
Imagem de Titã, uma das luas de Saturno, obtida pela sonda Cassini
Um impacto de grandes proporções na lua Titã, de Saturno, pode ter rompido a crosta de gelo da superfície e criado reações químicas capazes de formar moléculas orgânicas, segundo o geólogo Álvaro Penteado Crósta, professor sênior da Unicamp, durante entrevista ao podcast iG Foi Pro Espaço desta quarta-feira (08).
Crósta, referência em Geologia Planetária, detalhou como a cratera Menrva é o ponto central da pesquisa publicada na revista Icarus, que reacende o interesse sobre a possibilidade de vida extraterrestre em Titã, considerada um dos locais mais parecidos com a Terra.
Segundo o pesquisador, a cratera, identificada a partir de imagens da missão Cassini, expõe material do interior de Titã que normalmente estaria inacessível devido à espessa camada de gelo que recobre a lua.
“ Um impacto de grandes dimensões poderia romper a crosta que tem até uma centena de quilômetros de espessura e colocar o oceano embaixo em contato com a superfície gelada ”, explicou o geólogo. Titã possui processos geológicos ativos e uma atmosfera densa, tornando-a adequada para estudos sobre a existência de vida em ambientes extraterrestres.
A Cassini, missão lançada no início dos anos 2000, permitiu mapear cerca de 60% a 70% da superfície da lua e coletar dados essenciais sobre sua geologia, hidrologia e criovulcanismo, ou seja, vulcões de gelo que podem transportar materiais do oceano subterrâneo à superfície.
Crósta detalhou que o criovulcanismo em Titã poderia trazer gelo de água, metano e dióxido de carbono do interior da lua para a superfície. “ Esses mecanismos de comunicação entre o oceano e a superfície favoreceriam o desenvolvimento de formas de vida em Titã ”, afirmou.
A lua também apresenta mares e rios de metano líquido nos polos, e sua crosta de gelo cobre um oceano interno possivelmente salgado, mantido líquido pela pressão e pelo calor do núcleo rochoso.
Missões futuras
A pesquisa sobre Titã também serve como preparação para a missão Dragonfly, programada para explorar áreas específicas da lua a partir de 2029. O objetivo será procurar sinais de vida fossilizada de microrganismos que podem ter emergido do oceano subterrâneo e se preservado na superfície.
Crósta enfatizou que, embora a Dragonfly não vá retornar amostras à Terra, seus sensores a bordo permitirão análises mais avançadas do que as realizadas pela Perseverance em Marte.
Experiência internacional e colaboração científica
Crósta, que também trabalhou como pesquisador visitante no Jet Propulsion Laboratory (JPL), da NASA, comentou sobre a importância da ciência aberta e da colaboração internacional.
“ Os dados da NASA são disponibilizados para qualquer pessoa, inclusive para estudantes de graduação e pós-graduação no Brasil, que podem desenvolver projetos e dissertações a partir deles ”.
O pesquisador destacou que cortes orçamentários recentes na agência americana podem prejudicar pesquisas e atrasar missões futuras.
A entrevista foi transmitida nesta quarta-feira (08), às 18h, no canal do YouTube do Portal iG.
IG Último Segundo