Trump recorre à importação brasileira para baixar preço do ovo


Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as importações de ovos dos EUA vindas do Brasil aumentaram 93% em fevereiro em comparação ao ano anterior.
Montagem iG

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as importações de ovos dos EUA vindas do Brasil aumentaram 93% em fevereiro em comparação ao ano anterior.

Em fevereiro, o governo dos Estados Unidos  anunciou um plano de US$ 1 bilhão (R$5.692.900.000 em reais) para reduzir o preço dos ovos, incluindo ações para ajudar os produtores a evitar a propagação do vírus da gripe aviária e pesquisas sobre vacinas.

De acordo com o site USA Today, a administração Trump também está incentivando a importação de ovos  de países como Brasil, Turquia e Coreia do Sul — que normalmente enviam poucos ovos aos EUA — e solicitou à Europa o aumento das exportações.

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as importações de ovos dos EUA vindas do Brasil aumentaram 93% em fevereiro em comparação ao ano anterior.

A ABPA ressalta, em nota enviada ao Portal iG, que as exportações não têm impacto na oferta de ovos dentro do território brasileiro. ”O Brasil deverá produzir este ano 3,6 milhões de toneladas de ovos, enquanto a exportação esperada é de 35 mil toneladas – ou seja, menos de 1% sobre o total produzido, o que é insuficiente para qualquer efeito de oferta.”

A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA, informou à Reuters que está analisando uma petição do National Chicken Council (Conselho Nacional do Frango) para permitir a venda para consumo humano de ovos produzidos por galinhas criadas para corte.

Atualmente, os produtores de frango descartam milhões desses ovos por não terem refrigeração adequada para atender às exigências de segurança alimentar da FDA.

Em 2023, a FDA negou um pedido semelhante, citando o risco de salmonela. Porém, a indústria espera que desta vez a agência aprove a proposta, alinhando-se ao objetivo do governo Trump de reduzir regulamentações consideradas desnecessárias, segundo Ashley Peterson, vice-presidente sênior de assuntos científicos e regulatórios do conselho.

“Precisamos de mais gemas para o povo”, afirmou o deputado Dusty Johnson, de Dakota do Sul, que co-patrocina um projeto de lei para permitir que esses ovos sejam usados na produção de alimentos.

Descarte de carne e ovos

Segundo o conselho, galinhas de corte botam cerca de 360 milhões de ovos por ano que não servem para chocar pintinhos. Alguns desses ovos são usados na fabricação de vacinas, exportados ou destinados a outros fins, mas a maioria é destruída.

A empresa Wayne-Sanderson Farms , uma das maiores produtoras de frango dos EUA, descarta cerca de 500 mil ovos por semana que não atendem aos padrões exigidos, disse Mark Burleson, diretor sênior de serviços veterinários da companhia.

Esses ovos eram vendidos para indústrias que os pasteurizavam e usavam na produção de alimentos processados. Porém, uma regra da FDA de 2009 — criada para reduzir casos de salmonela — passou a exigir que os ovos fossem refrigerados a 7°C (45°F) até 36 horas após serem postos.

Os produtores de frango mantêm os ovos de corte a cerca de 18°C (65°F) e não possuem a estrutura necessária para resfriá-los conforme a norma da FDA, argumentaram o conselho e os agricultores.

O conselho afirma que os ovos são pasteurizados e não representam risco à saúde pública, além de não haver histórico de problemas antes da regra de 2009.

Por outro lado, especialistas em segurança alimentar alertam que a falta de refrigeração adequada pode aumentar a presença de patógenos a níveis que a pasteurização não consegue eliminar totalmente.

“Existe um risco real de aumentar os casos de doenças transmitidas por alimentos ao colocar parte desses ovos no mercado de derivados de ovos”, afirmou Susan Mayne, ex-diretora do Centro de Segurança Alimentar e Nutrição Aplicada da FDA, quando analisou o pedido anterior.

Importação de ovos e mudanças na legislação

Em janeiro, o governo Trump autorizou a importação de ovos do Brasil para processamento em alimentos destinados ao consumo humano — antes, esses ovos só podiam ser usados em rações para animais, segundo a ABPA.

As autoridades brasileiras já haviam comprovado que o país atende aos requisitos dos EUA para exportação de ovos para consumo humano.

No entanto, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) alertou que o Brasil enfrenta a doença de Newcastle, um vírus que costuma ser fatal para aves, o que impede o país de fornecer ovos para venda em supermercados ou ovos líquidos pasteurizados para consumo humano nos EUA.

Alguns estados americanos, como Nevada e Arizona, suspenderam temporariamente leis de bem-estar animal que exigiam a venda apenas de ovos de galinhas criadas fora de gaiolas, tentando equilibrar a oferta e conter os preços elevados.

Em fevereiro, Nevada suspendeu uma lei de 2021 que determinava a venda exclusiva de ovos de galinhas livres de gaiolas no estado.

No Arizona, parlamentares discutem um projeto para revogar uma regra semelhante, que já havia sido adiada por causa da gripe aviária, segundo Patrick Bray, vice-presidente executivo do Arizona Farm and Ranch Group, que representa os produtores rurais.

“Há alguns anos, os consumidores exigiam ovos de galinhas livres de gaiolas”, disse Bray. “Agora, depois de perdermos centenas de milhões de aves e ver o preço dos ovos disparar, os consumidores estão revendo essa demanda.”



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