Caraguatatuba foi parcialmente destruída por uma tromba d’água há 58 anos; relembre: – Notícias das Praias


 

Hoje, 18 de março, lembramos os 58 anos da catástrofe que destruiu parcialmente a cidade de Caraguatatuba, no Litoral Norte Paulista. Em 1967, no dia 18 de março, a cidade foi atingida por uma tromba d’água, que fez os morros deslizarem e as ruas e as ruas se transforarem em rios. A cidade ficou sem água, sem luz, sem acesso por estradas. Cerca de 2 mil pessoas perderam a vida na tragédia que foi considerada, na época, a maior até então ocorrida no país.

Por Salim Burihan

Quem visita a cidade hoje em dia, ou vive nela há pouco tempo, desconhece que Caraguatatuba, a maior cidade da região, o centro comercial e de serviços do Litoral Norte Paulista, com suas avenidas bonitas e modernas, “sobreviveu” a uma tremenda tragédia na década de 60.

Foi realmente, uma tragédia impressionante, em dois dias, 17 e 18 de março, a precipitação pluviométrica foi de 580 milímetros, ou seja, choveu em Caraguatatuba em apenas dois dias a quantidade de chuva acumulada de seis meses.

Um dos maiores especialistas mundiais em mecânica de solos e fundações, o professor Artur Casagrande, que na época prestava assessoria aos EUA, Índia e Suíça, veio até Caraguatatuba para ver o resultado da tragédia.

Ele visitou a cidade no alguns dias depois da tromba d’água, a convite do governo do estado, acompanhado pelos engenheiros Joob Shuji Negami(DER), Darcy de Almeida(CESP) e Lincon Queiroz e Otto Kech e do geólogo Francisco Nazário. Considerados, na época, os maiores especialistas neste tipo de ocorrência natural.

Reproduzo abaixo as considerações feitas pelo professor Artur Casagrande: “Nunca vi coisa igual na minha vida. Isso só ocorre a cada milênio. O que ocorreu em Caraguatatuba foi um evento natural- tromba d’água, fato raro, raríssimo. Na história do Brasil nunca ocorreu nada igual”.

Santa Casa

Segundo ele, não ocorreu um terremoto, como chegaram a imaginar alguns moradores, devido ao barulho das pedras que rolavam morro abaixo das encostas da serra do mar, nas noites dos dias 17 e 18 de março daquele ano.

O professor Arthur Casagrande explicou que ocorreu uma precipitação de água excepcional, com dificuldades no escoamento das águas que encharcaram os morros, numa área de cerca de 200 km quadrados na escarpa da serra do mar, junto a Caraguatatuba. Foi, segundo os cientistas, a maior tragédia natural ocorrida no Brasil até então.

Foi, realmente, assustador, para os moradores que estavam na cidade naqueles dias. A chuva insistente que caía sobre a cidade há vários dias, provocou inúmeros desmoronamentos das encostas da Serra do Mar.

Rochas, pedras, árvores, terra, muita lama e água desceram das encostas da serra em direção à cidade. As ruas do centro, se transformaram em rios de lama. A água que descia das encostas levava tudo que encontrava pela frente: o que restou das casas soterradas, animais mortos, entre eles, cavalos, vacas, cachorros, galinhas e até, pessoas.

Várias pontes que ligavam a cidade aos municípios vizinhos foram levadas pela força das águas que desciam as encostas. A ponte sobre o rio Santo Antônio, a principal da cidade, se deslocou e ficou junto à margem, interrompendo o tráfego de carros e pessoas, Ninguém passava. A Santa Casa foi atingida pela lama.

O estádio do XV, foi destruído pelas pedras e lama que desciam do morro do Jacu. Na região do bairro do Benfica, inúmeras casas ficaram soterradas. Na zona rural pouca coisa sobrou em pé. A cidade ficou sem água, sem energia elétrica, sem telefone, sem comunicação, sem acesso pelas estradas e sem comida. A cidade ficou isolada e ilhada. O mar em frente a cidade se transformou num mar de lama e de troncos.

As vítimas mortas, que segundo consta, teria ultrapassado 2.000 pessoas, eram resgatadas pelos moradores e levadas para a prefeitura municipal, na época, localizada na praça Cândido Mota. Os desabrigados eram alojados na igreja, no clube XV, em escolas e acolhidos pelos moradores, cujas casas não tinham sido atingidas pelas águas. A maioria dos moradores evitava sair de casa, pois não podia e o risco de se contrair doença era muito grande.

O mundo não sabia o que estava ocorrendo em Caraguatatuba. Até que, um radioamador, seu Thomaz Camanes Filho, conseguiu contato com outros rádios-amadores e comunicou a destruição da cidade. Muitas horas depois, algo em torno de 12 a 15 horas, as autoridades paulistas e cariocas tomavam ciência do que tinha ocorrido na cidade. Helicópteros começaram a sobrevoar a cidade. O exército chegou. A Marinha através de seus navios, trouxe água, remédios e médicos.

Três dias depois, alguns números apresentados, extraoficialmente, mostraram o  tamanho da tragédia: 30 mil árvores desceram as encostas em direção a cidade; 400 casas desapareceram debaixo da lama e 3 mil pessoas perderam suas casas. Caraguatatuba tinha na época 15 mil moradores.

A informação que mais chamou a atenção das autoridades: a chuva que atingiu Caraguatatuba, em dois dias, 17 e 18 de março, atingiu um índice de precipitação pluviométrica de 580 milímetros. Na época, a média de precipitação pluviométrica do Brasil, o ANO INTEIRO variava de 1000 a 1200 milímetros. Ou seja, choveu em Caraguatatuba em apenas dois dias a quantidade de chuva acumulada de seis meses. As marcas daquela tragédia podem ser vistas até os dias atuais, basta olhar para as encostas da serra e ver os “paredões” sem qualquer tipo de vegetação.

Caraguatatuba ficou durante algum tempo esquecida. Foi difícil recomeçar. Muita gente abandonou a cidade, não acreditando que ela um dia pudesse se reerguer. Muita gente perdeu tudo o que tinha. Muitos ficaram ricos aproveitando da desgraça dos outros (existem muitas histórias sobre mantimentos, roupas, móveis doados pelo Brasil que acabaram sendo desviados e jamais chegaram à cidade).

Moradores dos bairros deixando suas casas destruídas com seus filhos

E, como tradicionalmente ocorre em situação de calamidade pública, o prefeito na ocasião, quis estender ao máximo a situação (de calamidade pública) para continuar recebendo recursos junto aos governos estadual e federal. O comércio, no entanto, não aceitou tal politicagem.

 

Para os comerciantes, a cidade já estaria em condições de receber visitantes e o decreto de calamidade, mantido pelo prefeito e suas declarações nas emissoras de rádio, afugentavam os turistas. Em 1968, um ano após a catástrofe, os comerciantes fizeram uma carreata com faixas e cartazes em São José dos Campos e na capital paulista, para mostrar que a cidade já tinha superado a tragédia e que os turistas poderiam voltar com tranquilidade a frequentar as praias do município.

A força, a dedicação e o empenho dos moradores e comerciantes foram fundamentais para que a cidade aos poucos fosse se reconstruindo e se transformando no que é hoje: o centro comercial, educacional e cultural do Litoral Norte. Nos últimos 25 anos, principalmente, na administração do então prefeito Antonio Carlos da Silva, pai do atual prefeito Mateus Silva, a cidade teve a sua infraestrutura melhorada, recebendo avenidas modernas e calçadões a beira mar, iluminação e urbanização das áreas públicas e investimentos na educação e na saúde. O comércio expandiu e se diversificou. A cidade conta como maior shopping da região, o Serramar. Caraguatatuba tem atualmente 135 mil habitantes.

18 de Março

Uma música, “18 de Março”, com letra de autoria do corretor de imóveis Davi Salamene, musicada pelo construtor e seresteiro José Rodrigues da Silva, revela, até hoje,  toda a tristeza que tomou conta da cidade e do país com a tragédia ocorrida em Caraguatatuba.  Confira:  “18 de Março” interpretada por Sinésio:



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