Conheça a história do empresário que construiu a sua própria praia em Ubatuba – Notícias das Praias


Uma pequena praia construída por um empresário da capital na década de 80 na região norte de Ubatuba tem sido uma das mais visitadas no litoral norte. Conhecida como praia do Português, em homenagem ao seu criador e vizinha ao Félix, ela surgiu após o desmonte das rochas de uma costeira. Foto: Seu Humberto e dona Conceição admirando a pequena praia. Fotos: Arquivos da família

 

Por Salim Burihan

 

Uma pequena praia do litoral norte paulista vem encantando nos últimos anos veranistas e turistas que frequentam a região. A praia, com cerca de 25 metros de extensão, tem águas claras e mansas, ideal para o banho de mar, principalmente, durante o verão.

 

Apesar de ser um das mais visitadas em Ubatuba e na região, essa praia, na verdade, não existia até o final dos anos 70, quando foi “construída” por um empresário paulista. Entre as centenas de belas praias existentes ao longo do litoral norte paulista, essa seria a única “praia artificial” na região.

 

Estamos falando da praia do Português, também, conhecida como prainha do Félix, que fica na região norte de Ubatuba. Apesar da dificuldade de acesso, a praia do Português, é muito visitada, segundo a Secretaria de Turismo do município.  Até mesmo, o Governo do Estado, “pegou carona” no sucesso da praia e usou a imagem do local no vídeo que divulgou a retomada do turismo no Litoral Norte após a tragédia das chuvas de fevereiro de 2023.

 

Há muitos anos se comentava que a praia do Português não existia e teria sido “construída ou aberta” por um veranista que residia em frente a uma costeira. O Notícias das Praias decidiu pesquisar a verdadeira história dessa praia, que tanto encanta veranistas e turistas.

 

O portal ouviu pescadores e moradores antigos; localizou no interior da Bahia, o profissional que “cortou” a costeira para abrir a praia; e,  conseguiu identificar o empresário que encomendou o “desmonte das rochas” para que pudesse apreciar  mar,  que infelizmente, faleceu em 2020, mas obteve através de um de seus filhos a incrível história do homem que mandou construir a sua própria praia.

 

Surge a nova praia 

 

Para seu Humberto, a encosta do Félix, em Ubatuba,  lembrava em muito a região onde tinha nascido e morado na Ilha da Madeira, em Portugal

 

A praia leva o nome de “Praia do Português” em homenagem ao empresário Humberto de Souza Carvalho, nascido na Ilha da Madeira, em Portugal.

 

Foi ele, quando empresário na capital paulista e veranista em Ubatuba, construiu a pequena praia que fica no canto direito da praia do Félix, região norte de Ubatuba, no final dos anos 70. Seu Humberto, faleceu em 2020, aos 97 anos. .

 

Quem nos contou essa incrível história foi um de seus filhos, Wilson Vieira Carvalho, que frequenta Ubatuba e mantém casa de veraneio na praia do Félix, na região norte de Ubatuba.

 

Wilson conta que seu pai nasceu na Ilha da Madeira, em Portugal e que mudou para o Brasil com 14 anos de idade, se estabelecendo na capital paulista. Seu Humberto trabalhou durante boa parte da vida até tornar-se proprietário de vários comércios e de um hotel na capital.

 

“Em 1976, meu pai decidiu percorrer o litoral paulista de carro. Em Ubatuba, se encantou com a região da praia do Félix, porque lembrava muito da Ilha da Madeira, em Portugal, onde tinha nascido e passado a sua infância e parte da adolescência”,  lembra Wilson.

 

Segundo ele, que na época com 17 anos acompanhou o pai na viagem pelo litoral paulista,  seu Humberto decidiu comprar dois lotes no loteamento do Félix, hoje, transformado em um dos condomínio mais valorizados de Ubatuba.

 

Wilson, hoje com 65 anos, recorda ainda que logo após a compra dos dois lotes, seu Humberto começou a construção da casa de veraneio da família.  A praia do Félix, nesta época, ainda era bem deserta e considerada um dos melhores “points” para a prática do surfe em Ubatuba e no Litoral Norte Paulista.

 

Após a construção da casa de veraneio em 1977, seu Humberto decidiu “abrir um espaço na costeira” e ter a sua própria praia. A abertura da praia não foi nada fácil e durou cerca de um ano.

 

Quem conta é o caiçara Líncon dos Santos, que na época, trabalhava com extração de granito nas encostas de Ubatuba e foi contratado por seu Humberto para fazer a “obra”.

 

Líncon, na época, era considerado um dos melhores “cabo de fogo”, profissional que trabalhava na extração de granito em Ubatuba e região.

Hoje, aos 70 anos, é considerado um dos profissionais mais especializados e credenciado pelo Exército para trabalhar na extração de rochas.

 

Líncon, se aprimorou, fez vários cursos e, hoje, é um “blaster”, encarregado de organizar e conectar a distribuição e disposição dos explosivos e acessórios empregados no desmonte de rochas. Atualmente, trabalha na Bahia.

 

Conseguimos localizar Líncon trabalhando na cidade de Itapetinga, na Bahia, que fica a 1.780 quilômetros de Ubatuba. Líncon dos Santos, na época, quando foi contratado pelo seu Humberto, tinha 23 anos de idade e vivia em Ubatuba.

 

Ele se recorda direitinho quando no final da década de 70 esteve na casa de veraneio do seu Humberto para ser contratado para abrir a costeira e deixar um espaço para a praia.

 

Ele conta, que na época, ainda jovem, ficou impressionado com o tamanho da casa e a quantidade de quartos da casa de veraneio do seu Humberto.

 

“A casa de veraneio já existia. Era enorme, mas não tinha acesso para a praia, apenas para a costeira. Seu Humberto me contratou para “abrir” a costeira e fazer uma praia no local”, contou.

 

Segundo ele, foi um trabalho muito difícil e bastante demorado. “Trabalhei durante um ano na costeira. Perfurava e cortava as rochas durante todo o dia por quase 12 meses seguidos.

 

A “obra”, segundo ele demorou tanto tempo porque ele só podia fazer o corte na costeira das encostas da praia do Félix durante a maré baixa. “Na maré alta, isso era impossível, não tinha como trabalhar. Tinha que aguardar a maré baixar novamente para continuar”, explicou.

 

Ele contou que, em alguns casos, a perfuração de rochas precede a inclusão de explosivos para auxiliar no processo do desmonte, mas que não utilizou dinamite ou explosivos para agilizar a retirada das rochas na costeira do Félix.

 

Segundo ele, o seu Humberto teria obtido autorização da Marinha para retirar as rochas. Naquela época,  segundo Líncon, não havia a necessidade de autorização ambiental ou estudo de impacto ambiental para este tipo de trabalho. “Essas exigências chegaram alguns anos depois.”, alegou.

 

Ele não revelou quanto recebeu pela “obra” que durou um ano de seu trabalho, mas que o seu Humberto pagou direitinho pelo serviço por ele prestado.

 

Lincon não se recorda quantas toneladas de pedras foram retiradas das encostas para surgir a nova praia. Ele explicou que usou uma máquina pá carregadeira para retirar as pedras cortadas e que a maré foi aos poucos trazendo a areia e formando a praia.

 

Wilson, filho do seu Humberto, que disse ter acompanhado todo o desmonte da costeira do Félix, lembra direitinho quantas toneladas de rochas foram removidas das encostas.

 

“Foram retirados cerca de 150 caminhões de rochas extraídas da costeira”.  Segundo ele,  na ocasião, para a remoção das pedras cortadas da costeira foram utilizados um trator, um guincho e um cabo de aço.

 

“Depois da retirada das pedras, meu pai chegou a colocar dois caminhões de areia, mas a maré veio e levou tudo. Com o tempo, a areia foi sendo reposta pelo mar”, contou.

 

Wilson conta ainda, que seu pai, seu Humberto, tinha um  carinho especial pela pequena praia aberta na costeira. Ele e sua esposa, dona Conceição, plantaram bromélias, gramaram o local e colocaram dois bancos feitos de pedras”, lembra o filho.

 

Wilson recorda que a “construção ” da pequena praia acabou trazendo problemas para o pai,  que teria sido multado e autuado pelos órgão ambientais.

 

Seu Humberto e dona Conceição gostavam de ficarem sentados na pequena praia observando a beleza do lugar. O casal, já falecido, possuía muitas fotos os dois juntos ou apenas seu Humberto, sentados na praia observando o mar ou a paisagem do lugar.

 

Os pais faleceram e a casa de veraneio ficou com a irmã de Wilson, Sandra Vieira Carvalho. Apesar do acesso até o local ser feito apenas pelas encostas da praia do Félix, a praia do Português não é uma praia exclusiva da família Vieira Carvalho ou particular e pode ser visitada por todos.

 

“Meu pai nunca considerou a praia aberta por ele como se ela fosse de uso exclusivo da família. As pessoas não podiam e não podem acessar o local pela propriedade da família, através do condomínio, mas a praia é pública”, explica Wilson.  O excesso de visitantes, no entanto, tem causado muitas preocupações e colocado a praia em risco.

 

Segundo Wilson, a família pretende criar algumas regras para preservar a pequena praia. “Já danificaram os bancos de pedra feitos por meu pai, retiraram as plantas e deixam muito lixo espalhados, inclusive, na costeira”, lamentou.

 

Ele conta que após cada domingo retira em média dois sacos de lixo das areias e da costeiras da praia. Cada saco de 100 litros, ficam lotados de latinhas, plásticos e coisas que os banhistas abandonam pela areia e costeira.  “Se a gente não criar algumas regras, logo, logo a praia ficará inviável”,  justifica Wilson.

 

Segundo ele, como a praia não possui quiosques para venda de alimentos e bebidas, alguns barqueiros aproveitam para oferecer esses produtos aos visitantes. ” Não tem espaço suficiente na areia para instalar um quiosque. Na faixa de areia, que é reduzida, queremos limitar também o uso de guarda sóis e barracas”,  explica Wilson.

 

A presidente da Sociedade Amigos da Praia do Félix, Sílvia Chile, confirma que a praia vizinha ao loteamento vem sendo cada vez mais procurada por turistas.  Segundo ela, até passeios de lanchas e escunas vem sendo explorados no local e a quantidade de lixo retirada da praia nos fins de semana, aumenta cada vez mais.

 

Praia do Português

 

Apesar de ter sido “aberta” no inicio dos anos 80- com a maré depositando a areia e formando a praia, a Praia do Português era muito pouco conhecida por causa das dificuldades de acesso. Com o passar dos anos e com as redes sociais, a pequena praia foi ganhando fama e cada vez mais visitantes.

 

 

 

Antes, existia apenas a costeira
No início da década de 80, parte da costeira foi aberta e surgiu a pequena praia do Português

Para poder contar a história do homem que construiu sua própria praia em Ubatuba no litoral norte paulista, entrevistamos muitas pessoas para provar que a praia realmente não existia e foi aberta no final dos anos 70.

 

Uma das pessoas que mais colaboraram nessa história toda foi Jaur Carpinetti, um dos mergulhadores mais antigos e conceituados de Ubatuba, hoje com 70 anos. Ouvimos também, um ex-prefeito, o Paulo Ramos e um jornalista, Sérgio Moradei.

 

Segundo eles, Ubatuba tem mais de 100 praias e a do Português seria a  única “artificial” que existe no município. Mesmo assim, quem a visita desconhece que a praia não é natural, devido a sua beleza e charme.

 

O mergulhador e chef caiçara Jaur Carpinetti, de 70 anos, conta que nos anos setenta praticava mergulho  nas encostas onde fica hoje a praia do Português, mas que naquela época não existia a praia, apenas a costeira.

 

“Era apenas uma costeira, não existia praia. Mergulhava a noite e capturava com as mãos,  lagostas e polvos. A praia foi “construída” com a retirada de parte da encosta”, conta Jaur. Foi ele quem conseguiu lembrar o nome de Líncon dos Santos e conseguiu o contato dele com a família para que a reportagem entrasse em contato e o entrevistasse.

 

O ex-prefeito da cidade, Paulo Ramos, de 66 anos, nascido e criado em Ubatuba, também confirma que essa praia não existia até o início da década de 80. “Sou nascido e criado em Ubatuba, conheço as praias de norte a sul do município, essa praia não existia até o final dos anos 70”, contou.

 

Ramos que foi vereador de 82 a 88; vice-prefeito entre 88 e 92 e prefeito de 92 a 96 e novamente de 2001 a 2004,  conta que, na verdade,  Ubatuba tem 106 praias, porque algumas delas só aparecem na maré baixa, como é o caso da praia Brava de Itamambuca.

 

“Ubatuba tem hoje 106 praias, mas algumas delas só aparecem na maré baixa, como é o caso da praia Brava de Itamambuca. A praia do Português é diferente, é artificial. Foi construída pelo dono do terreno que mandou “abrir” a costeira para ter um espaço em frente ao mar”, comentou. 

 

O jornalista Sérgio Moradei, hoje com 65 anos, que foi secretário de Comunicação da prefeitura de Ubatuba entre 1989 e 1992, na administração do prefeito José Nélio de Carvalho, conta que a praia do Português não era conhecida e nem divulgada pela prefeitura naquela época.

 

“Ninguém conhecia essa praia, que foi feita pelo veranista, dono do terreno em frente a costeira, talvez, pela dificuldade de acesso ao local. A praia ficou bastante conhecida nos últimos cinco anos devido as selfies e vídeos no Youtube postados por turistas que visitam a praia. Hoje, a praia tá bombando, é uma das mais visitadas da cidade”, disse Moradei.

 

A praia

 

Praia do Português, surgiu na década de 80 após “corte” de parte da costeira. Foto: Site Curiosidades de Ubatuba

 

A praia está entre as mais visitadas da cidade, segundo o diretor de turismo de Ubatuba, Rodrigo Silva. Segundo ele,  a prainha do Félix, também conhecida como praia do Português, ficou muito conhecida nos últimos anos através das redes sociais. “As praias do Félix, das Conchas e do Português estão entre as mais atrativas de Ubatuba”, comentou Rodrigo.

 

A praia do Português recebe a cada dia mais e mais visitantes. Segundo o Centro de Informações turísticas da Prefeitura de Ubatuba, a praia esteve entre as mais procuradas da cidade no verão passado. O centro recebe em média cerca de 150 pessoas por dia durante a temporada.

 

A praia do Português fica aa 16 quilômetros do centro da cidade e o acesso é feito pela rodovia Rio-Santos até o Condomínio do Félix, onde os turistas deixam seus carros em um estacionamento para irem até a praia do Português.

 

É uma praia pequena, de cerca de 25 metros de extensão e fica no lado direito da praia do Félix. A largura da faixa de areia varia de acordo com a maré. Quando a maré está rasa a praia chega ter 15 metros de faixa de areia. Na maré cheia, o espaço de areia é bem reduzido. No local, não existe quiosque ou qualquer tipo de comércio para se consumir bebidas ou alimentos.

 

O acesso até a praia do Português é feito por uma trilha de cerca de 70 metros, através da costeira, que divide as duas praias. É recomendável fazer o trajeto durante a maré baixa, pois durante a maré alta, o risco é maior, principalmente, para idosos e crianças.

 

Pela propriedade particular é proibido o acesso até a praia. O ideal é deixar o carro em um estacionamento no Félix e seguir a pé até a praia. A praia também pode ser acessada de barco.

 

A Secretaria de Turismo de Ubatuba define a praia como uma das menores de Ubatuba. A praia possui areia fina, costeiras rochosas em forma de ferradura e muitas pedras na arrebentação. Na orla, fica a entrada de uma propriedade particular, com uma rampa de acesso. Na encosta, do lado esquerdo, logo na chegada, tem um jardim com trabalho de paisagismo e um banquinho para apreciar a paisagem. A praia não oferece nenhuma estrutura de turismo, hospedagem e alimentação.

 



Notícias das Praias