STF mantém delação e avança em julgamento por tentativa de golpe


Ministros julgaram o ex-presidente Jair Bolsonaro
Reprodução/Youtube

Ministros julgaram o ex-presidente Jair Bolsonaro

Nesta terça-feira (25), o Supremo Tribunal Federal encerrou as duas primeiras partes do julgamento da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro(PL-RJ) e outros sete acusados, incluindo ex-ministros e aliados próximos. Os ministros mantiveram a delação de Mauro Cid e, na quarta (26), votarão o mérito do processo.

A acusação central envolve tentativa de golpe de Estado e a formação de uma organização criminosa armada, com o objetivo de desestabilizar o regime democrático e depor o governo eleito.

A Primeira Turma do STF é a responsável pela análise do caso, que continuará na quarta (26).

O julgamento começou pela leitura detalhada do relatório do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo.

O magistrado destacou a gravidade dos crimes atribuídos aos réus, que teriam se organizado desde julho de 2021, culminando nos eventos de 8 de janeiro de 2023, quando os Três Poderes foram atacados.

Moraes classificou as ações como uma tentativa coordenada de abolição do Estado Democrático de Direito, caracterizando-as como uma “organização criminosa estável e permanente”.

A denúncia contra Bolsonaro, ex-ministros e outros aliados inclui acusações de dano qualificado ao patrimônio público e deterioração de patrimônio tombado.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, também se manifestou durante o julgamento, detalhando os argumentos contra os réus.

Segundo Gonet, Bolsonaro incentivou ataques ao sistema eleitoral e a utilização da força em uma reunião ministerial de 2022, além de estimular mobilizações que pediam intervenção militar.

A acusação foi corroborada pelas delações de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, cujos depoimentos apontam a participação de Bolsonaro e outros membros do governo em um possível golpe.

As defesas

Ao longo da manhã, as defesas dos réus se manifestaram. Advogados de Bolsonaro, como Celso Sanchez Vilardi, alegaram que o ex-presidente foi vítima de uma perseguição política e refutaram a acusação, classificando a “minuta do golpe” como um simples decreto de Estado de Defesa que necessitaria da aprovação do Congresso Nacional.

O defensor também questionou a validade das provas apresentadas, particularmente as relacionadas à delação de Mauro Cid, argumentando que o material precisa ser corroborado por provas concretas.

As defesas de outros acusados, como o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, também buscaram desqualificar as acusações, alegando a ausência de elementos concretos que comprovassem a participação dos réus nos supostos planos golpistas.

Bolsonaro vai ver o julgamento no STF
TV Justiça

Bolsonaro vai ver o julgamento no STF

As sustentações orais foram marcadas por críticas ao processo e à falta de evidências para sustentar as acusações.

Votação das questões preliminares

O Supremo Tribunal Federal negou, por unanimidade, o pedido de anulação da colaboração premiada do tenente-coronel Mauro Cid.

Os ministros rejeitaram os argumentos apresentados pelas defesas, mantendo a validade do acordo firmado entre o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro e a Polícia Federal.

Durante a sessão, o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, afirmou que a delação foi voluntária e seguiu os trâmites legais.

Moraes também rebateu alegações de coação, negando que tenha exercido pressão indevida sobre Cid ao alertá-lo de que a omissão de informações poderia levar à anulação do acordo.

Além disso, afirmou que o sigilo do depoimento foi retirado para garantir transparência, destacando que a Justiça não será intimidada por pressões externas ou por grupos organizados.

O ministro mencionou de forma indireta a viagem do deputado Eduardo Bolsonaro aos Estados Unidos, ressaltando a independência do Judiciário brasileiro.

Os ministros analisaram ainda outros pedidos de nulidade apresentados pelas defesas, incluindo questionamentos sobre a legalidade da investigação e a coleta de provas. Todas as solicitações foram rejeitadas.

Outro ponto discutido foi a alegação de que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, teria utilizado provas que não estavam nos autos, o que também foi negado por Moraes, que apresentou registros de acesso aos documentos do inquérito pelos advogados dos réus.

A Corte também rejeitou a necessidade de um juiz de garantias no processo, entendimento seguido por todos os ministros.

Única divergência entre os ministros

Sobre a competência do STF para julgar o caso, houve divergência entre os magistrados. Enquanto Moraes, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin consideraram que a análise deveria permanecer no Supremo, o ministro Luiz Fux abriu divergência sobre a questão.

Relator apresentou argumentos

Moraes fez a leitura do relatório
YouTube

Moraes fez a leitura do relatório

Ao longo da sessão, Moraes fez um pronunciamento rebatendo críticas sobre supostas condenações excessivas de idosos nos processos relacionados aos atos de 8 de janeiro.

Ele apresentou dados que indicam que apenas sete condenados tinham mais de 70 anos e que 43 réus tinham mais de 60 anos, contrariando a narrativa de que o tribunal estaria sendo desproporcional nas penas.

O ministro ressaltou que as decisões seguem critérios jurídicos e que as imagens registradas dos atos demonstram a gravidade das condutas dos envolvidos.

Após a votação das questões preliminares, a sessão foi interrompida e será retomada no dia seguinte.

Julgamento continuará

O julgamento seguirá com mais sessões, durante as quais serão avaliadas as alegações e, se a maioria dos ministros aceitar a denúncia, o processo passará para a fase de instrução, com a coleta de provas e depoimentos.

Caso a denúncia seja rejeitada, a ação será arquivada, embora haja possibilidade de recurso.

O Portal iG acompanhará em tempo real os desdobramentos desse processo e as implicações políticas que podem surgir das decisões do STF na quarta (26).



IG Último Segundo