico em Ubatuba, incluindo a região do Perequê-Mirim, onde estão em andamento as obras do Sistema de Esgotamento Sanitário. O investimento no sistema do Perequê-Mirim é de R$ 45,7 milhões

 

Segundo a Sabesp, a região já conta com 73% de rede coletora instalada e, até 2026, terá o sistema completo, com a entrega da Estação de Tratamento de Esgoto e das tubulações remanescentes. O projeto contempla cerca de 15 quilômetros de redes coletoras de esgoto, 1.251 ligações domiciliares e 6 estações elevatórias. A infraestrutura beneficiará mais de 10 mil pessoas. Em toda a cidade de Ubatuba, até 2029, a Companhia irá investir R$ 593 milhões em obras de saneamento.

 

Segundo a Sabesp, a qualidade das praias depende de diversos fatores, além da infraestrutura de saneamento básico, como o combate à poluição difusa. Portanto, preservar o meio ambiente e saúde de todos é um trabalho conjunto entre diversos órgãos e empresas.

 

A coordenadora ambiental do Tamoio de Ubatuba, Lidi Keche, se manifestou através das redes sociais sobre o pronunciamento feito por Domício Silvestre Gomes.  “A dor desse pai ecoa em outras famílias, pois, segundo ele, não foi um caso isolado. Ao menos quatro vidas foram ceifadas por essa mesma condição. Sua narrativa, repleta de angústia, expressava a frustração de um cidadão que vê o descaso político como um obstáculo à cura não apenas das águas, mas da própria sociedade. Ele denunciava a negligência que transforma a água suja em um veneno letal, capaz de provocar não apenas doenças, mas a morte”, comentou.

 

Segundo Lidi, há anos o Tamoio de Ubatuba luta contra a contaminação das águas, alertando sobre os riscos à saúde pública. “No entanto, a realidade se impõe de maneira cruel: o sofrimento de moradores que dependem dessas águas para viver se materializa em relatos de dor e perda. Fantasmas que se manifestam em bandeiras vermelhas, simbolizando a urgência de uma situação que não pode mais ser ignorada”, alegou.

Lidi finalizou afirmando que “estamos diante de um verdadeiro filme de terror, onde a fascite necrosante, uma infecção devastadora, se torna um símbolo da tragédia que se repete. A água, elemento essencial à vida, se transforma em um agente de morte, e cada relato de um ente querido perdido é um lembrete sombrio da responsabilidade que temos em zelar por nossos recursos hídricos e pela saúde da população. É hora de agir, de mudar essa narrativa e enfrentar os fantasmas que nos assombram. A cura das águas é, sem dúvida, a cura para a nossa sociedade”.

 



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