Bomba atômica em Gaza e dúvida sobre mortes pelo Hamas: quando as vozes radicais se levantam em Israel




Ministro da ala radical de Netanyahu defende bomba atômica em Gaza; deputada árabe duvida de estupros e massacres de bebês pelo Hamas. Soldados israelenses recolhem corpos de pessoas assinadas pelo Hamas no kibutz Kfar Aza
Ohad Zwigenberg/AP
Guerras causam sofrimento na frente de batalha e abrem feridas no campo da retórica, sobretudo quando vozes radicais de setores públicos em Israel se levantam para inflamar o que já está conflagrado.
O ministro israelense do Patrimônio, Amichai Eliyahu, da extrema direita, e a deputada árabe Iman Khatib-Yasin, que integra o Parlamento israelense desde 2020 pela Lista Árabe Unida, expressaram, pela verborragia, mais um lado cruel do confronto.
Eliyahu sugeriu numa entrevista que Israel deveria jogar uma bomba atômica sobre a Faixa de Gaza como uma alternativa possível para Israel lidar com o Hamas. “Esta é uma das opções”, afirmou o ministro de Benjamin Netanyahu.
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Lembrado de que há 240 reféns no território palestino, ele seguiu adiante.
“Rezo pelo seu regresso, mas há um preço a pagar na guerra. Por que as vidas dos sequestrados são mais importantes do que as dos soldados e das pessoas que serão assassinadas mais tarde?”. O ministro se opôs à entrada de ajuda humanitária em Gaza e assegurou que não existem civis não envolvidos com o Hamas no território palestino.
A deputada Khatib-Yasin, por sua vez, duvidou, em entrevista à emissora oficial do Parlamento israelense, que terroristas do Hamas tenham cometido estupros e assassinado bebês.
“Eles não mataram bebês e não estupraram mulheres, pelo menos nas filmagens”, “Se tivesse acontecido, seria vergonhoso… Se tivesse acontecido”, ressaltou ela.
É interessante observar as reações das respectivas lideranças aos comentários inflamados manifestados pelo ministro e pela deputada.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que depende dos radicais para sobreviver politicamente, disse apenas que as declarações de Eliyahu “não são baseadas na realidade”. Israel nem sequer admite que tem armas nucleares.
Diante da condenação geral, o premiê suspendeu o ministro das reuniões de seu Gabinete, mas não o demitiu, como exigiu a oposição e defenderam os principais jornais israelenses em seus editoriais.
Para os críticos, a punição do premiê a Eliyahu foi suave demais. É também um claro sinal de que Netanyahu não pode nem quer entrar em confronto com a coalizão extremista que o sustenta no governo.
Já o líder da Lista Árabe Unida — coalizão que representa os árabes israelenses e tem seis assentos no Parlamento — foi mais assertivo: Mansour Abbas defendeu a renúncia da correligionária Iman Khatib-Yasin, depois que ela expressou dúvidas sobre o massacre de 7 de outubro.
“Não há espaço em nossas fileiras para alguém que negue ou minimize a gravidade das ações que negam os nossos valores e a religião do Islã”, afirmou Abbas, que vem pedindo calma e moderação à comunidade árabe em Israel e, desde o primeiro momento, condenou o ataque do Hamas em Israel.
A deputada se retratou e se desculpou por suas declarações. “Cometi um erro, sinto muito e peço desculpas. Não tive intenção de minimizar ou negar o terrível massacre de 7 de outubro e os terríveis atos contra mulheres, bebês ou idosos que foram mortos no Sul”, atestou Khatib-Yasin, em comunicado.
O ministro Eliyahu, por sua vez, não se desculpou; apenas atribuiu a força de suas palavras sobre uma bomba atômica em Gaza a uma expressão metafórica. Como bem resumiu o jornal “Haaretz” em seu editorial, este esclarecimento é ridículo.
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G1 Mundo