Bactéria Klebsiella pneumoniae
Superbactérias com potencial para causar infecções graves e até mortes em humanos foram encontradas no interior de São Paulo, em locais comuns como solos agrícolas e águas superficiais. A descoberta acende um alerta sobre a presença silenciosa desses microrganismos resistentes fora do ambiente hospitalar, e aponta para os riscos que eles representam para a saúde pública.
Segundo estudos conduzidos por pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, bactérias como Klebsiella pneumoniae, Klebsiella quasipneumoniae e Acinetobacter bereziniae foram identificadas em amostras de solo utilizadas no cultivo de frutas e em cursos d’água de cidades como Jardinópolis, Ituverava e Franca.
As análises revelaram que essas bactérias carregam enzimas capazes de neutralizar antibióticos considerados de última linha, usados justamente em casos onde outros tratamentos falharam.
Em um dos levantamentos, publicado no Journal of the Science of Food and Agriculture, os pesquisadores encontraram, pela primeira vez no Brasil, duas enzimas do tipo carbapenemase coexistindo na mesma bactéria isolada de uma fonte aquática. Esse tipo de enzima é responsável por degradar os antibióticos mais potentes disponíveis atualmente, o que torna essas superbactérias ainda mais difíceis de combater.
Outra pesquisa, divulgada na revista World Journal of Microbiology and Biotechnology, detectou cepas da Acinetobacter bereziniae, até então pouco associada a infecções humanas, em uma tartaruga semiaquática. O microrganismo, no entanto, demonstrou não apenas capacidade de causar doenças, mas também de transferir seus genes de resistência para outras bactérias, ampliando a ameaça.
Esses microrganismos não ficam restritos a um único ambiente: circulam entre humanos, animais, plantas e o meio ambiente, o que, segundo os pesquisadores, acelera a propagação da resistência.
“Essas bactérias podem contaminar frutas e vegetais, e a transmissão para humanos pode ocorrer pelo contato com animais ou pelo consumo de alimentos malcozidos”, explica Rafael da Silva Rosa, doutorando da FCFRP-USP e um dos autores dos estudos.
Além da resistência aos antibióticos, os cientistas identificaram genes que aumentam o poder de infecção dessas bactérias, permitindo que escapem do sistema imunológico e provoquem doenças graves como meningite, pneumonia e infecções na corrente sanguínea.
De acordo com os pesquisadores, a presença dessas superbactérias no meio ambiente pode estar relacionada ao uso excessivo de antibióticos na agricultura, à poluição das águas e à aplicação de fertilizantes orgânicos sem controle. A Organização Mundial da Saúde já considera a proliferação de superbactérias uma das principais ameaças globais à saúde.
IG Último Segundo