Tensão entre Israel e Síria


Presidente sírio Ahmed al-Sharaa: ontem jihadista, hoje pretensamente moderado
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Presidente sírio Ahmed al-Sharaa: ontem jihadista, hoje pretensamente moderado

Na semana passada, o exército israelense lançou ataques aéreos pontuais na área de Damasco e Sueida, reduto dos drusos na Síria, na tentativa de interromper o massacre em curso contra essa minoria no país. A campanha militar repercutiu negativamente no cenário internacional, sendo interpretada como uma tentativa de interferência na política interna síria.

Até mesmo Donald Trump se irritou com a iniciativa israelense — apesar de esta ser a terceira vez, desde que o novo presidente Ahmed al-Sharaa assumiu o governo sírio, em janeiro, que se presencia um massacre contra uma minoria local.

Israel, que adotou como política a vigilância extrema e preventiva sobre países inimigos, mobilizou-se diante do massacre em função de seu pacto com sua própria população drusa — uma minoria local que habita também o Líbano e a Síria. Escrevi sobre eles há alguns meses, aqui no iG.

DNA comum

Drusos e judeus convivem pacificamente há mais de um milênio na região, o que foi documentado pelo famoso historiador espanhol Benjamin de Tudela, em 1165.  Exames de DNA também revelaram que os drusos apresentam semelhança genética com os judeus asquenazes, oriundos da Europa Central.

Há também uma história curiosa segundo a qual, na década de 1960, o então soldado Benjamin Netanyahu teria se perdido nos picos gelados do Monte Hermon (na fronteira entre Israel e Síria), juntamente com sua unidade militar. O grupo foi localizado por um druso que, após dias de busca, conseguiu encontrá-los e conduzi-los de volta em segurança, salvando a vida do atual primeiro-ministro de Israel.

Na Israel moderna, fundada em 1948, os drusos compõem uma minoria pacífica e solidária. Destacam-se em muitas áreas da vida civil e, no exército, são conhecidos como combatentes leais, que alcançam altos postos dentro da organização. Há enorme respeito entre judeus e drusos israelenses, que convivem em harmonia, embora raramente se misturem: os drusos raramente se casam fora de sua comunidade.

Em 27 de julho de 2024, quando uma tragédia se abateu sobre a comunidade drusa israelense — um míssil do Hezbollah atingiu um campo de futebol na cidade drusa de Madjal Shams, a 2,5 quilômetros da fronteira com a Síria, matando 12 crianças —, Israel prometeu uma resposta dura. A retaliação ocorreu de fato e acabou permitindo que forças rebeldes tomassem o controle do país e expulsassem o ditador Bashar al-Assad, que governava com mão de ferro havia 29 anos.

Massacre de drusos em Sueida

Nas últimas semanas, ataques cruéis de hordas beduínas — posteriormente seguidas pelo exército de al-Sharaa, enviadas para “controlar a situação” — destruíram torres de comunicação e eletricidade, deixando o reduto druso sem energia e sem internet. Isso dificultou à população a divulgação dos horrores perpetrados, que deixaram um saldo de cerca de mil mortos, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

Foi uma espécie de reprise do ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, com relatos de decapitações, estupros, assassinatos de crianças diante dos pais, raptos de mulheres e humilhações de todas as formas. Netanyahu, com o apoio da sociedade israelense, prometeu à comunidade drusa local que ajudaria a defender seus irmãos na Síria.

No entanto, nem todos esses horrores foram perpetrados por beduínos, mas sim pelas forças de segurança do presidente al-Sharaa, que confunde o mundo ao apresentar um posicionamento moderado frente ao Ocidente, enquanto adota posturas brutais dentro de seu próprio país.

“Esse é o padrão: al-Sharaa estimula o confronto entre minorias para depois enviar suas ‘forças de segurança’, que aproveitam o caos para realizar massacres. Para a mídia internacional e líderes ocidentais, ele diz que não consegue controlar as facções internas, que abrirá investigações e punirá os responsáveis. No entanto, isso aconteceu três vezes nos últimos meses, o que demonstra um padrão claro de conduta”, afirma Rania Fadel Dean, drusa israelense que criou uma organização chamada Covenant, destinada a divulgar a realidade de sua comunidade nos Estados Unidos.

Tudo indica que esse tema não se encerrará aqui. Portanto, é bom que você conheça os fatos, para que consiga acompanhar os acontecimentos com discernimento — algo cada vez mais difícil nesse oceano de desinformação em que vivemos.



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