Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Emory, nos Estados Unidos, revelou um achado surpreendente: a psilocibina — substância presente nos cogumelos psicodélicos — foi capaz de retardar o envelhecimento celular em até 57% e aumentar a expectativa de vida em modelos experimentais.
Os cientistas testaram o composto em camundongos idosos e em células humanas, e os resultados foram tão positivos que levantaram a possibilidade de um novo caminho para terapias de longevidade. Nos testes com roedores, os pesquisadores notaram que os sinais físicos de envelhecimento começaram a reverter após o uso da substância, com aumento na vitalidade e até recuperação de pelos.
Além disso, células humanas do pulmão tratadas com o mesmo composto viveram muito mais e apresentaram melhorias em indicadores que antes só se acreditava serem possíveis com medicamentos altamente específicos ou modificações genéticas.
Como o experimento foi feito
Os camundongos utilizados no estudo tinham o equivalente a 60 ou 65 anos humanos. Durante 10 meses, eles receberam doses mensais de psilocina, o ingrediente ativo que surge quando a psilocibina é digerida. A dose inicial foi baixa, aumentando gradualmente até 15 miligramas.
Nos primeiros três meses, os cientistas já observaram mudanças visíveis: menos pelos grisalhos, queda capilar revertida e muito mais disposição para se movimentar.
Ao fim do estudo, os animais tratados viviam, em média, 30% mais do que o grupo que não recebeu a substância.
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E nas células humanas?
O experimento também foi feito com células de fibroblastos humanos do pulmão — importantes na estrutura da pele e órgãos. Em laboratório, elas foram divididas em dois grupos: um recebeu a psilocina, o outro, placebo. Os resultados foram incríveis: com uma dose de 100 microgramas, o tempo de vida dessas células aumentou 57%.
Além de viverem mais, as células tratadas se mantiveram mais ativas, demoraram mais para parar de se dividir e tiveram menos sinais de envelhecimento. Isso inclui a preservação do comprimento dos telômeros — uma espécie de “ponteira protetora” dos nossos cromossomos, associada ao envelhecimento saudável.
Qual o segredo por trás disso?
A resposta pode estar em um receptor chamado 5-HT2A, presente em diversos tecidos do corpo, como cérebro, pele, coração e células do sistema imunológico. A psilocibina ativa esse receptor e, com isso, estimula uma via chamada SIRT1, que ajuda a desacelerar o envelhecimento das células e protege o DNA.
Em outras palavras, a substância atua diretamente em processos que regulam a senescência — ou seja, quando as células param de funcionar e começam a causar inflamação. Segundo os autores, isso explicaria os efeitos duradouros e sistêmicos da psilocibina em diferentes partes do corpo.
Muito além da mente
Apesar de ser mais conhecida pelos seus efeitos em transtornos psicológicos como depressão, ansiedade e vícios, a psilocibina já é alvo de mais de 150 estudos clínicos em andamento. Este novo achado amplia ainda mais seu potencial de uso — agora na medicina regenerativa e na longevidade.
Pesquisas anteriores mostraram que uma única dose da substância pode melhorar sintomas físicos e emocionais por até 5 anos. Agora, com essa nova evidência, a ciência vislumbra um futuro em que o envelhecimento possa ser não apenas retardado, mas até parcialmente revertido.
E agora?
Os autores do estudo alertam que ainda é cedo para recomendar o uso de cogumelos psicodélicos como suplemento. A substância continua ilegal em muitos países, inclusive no Brasil, e precisa ser estudada com mais profundidade. No entanto, eles acreditam que os resultados abrem caminho para novos medicamentos que possam imitar os efeitos benéficos da psilocibina sem causar alucinações.
Enquanto isso, a descoberta já movimenta o mundo científico e acende uma esperança: a de que, em breve, viver mais e com mais qualidade não será privilégio de poucos — e que a resposta pode estar, literalmente, debaixo dos nossos pés.
As substâncias presentes no cogumelo podem se tornar um ótimo aliado contra o envelhecimento – Foto: Alan Rockefeller
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