Naquela manhã, eu tinha dormido mal, atrasado uma entrega e respondido um e-mail de forma menos cuidadosa do que gostaria. No fim do dia, mesmo tendo resolvido quase tudo, saí do trabalho com um peso no peito. No carro, ouvi aquela voz familiar sussurrando: “você não deu conta”, “você está decepcionando todo mundo” e “você devia se esforçar mais”.
Essa voz não era do meu gestor, nem de um colega. Era de alguém mais próximo: era o meu próprio juiz interno.
Talvez você também já tenha ouvido o seu. Ele aparece quando você comete um erro, quando se compara com alguém, quando tenta descansar, mas não se sente autorizado a isso. É uma voz exigente, crítica, muitas vezes cruel — e, na maioria das vezes, invisível aos nossos olhos, mas ativa em nossas emoções e decisões.
O que é o sabotador JUIZ?
O Juiz é o principal sabotador interno. Ele está por trás de praticamente todos os outros. É aquela parte de nós que nos julga, julga os outros e julga as circunstâncias o tempo todo, com uma rigidez emocional extrema.
Ele nasceu lá atrás, na infância, para tentar nos proteger — afinal, seguir regras e evitar erros podia nos manter seguros e aceitos. Mas, com o tempo, essa voz se transforma numa força que mina a autoconfiança, amplifica sentimento de culpa, inferioridade e fracasso, e nos impede de reconhecer o nosso valor.
Como o Juiz age sem você perceber
- Ele te cobra mais do que seria justo cobrar qualquer outra pessoa.
- Minimiza suas conquistas e exagera seus erros.
- Compara você com os outros de maneira cruel.
- Faz você acreditar que precisa sofrer para merecer algo.
- Te deixa desconfortável com elogios, como se você não fosse digno.
- Critica até quando você descansa: “Você devia estar produzindo”.
O Juiz não grita — ele sussurra com autoridade. E é por isso que tantos acreditam que essa voz é a verdade.
Por que é tão difícil calar essa voz?
Porque ela se disfarça de consciência, responsabilidade, senso de justiça. Ele finge ser o motor da sua excelência, quando na verdade é o freio da sua autoestima. Como convivemos com ele há tanto tempo, achamos que essa voz somos nós. Mas ela é só uma parte de nós — e não precisa ter o controle.
O preço de viver sob o domínio do Juiz
- Ansiedade constante, por nunca se sentir suficiente.
- Autossabotagem, ao não se permitir errar ou ser imperfeito.
- Relações tóxicas, por projetar no outro a crítica que sente por si.
- Procrastinação por medo de falhar, já que qualquer erro seria “prova” de que você não presta.
- Falta de prazer nas conquistas, como se nada fosse bom o bastante.
Passos para reconhecer e enfrentar o principal Crítico Interno
- Observe a crítica automática: Sempre que você ouvir uma frase rígida como “Você devia ter feito melhor”, pare. Respire. Pergunte: isso é um fato ou um julgamento?
- Dê um nome à voz: Chame de “Juiz”, “Censor”, “Carrasco” — isso ajuda a separá-la da sua identidade.
- Questione as generalizações: “Você sempre erra.” → Isso é verdade ou é uma distorção? Que outras vezes você acertou?
- Pratique o autoelogio realista: Liste conquistas recentes, por menores que sejam. Isso reequilibra a balança emocional.
- Acolha a vulnerabilidade: Erros são parte do caminho. Substitua “Eu fracassei” por “Estou aprendendo” ou “Fiz o meu melhor com o que tinha.”
Exemplo real: o Juiz que impedia Clara de crescer
Clara era excelente no que fazia, mas não aceitava elogios. Achava sempre que podia ter feito melhor. Quando foi promovida, entrou em crise: “Será que mereço isso mesmo?” Ao identificar o Juiz como a fonte desses pensamentos, ela começou a escrever, diariamente, três coisas que havia feito bem. Com o tempo, passou a reconhecer suas qualidades com mais equilíbrio — e liderar com mais confiança e empatia.
Como você se transforma ao superar o Juiz
Você se torna mais leve. Mais confiante. Aprende a reconhecer suas conquistas e a lidar com falhas sem se destruir. Passa a valorizar seu esforço e sua jornada. Cultiva relações mais saudáveis — consigo e com os outros. E descobre que o seu verdadeiro potencial só aparece quando você silencia quem vive dizendo que você não é bom o suficiente.
Se o Juiz tem falado alto demais na sua vida, talvez esteja na hora de escutar outra voz — a da sua coragem, da sua experiência, da sua verdade. Você não precisa ser perfeito para ser incrível. Só precisa se libertar da voz que te prende e dar mais espaço para a que te impulsiona. O primeiro passo é ouvi-la. O segundo é acreditar nela.
NOTA: O Juiz, é apenas o primeiro sabotador de uma galeria interna que todos nós carregamos. Ele é, inclusive, o sabotador principal entre os dez sabotadores mentais universais. Nos próximos artigos, vamos falar sobre: o Bonzinho Demais, o Controlador, o Perfeccionista, entre outros — sempre com exemplos reais, sinais de alerta e caminhos para enfrentar cada um deles com inteligência emocional. Acompanhe a série e descubra qual sabotador tem mais influência na sua história — e como virar esse jogo.
Jornal da Região