
Treinamento de combate a incêndios realizado pela Defesa Civil e bombeiros em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo, em 2 de abril.
O estado de São Paulo registrou, em julho, o menor número de focos de queimadas para o mês desde 2015, segundo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( Inpe). Foram 219 pontos de incêndio de 1º até 28 de julho deste ano contra os 139 registrados há dez anos (veja gráfico abaixo).

Focos de incêndio em julho em SP
Este mês foi o segundo consecutivo em que houve um recorde histórico positivo: em junho, foram contabilizados 55 focos de queimadas, o menor número desde 2012. No ano passado, a quantidade havia sido quase dez vezes maior: 532.

Focos de incêndio em junho em SP
O tenente Maxwel Souza, da Defesa Civil de São Paulo, explica ao iG que a queda, particularmente no mês de junho, se deve às novas tecnologias e ao monitoramento em tempo real dos focos de incêndio.
Este ano é o primeiro em que o estado conta com a Sala SP Sem Fogo, montada no Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), no Palácio dos Bandeirantes. Lá, especialistas monitoram dados, que vêm de satélites e radares, mostrando pontos de calor em um mapa do estado. A partir dessas informações, decidem como agir.
“ Quando uma dessas ferramentas tecnológicas aponta um foco de incêndio num local, eles [os especialistas] cruzam várias informações para identificar se esse foco é real ou é um falso positivo do sistema. Sendo ativo, já se inicia o combate imediato ”, disse o tenente.
Também é possível fazer uma previsão de como estarão as condições meteorológicas no dia seguinte no local. A partir dessa análise, é possível saber se, por exemplo, haverá aumento na temperatura, baixa umidade do ar ou velocidade do vento com intensidade média ou alta – condições que favorecem o fogo e o espalhamento dos incêndios.

Treinamento de combate a incêndios realizado pela Defesa Civil e bombeiros em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo, em 2 de abril.
Uma outra novidade deste ano é o uso de retardante para as chamas, explica o tenente Maxwel.
“ É um produto capaz de potencializar a água em até cinco vezes. Isso gera uma economia de até 60% em termos de recursos para combate. A gente diminui em até cinco vezes o tempo para apagar um foco de incêndio – se eu demoraria cinco horas para combater um incêndio, eu consigo fazer isso em uma hora ”.
Inverno: risco aumentado
A estação seca em São Paulo vai até outubro – época que exige atenção redobrada no combate aos incêndios. O interior do estado está em nível de alerta para risco de queimadas até, pelo menos, o próximo domingo (2).
O mapa de riscos de incêndio, também elaborado pela Defesa Civil, ajuda a elaborar ações de prevenção, agindo de forma anterior aos satélites.

Mapa de risco de incêndio para quinta-feira (31/07), no estado de São Paulo.
“ Quando está na cor de alerta, aquele local está mais suscetível a ter incêndio. Esses indicadores demandam ações por parte do município e do estado, como, por exemplo, as vistorias que são feitas usando drones, aviões, e, também, as viaturas ”, explica o tenente Maxwel Souza.
“ As equipes vão nessas áreas de vegetação e vistoriam a área, porque às vezes o foco de incêndio começa por baixo da copa da árvore. Não dá para ver, o satélite não consegue enxergar ”.
Usando inteligência artificial, a ferramenta faz um cruzamento de indicadores como velocidade do vento, temperatura, umidade relativa do ar, quantidade de chuva que ocorreu e previsão de chuva futura. A partir daí, determina o nível de risco.
Tanto os satélites quanto o mapa de riscos constituem a chamada fase vermelha de enfrentamento ao fogo, que é quando o risco de incêndios atinge o máximo.
E o nível de alerta deve continuar a médio prazo: historicamente, segundo os dados do Inpe, os meses de agosto e setembro são os que tiveram os recordes mais altos em focos de incêndio. No ano passado, foram 3.612 pontos em agosto e 2.522 em setembro.
Treinamentos e conscientização

Treinamento de combate a incêndios realizado pela Defesa Civil e bombeiros em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo, em 2 de abril.
Mas o enfrentamento ao fogo vai além do monitoramento feito da sala no CGE. O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil também fazem treinamentos presenciais em todo o estado para que, quando surjam, os focos de incêndio sejam apagados o mais rápido possível.
Neste ano, três mil pessoas, das defesas civis e brigadas municipais de 600 cidades de São Paulo receberam os treinamentos entre abril e maio. Essa etapa é chamada de “fase amarela” de prevenção de incêndios. Entre as ações desse tipo de capacitação está a construção de aceiros – espécie de vala construída entre as vegetações para evitar a propagação das chamas.
“ O trator passa e abre uma clareira, evitando que a mata chegue na outra mata – porque o fogo passa por contato, por calor ”, explica o tenente Maxwel.
Isso permite, por exemplo, que um incêndio iniciado em um canavial não atinja uma vegetação em área de proteção, onde as perdas ambientais seriam maiores.
A capacitação dos municípios inclui, também, a distribuição de material para combate às chamas.
“Todos os municípios do estado terão ao menos uma viatura de defesa civil com um kit de combate a incêndio. É um implemento que vai instalado na carroceria da caminhonete, que é utilizado para combate de focos iniciais de incêndio”, explica o tenente Maxwel.
As viaturas são carros do tipo picape ou caminhonete que, por serem menores que o caminhão do corpo de bombeiros, conseguem acessar áreas remotas dos municípios, chegando mais rápido.
“ Todo grande foco [de incêndio] começa pequeno. Muitos deles são combatidos pela defesa civil municipal [e não pelos bombeiros]”, esclarece.
Outra estratégia de prevenção de desastres são as ações de conscientização e educação, que incluem idas a escolas.
“ Nós trabalhamos com crianças do quinto ano da rede pública de ensino explicando como elas devem agir diante dos riscos. A gente treina os professores, que multiplicam o conhecimento em sala de aula, de forma transversal, no currículo, e, ao final de 3 meses de aulas com os alunos, é desenvolvida uma gincana ”, explica Maxwel.
O tenente esclarece que o contato direto com as população é importante porque, a cada 10 incêndios registrados no estado, 9 são causados por ação humana – ainda que nem sempre de forma criminosa, como no caso da soltura de balões.

Faixa da Operação SP Sem Fogo, do Governo de São Paulo alerta para os riscos causados pela soltura de balões.
“ Essa é intencional, tem dolo – a pessoa vai lá e faz porque quer. Tem a não intencional: seu Antônio, um senhorzinho que costumeiramente queima o lixo da casa dele. É uma prática já familiar que ele aprendeu com o avô, o pai, só que ele não tem noção que isso é crime, que isso pode gerar um grande incêndio ”, esclarece.
IG Último Segundo