Tarcísio diz ao STF que Bolsonaro ‘jamais’ falou em golpe


Tarcísio foi indicado pela defesa de Bolsonaro por ter atuado como ministro da Infraestrutura durante o governo do ex-presidente
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Tarcísio foi indicado pela defesa de Bolsonaro por ter atuado como ministro da Infraestrutura durante o governo do ex-presidente

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas(Republicanos), prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), na manhã desta sexta-feira (30), como testemunha de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro(PL). 

O ex-ministro afirmou “jamais” ter tratado ou ter ouvido Bolsonaro tratar de qualquer assunto relativo a algum tipo de golpe, seja antes ou depois da eleição presidencial de 2022. “Assim como nunca aconteceu enquanto fui ministro”, acrescentou. 

A oitiva foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da Ação Penal 2668, que apura a suposta tentativa de golpe de Estado e os atos que resultaram no ataque às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. 

Tarcísio foi indicado pela defesa de Bolsonaro por ter atuado como ministro da Infraestrutura durante o governo do ex-presidente. No depoimento, o atual governador de São Paulo afirmou desconhecer qualquer envolvimento do ex-chefe do Executivo com alguma tentativa de ruptura institucional ou golpe de Estado. 

Tarcísio contou que visitou Bolsonaro algumas vezes no Palácio da Alvorada, em Brasília, “por amizade”, depois do resultado das eleições de 2022, quando o ex-presidente perdeu o cargo para o eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na ocasião, o ex-ministro já estava eleito governador e, por consequência, afastado do governo federal. 

“Da mesma forma, nesse período, na reta final do governo, nas visitas, tivemos várias conversas, jamais se tocou nesse assunto [de golpe ], jamais mencionou ruptura ”, assegurou Tarcísio. Segundo o ex-ministro, a única preocupação de Bolsonaro era “que a coisa desandasse” em decorrência da Covid-19 e da guerra na Ucrânia e, sobre isso, o ex-presidente “lamentava” a então situação do país. 

“Foi um período de situações difíceis, crises graves, Brumadinho, Covid, crise hídrica, guerra da Ucrânia e todas elas da melhor forma possível, terminamos com superávit. A preocupação [de Bolsonaro ] era que a coisa desandasse, uma preocupação com o futuro do país”, relatou.

As alegações do governador convergem com outras declarações feitas por ele sobre a ação em curso no STF. Em outras oportunidades, o ex-ministro chegou a falar que as acusações da Polícia Federal (PF) contra Bolsonaro são uma narrativa que “carece de provas”. Tarcísio é cotado como possível representante do bolsonarismo na corrida presidencial do próximo ano. 

Bolsonaro estava “triste e resignado”

Tarcísio ainda afirmou que Bolsonaro estava “triste e resignado” após a derrota nas eleições de 2022. O estado de desânimo do ex-presidente também foi relatado pelo ex-ministro da Casa Civil, hoje senador, Ciro Nogueira (PP/PI), que prestou depoimento nesta manhã

Segundo Nogueira, Bolsonaro ficou depressivo após a derrota nas urnas. Segundo ele, o ex-presidente estava com “falta de interesse pela situação do país”. Sobre a tentativa de golpe, o senador também negou conhecimento. 

Ao ser questionado pelo advogado Celso Vilardi, que defende Bolsonaro, sobre o ex-presidente ter mencionado algum tipo de ruptura nos encontros entre os dois após a derrota eleitoral. “Em hipótese nenhuma. Nunca aconteceu isso”, afirmou Nogueira. “Todas as determinações que o presidente me deu foi para que fizesse a transição da melhor forma possível”, completou. 

Em relação à transição entre o governo anterior para o novo mandato de Lula, o senador disse que tudo ocorreu “dentro da normalidade”. “O presidente em momento nenhum quis obstaculizar qualquer situação”, garantiu. Tanto Nogueira quanto Tarcísio foram ouvidos por videoconferência. 

Outras testemunhas

Ciro Nogueira também foi ouvido, nesta manhã, como testemunha do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres. Além dele, o STF colheu depoimento, em defesa de Torres, do deputado distrital João Hermeto (MDB); do senador Esperidião Amin (PP/SC); e do deputado federal Ubiratan Sanderson (PL/RS). 

Estava previsto para a manhã desta sexta também o depoimento de Valdermar da Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro. O líder partidário, entretanto, foi dispensado pela defesa de Torres.

Na parte da manhã, foram ouvidos, a favor de Bolsonaro, o governador Tarcísio e o senador Nogueira. A partir das 14h, o STF vai retomar a audiência e prestarão depoimento em defesa do ex-presidente, o coronel Wagner de Oliveira; o ex-assessor de assuntos jurídicos da Secretaria-Geral da presidência da República (SGPR), Renato de Lima França; o ex-secretário executivo da Casa Civil, Jonathas Assunção Salvador Nery; e o ex-Secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Giuseppe Dutra Janino. 

Estavam previstos, para esta tarde, os depoimentos dos ex-ministros Gilson Machado (Turismo), Eduardo Pazuello (Saúde), e o advogado Amaury Feres Saad, apontado no inquérito policial como um dos mentores intelectuais de uma minuta de decreto com teor golpista, mas foram esses dispensados pela equipe de defesa de Bolsonaro. 



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