Soldado Wenderson Nunes Otávio
Inquérito do Exército aponta suicídio no caso do soldado Wenderson Nunes Otávio, de 19 anos, que morreu em um alojamento militar, no Rio de Janeiro, mas perícia independente diz que versão é “fisicamente impossível”. As informações são do Fantástico.
A morte ocorreu no dia 15 de janeiro de 2025, por volta das 16h50, um mês antes de ele completar 20 anos.
O Exército informou à família, inicialmente às 20h40 daquele dia, que se tratava de um ” acidente “.
Posteriormente, o comando do batalhão disse aos pais que o jovem havia cometido suicídio, versão mantida no inquérito policial militar.
No entanto, uma análise pericial independente realizada a pedido do Fantástico descartou essa hipótese.
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Os pais de Wenderson, Adilson Firmino Rosa e Cristiana da Silva Nunes, e sua namorada rejeitam veementemente a tese de suicídio.
Cristiana relatou que recebeu um telefonema do quartel por volta das 20h40 informando sobre um “acidente”, segundo o Fantástico.
Já no batalhão, o comandante Douglas dos Santos Leite afirmou que o filho havia se matado.
“Aí eu falei pra ele que isso é impossível, que eu conheço o meu filho, que eu queria saber a verdade”, disse Adilson.
A namorada do soldado também contestou: “É mentira! A gente estava bem… E era um cara que eu amava muito, muito mesmo”.
Wenderson foi levado ao Hospital Central do Exército, mas teve morte cerebral confirmada cinco dias depois.
O que diz o inquérito militar
O inquérito militar, colheu depoimentos de três colegas de alojamento de Wenderson, informa o Fantástico.
Eles afirmaram estar descansando quando ouviram o tiro e encontraram o soldado caído no chão, sangrando e inconsciente, com uma pistola 9mm próxima ao corpo.
Os três disseram que Wenderson estava com problemas com a namorada e que teria atirado em si após o término do relacionamento.
A perícia de local concluiu que Wenderson estava sentado em um sofá, inclinado como se estivesse calçando o coturno, no momento do disparo.
Perícia independente contesta
Contrariando o inquérito militar, o médico legista Dr. Luiz Carlos Prestes, que analisou o relatório pericial a pedido do Fantástico, afirmou que as evidências descartam o suicídio.
“O trajeto [do projétil] traduz que esse disparo foi feito pelo atirador provavelmente em pé, à direita da vítima e que fez um disparo a distância. Não foram absolutamente encontrados vestígios no corpo da vítima de disparo a curta distância ou ainda com a arma encostada, que é típico daqueles casos de suicídio. Portanto, baseado nesses achados técnicos, está descartada a hipótese de suicídio “.
Ele reforçou que o tiro foi dado a mais de um metro de distância e de cima para baixo.
A questão da arma
A análise de DNA na pistola 9mm revelou perfis genéticos de Wenderson e dos três colegas que testemunharam. No entanto, os testes para resíduos de pólvora nas mãos dos quatro soldados deram negativo.
A investigação apontou que a arma estava sob a responsabilidade do soldado Jonas Gomes Figueira, vizinho e amigo de Wenderson e uma das três testemunhas-chave.
Figueira declarou que ele e os colegas não manusearam a arma no alojamento. Porém, outra testemunha ouvida pelo Exército afirmou que Figueira, Wenderson e ela mesma mexeram na pistola.
O inquérito também apurou que o terceiro sargento Alessandro ordenou a entrega das armas antes de entrar no alojamento, mas não fiscalizou o cumprimento da regra.
O advogado do soldado Jonas Figueira informou em nota que ainda não teve acesso à íntegra do inquérito e das perícias, afirma o Fantástico.
Em nota, o Exército afirmou que manteve contato com a família, ofereceu atendimento psicológico e médico, e forneceu informações sobre o inquérito “dentro dos limites legais”, informa o programa.
A corporação ressaltou que a investigação segue em segredo de justiça e sob responsabilidade do Ministério Público Militar.
IG Último Segundo