Comlurb mobiliza 6.600 garis para o Carnaval, mas Jardim Maravilha sofre com coleta de lixo irregular no Rio de Janeiro


Rio de Janeiro: O paraíso do lixo seletivo (e da desigualdade)

Enquanto o Rio de Janeiro se prepara para receber milhões de foliões no Carnaval de 2025, a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) anunciou uma megaoperação de limpeza que mais parece um filme de ficção científica. Serão 6.600 garis mobilizados, 6.271 contêineres espalhados pela cidade e até pulverizadores com essência de eucalipto para garantir que o cheiro do suor e da cerveja derramada não ofenda os narizes mais sensíveis. Tudo isso para atender ao Sambódromo, à região da Intendente e aos blocos de rua. Mas, enquanto a cidade se transforma em um verdadeiro templo da limpeza para os turistas, alguns cariocas se perguntam: e o resto do ano?

No loteamento Jardim Maravilha, na Zona Oeste do Rio, a realidade é bem diferente. Na manhã desta sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025, o caminhão da Comlurb passou pela Rua Chapada dos Guimarães entre 7 e 8 horas. No entanto, em vez de resolver o problema do lixo acumulado, a equipe fez uma “coleta seletiva” bem peculiar: recolheu apenas parte dos detritos e deixou o resto para os moradores admirarem a paisagem.

De acordo com os residentes, a prefeitura parece ter uma eficiência seletiva. “Para cobrar o IPTU, eles são rápidos. Agora, para recolher o lixo, parece que estão esperando o Carnaval acabar para ver se alguém faz isso de graça”, ironiza um morador, que preferiu não se identificar. Outros reclamam que a coleta irregular é frequente e que o descaso com o bairro é evidente.

Enquanto isso, no centro da cidade, a Comlurb se prepara para uma operação que mais parece uma missão de resgate em zona de guerra. A empresa promete que, durante o Carnaval, nenhum copo descartável ficará sem ser recolhido, nenhuma lata de cerveja será esquecida e nenhum odor desagradável ofenderá os foliões. Até essência de eucalipto será pulverizada para garantir que o ar esteja tão fresco quanto o entusiasmo dos turistas.

Mas, para os moradores do Jardim Maravilha, o cheiro de eucalipto parece tão distante quanto a atenção da prefeitura. “Aqui, a gente só sente o cheiro do lixo acumulado. Eles devem achar que o Carnaval é só no centro da cidade”, desabafa outra residente.

A ironia da situação não passa despercebida. Enquanto a Comlurb se gaba de sua megaoperação de limpeza, parte da população carioca vive em um cenário que mais parece um conto distópico. Onde estão os 6.600 garis quando o Jardim Maravilha precisa deles? Onde estão os contêineres e os pulverizadores de eucalipto?

A prefeitura, por sua vez, não se pronunciou sobre as críticas dos moradores. Enquanto isso, o IPTU continua sendo cobrado com precisão militar, e o lixo continua sendo um problema que, aparentemente, só é prioridade quando há holofotes envolvidos.

No fim das contas, o Carnaval do Rio de Janeiro é realmente uma festa de contrastes. De um lado, a cidade maravilhosa, limpa e cheirosa para os turistas. Do outro, a cidade desigual, onde o básico parece ser um luxo para muitos. E, enquanto os foliões dançam ao som dos blocos, os moradores do Jardim Maravilha seguem esperando que o caminhão da Comlurb volte para fazer o serviço completo.

Quem sabe, no próximo Carnaval, eles também possam sentir o cheiro do eucalipto. Até lá, resta esperar – e torcer para que o IPTU não aumente.



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