
A peça localizada é do tipo utilizada em rituais de sepultamento e se soma a outros achados registrados no município desde 1998
Uma urna funerária indígena foi descoberta, na sexta-feira (18), em um terreno no Centro de Conceição dos Ouros, no Sul de Minas Gerais, durante a preparação do local para uma nova construção.
O achado, de grande relevância arqueológica, ressalta o passado ancestral da região, marcada pela presença de povos originários muito antes da colonização portuguesa.
A peça, pertencente à cultura Tupi-Guarani, foi localizada pelo arqueólogo e professor Paulo Araújo de Almeida, que atua voluntariamente na preservação do patrimônio histórico de Conceição dos Ouros. Ao observar o barranco no antigo quintal de uma residência demolida, ele identificou o perfil da urna e sinalizou a existência de outros materiais semelhantes na área.
Imediatamente, a Prefeitura foi acionada, isolou o local e notificou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), responsável por conduzir o processo de escavação e resgate.
“Essa descoberta é extremamente significativa. São relíquias que podem revelar como viviam os grupos indígenas que ocuparam Conceição dos Ouros há séculos. Esses vestígios funerários são peças fundamentais para reconstituir modos de vida, rituais e relações sociais desses povos” , afirmou o professor Paulo, em entrevista à EPTV.
A peça localizada é do tipo utilizada em rituais de sepultamento e se soma a outros achados registrados no município desde 1998, quando a primeira urna funerária indígena foi encontrada — curiosamente, a apenas 15 metros de distância do local da descoberta atual.
Com este novo episódio, já são sete urnas identificadas na cidade, o que consolida Conceição dos Ouros como um importante sítio arqueológico mineiro.
“Estamos mobilizados para garantir que todo o processo ocorra de forma cuidadosa, com o envolvimento do IPHAN e dos especialistas, para que esse legado seja protegido e compartilhado com a população” , destacou a secretária municipal de Cultura, Aline Cristina da Costa, à EPTV.
Cidade construída sobre um antigo aldeamento
Segundo estudos conduzidos pelo professor Paulo Araújo, o território onde hoje se encontra o município foi, no passado, um aldeamento indígena, ocupado por povos das culturas Tupi-Guarani e Macro Jê. Prova disso são os cerca de 15 mil fragmentos de cerâmica já encontrados na cidade, muitos dos quais permanecem em análise.
Os materiais cobrem um intervalo temporal de aproximadamente 700 anos, abrangendo desde o período pré-colonial até a formação das fazendas de fumo e café que marcaram o ciclo econômico local.
“Essas descobertas permitem reconstruir uma linha do tempo da presença humana em Conceição dos Ouros, mostrando que a história da cidade não começa com a chegada dos colonizadores, mas muito antes disso, com culturas complexas que deixaram marcas profundas em nosso solo” , ressaltou o arqueólogo.
Museu preserva acervo indígena
Parte do material coletado ao longo das últimas décadas está em exposição no Museu dos Povos Indígenas, instalado no Poliesportivo Municipal. O espaço está aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h, com visitas guiadas que podem ser agendadas pelo WhatsApp: (35) 9 9914-7294. Aos fins de semana, o atendimento é feito mediante marcação prévia, com acompanhamento do professor Paulo.
A Prefeitura também anunciou que está em andamento um projeto para construção de um prédio definitivo para o museu, com o objetivo de estruturar a exposição de forma mais ampla e acessível, fortalecendo o turismo cultural e educativo da cidade.
IG Último Segundo