Ataque de drones da Ucrânia: como a operação surpresa contra a Rússia muda a guerra




A Ucrânia ainda está digerindo todas as implicações da operação Teia de Aranha, que atacou aeronaves estratégicas da Rússia. Veja imagens inéditas do ataque surpresa de drones da Ucrânia a aviões de guerra russos
Dias depois, a Ucrânia ainda está digerindo todas as implicações da operação Teia de Aranha, o ataque em massa de domingo (1/6) a aeronaves estratégicas da Rússia.
A agência que orquestrou o ataque, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em inglês), divulgou na quarta-feira (4/6) um vídeo que mostra imagens dos ataques em andamento, assim como vislumbres de como a complexa operação foi conduzida.
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As imagens de satélite que surgiram desde domingo, revelando as silhuetas destruídas de aviões nas pistas das bases aéreas de Olenya, Ivanovo, Dyagilevo e Belaya, também ajudam a contar a história do sucesso sem precedentes da operação.
Para os analistas ucranianos, toda a operação, que levou um ano e meio sendo preparada, continua sendo incrível.
“Esta pode ser considerada uma das operações mais brilhantes da nossa história”, afirma Roman Pohorlyi, fundador do DeepState, um grupo de analistas militares ucranianos.
“Mostramos que podemos ser fortes, podemos ser criativos e podemos destruir nossos inimigos, não importa o quão longe eles estejam.”
Captura de tela de vídeo gravado por drones divulgado pelas autoridades ucranianas na quarta-feira (4/6).
Serviço de Segurança da Ucrânia via BBC
É importante observar que quase todas as informações que surgiram desde domingo foram divulgadas pelo próprio SBU.
Entusiasmado com o próprio sucesso, o serviço de segurança está empenhado em apresentar a operação da melhor forma possível. Sua campanha de informação foi auxiliada pelo fato de o Kremlin não ter dito quase nada.
Em entrevista à imprensa na quarta-feira, após entregar medalhas aos oficiais do SBU envolvidos na operação, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, repetiu a alegação de que 41 aeronaves haviam sido danificadas ou destruídas.
“Metade delas não pode ser restaurada”, ele disse. “E algumas vão levar anos para serem reparadas, se é que vão poder ser restauradas.”
Se um cessar-fogo tivesse entrado em vigor, ele acrescentou, a Operação Teia de Aranha não teria acontecido.
A compilação de quatro minutos em vídeo divulgada pelo SBU mostra uma série de detalhes importantes.
Filmado da perspectiva de alguns dos 117 drones envolvidos, vemos bombardeiros estratégicos russos, aeronaves de transporte e aviões de alerta e controle aéreo (AWACS, na sigla em inglês) sendo procurados.
É possível ver incêndios em várias aeronaves atingidas.
Pela primeira vez, podemos ver de relance sob as asas de alguns dos bombardeiros, revelando que eles já estavam armados com mísseis de cruzeiro, que a Rússia usou com efeito devastador em seus ataques aéreos à Ucrânia.
Os drones, muitos deles pilotados remotamente, cada um por um piloto distinto, sentado em um local distante na Ucrânia, são cuidadosa e precisamente apontados para pontos vulneráveis, incluindo tanques de combustível localizados nas asas.
Algumas das bolas de fogo resultantes também sugerem que os tanques estavam cheios de combustível, prontos para decolar.
Imagens mostram aviões militares na base de Belaya, na Rússia, uma das atacadas por drones russos, antes e depois do bombardeio, em junho de 2025.
Planet Labs PBC e Capella Space via Reuters
Uma parte significativa do vídeo mostra drones mirando em dois Beriev A-50, aeronaves AWACS gigantes produzidas pela primeira vez na antiga União Soviética.
De todos os aviões alvo da operação Teia de Aranha, o A-50, com seu radar capaz de detectar alvos e ameaças a mais de 600 quilômetros de distância, é provavelmente o mais importante.
Antes da invasão em larga escala da Ucrânia em 2022, acreditava-se que a Rússia operava cerca de nove A-50. Antes do último domingo, três haviam sido abatidos ou danificados em um ataque anterior de drones.
As imagens do vídeo sugerem fortemente que os drones atingiram as cúpulas circulares de radar dos dois A-50 estacionados na base aérea de Ivanovo Severny, a nordeste de Moscou.
No entanto, como a transmissão do vídeo é interrompida no momento do impacto, é difícil verificar completamente.
Imagens de satélite, que mostram claramente os destroços de vários bombardeiros, são inconclusivas quando se trata do A-50.
Mas a frota russa destas aeronaves cruciais pode estar agora reduzida a apenas quatro.
“Reiniciar a produção do A-50 é altamente improvável no momento, devido às dificuldades em relação à substituição de importações e à destruição das instalações de produção”, afirma o analista de defesa Serhii Kuzan.
“Deste modo, cada perda deste tipo de aeronave constitui um problema estratégico para a Rússia, que não pode ser compensado rapidamente.”
Mais cedo na quarta-feira, o SBU ofereceu um breve vislumbre de outro recurso notável usado no ataque de domingo: contêineres especialmente construídos, montados em caminhões com a carroceria aberta, para transportar drones armados para locais próximos às quatro bases aéreas russas.
Dois vídeos mostram um caminhão transportando o que parecem ser duas casas móveis de madeira, com janelas e portas.
Em um vídeo, os painéis do teto são claramente visíveis. Relatos sugerem que eles se retraíram ou foram removidos de outra forma pouco antes do início dos ataques, permitindo a decolagem de dezenas de drones armazenados em seu interior.
Não se sabe quando ou onde os vídeos foram filmados, embora a neve visível ao lado da estrada em um deles sugira que pode ter sido há semanas ou meses.
Em outro vídeo, postado em um canal russo do Telegram no domingo, um policial é visto entrando na parte de trás de um dos contêineres após o ataque.
Segundos depois, o contêiner explodiu, sugerindo que pode ter sido equipado com uma armadilha.
Como avaliar o impacto de uma operação tão espetacular?
“Do ponto de vista militar, este é um momento de virada na guerra”, avalia o especialista em aviação Anatolii Khrapchynskyi.
“Porque desferimos um golpe significativo na imagem da Rússia e nas capacidades da Federação Russa.”
Pouco mais de três meses depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, repreender Volodymyr Zelensky, dizendo que ele “não dava as cartas”, a Ucrânia ofereceu uma resposta enfática.
“A Ucrânia mostrou ao mundo inteiro que a Rússia é, na verdade, fraca, e não pode se defender internamente”, diz Khrapchynskyi.
Mas isso não significa que a Rússia esteja prestes a mudar de rumo.
Após sua última conversa com o presidente russo, Vladimir Putin, Donald Trump disse que os dois líderes haviam discutido sobre os ataques da Ucrânia.
“Foi uma conversa boa”, publicou Trump na plataforma Truth Social. “Mas não uma conversa que vai levar à paz imediata.”
“O presidente Putin disse, de fato, e com muita veemência, que vai ter de responder ao recente ataque aos campos de aviação.”



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