
Indicadores compilaram dados sobre a violência nos estados
Os estados do Nordeste e do Norte se destacam como os mais violentos do Brasil, segundo dados de três estudos compilados pelo Portal iG.
No Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, que tem como principal indicador as Mortes Violentas Intencionais (MVI), o Amapá lidera o ranking, seguido pela Bahia.
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Entre os 10 estados com maior taxa de MVI por 100 mil habitantes, nove são das duas regiões — a exceção é o Mato Grosso, na sétima posição, com taxa de 30,4 mortes. Além disso, metade dos dez mais letais é de estados do Nordeste.
Junto do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do FBSP, o iG analisou outros dois dos principais indicativos de violência do Brasil: o Atlas da Violência, do IPEA, e o Mapa da Segurança Pública, do Ministério da Justiça, ambos em suas versões mais atualizadas.
Todos as análises levam em consideração o recorte para 100 mil habitantes. Luís Flávio Sapori, professor e especialista em segurança pública da PUC-MG, contou ao iG que os estudos da violência sempre trabalham com este indicador de taxa do crime.
“Através da taxa, é possível efetivamente comparar a magnitude de um fenômeno criminoso numa cidade de 100 mil habitantes, 200 mil, com uma cidade de 2 milhões, 3 milhões ou mesmo com uma cidade de 50 mil habitantes, onde o número absoluto sempre vai estar relacionado ao tamanho da população, então a taxa equaliza as populações, evita distorções no diagnóstico do fenômeno” , explica.
Números por mortes violentas intencionais

As mortes violentas diminuíram no Brasil
Um dos principais indicadores para se definir a taxa de violência de um estado é o de Mortes Violentas Intencionais (MVI). Com a análise dos dados totais de 2024, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 elaborou um ranking do maior índice para o menor. Com um total de 362 mortes violentas intencionais no último ano, o Amapá lidera entre os mais violentos, com a taxa de 45,1 mortes.
A Bahia foi o estado que mais registrou MVIs, com 6.036 mortes. No ranking, no entando, ocupa o segundo lugar, já que a taxa por 100 mil habitantes é de 40,6. O número total é quase o dobro do segundo estado com mais mortes: o Rio de Janeiro registrou 3.809 óbitos que se enquadram na categoria, ocupando a 15ª posição (a taxa por 100 mil habitantes é de 22,1).
Sapori analisa como grave o caso da Bahi,a que, para ele, é o estado com o maior problema da violência hoje na sociedade brasileira.
“Há um descontrole claro da criminalidade na Bahia. O tráfico de drogas está cada vez mais estruturado, com várias facções atuando tanto em Salvador e na região metropolitana quanto em cidades importantes do interior, muitas delas ligadas a organizações nacionais” , diz o especialista.
Essa disputa pelo mercado de drogas tem aumentado os homicídios. Ao mesmo tempo, ainda de acordo com o professor, a atuação da polícia, especialmente da Militar, tem se mostrado ineficaz e marcada por violência.
Ranking dos estados mais violentos a partir da taxa MVI*:
- Amapá – 45,1 (nº absolutos: 362)
- Bahia – 40,6 (nº absolutos: 6.036)
- Ceará – 37,5 (nº absolutos: 3.467)
- Pernambuco – 36,2 (nº absolutos: 3.453)
- Alagoas – 35,4 (nº absolutos: 1.141)
- Maranhão – 30,4 (nº absolutos: 2.129)
- Mato Grosso – 29,8 (nº absolutos: 1.142)
- Pará – 29,5 (nº absolutos: 2.560)
- Amazonas – 27,4 (nº absolutos: 1.173)
- Rondônia – 26,1 (nº absolutos: 455)
- Paraíba – 25,6 (nº absolutos: 1.060)
- Rio Grande do Norte – 24,2 (nº absolutos: 833)
- Espírito Santo – 23,9 (nº absolutos: 980)
- Sergipe – 22,8 (nº absolutos: 522)
- Rio de Janeiro – 22,1 (nº absolutos: 3.809)
- Acre – 20,3 (nº absolutos: 179)
- Piauí – 20,3 (nº absolutos: 685)
- Tocantins – 19,8 (nº absolutos: 430)
- Goiás – 18,8 (nº absolutos: 1.379)
- Mato Grosso do Sul – 18,7 (nº absolutos: 544)
- Roraima – 18,6 (nº absolutos: 133)
- Paraná – 18,4 (nº absolutos: 2.170)
- Minas Gerais – 15,1 (nº absolutos: 3.214)
- Rio Grande do Sul – 15,0 (nº absolutos: 1.687)
- Distrito Federal – 8,9 (nº absolutos: 266)
- Santa Catarina – 8,5 (nº absolutos: 685)
- São Paulo – 8,2 (nº absolutos: 3.751)
*Dados do Anuário de Segurança Pública 2025
O que são as MVIs?
As mortes violentas intencionais são um agrupamento de crimes para medir a letalidade criminal do país ou de um estado. Estão incluídos: homicídio doloso, latrocínio(roubo seguido de morte), morte decorrente de intervenção policial e lesão corporal seguida de morte. É o principal indicador da violência utilizado pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
A taxa MVI nacional, feita a partir da média dos estados, ficou em 20,8 mortes por 100 mil habitantes. O estudo indica que houve redução de 5,4% nas MVIs de 2023 para 2024. No total, o país registrou 44.127 mortes.
Taxas de homicídios

Mortes geradas por agentes públicos também entram na análise do Atlas da Violência
Segundo o Atlas da Violência, estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o FBSP, o ranking de estados mais violentos é medido a partir do número de assassinatos. Diferente do Anuário de Segurança Pública, esta pesquisa leva em consideração apenas os homicídios.
O ano mais recente analisado pelo estudo foi o de 2023. Segundo os dados, a taxa nacional, considerando registros oficiais, é de 21,2 homicídios por 100 mil habitantes — em números absolutos, foram 45.747 mortes. O estado com a maior taxa também é o Amapá, com 57,4 homicídios no mesmo recorte. O estado de São Paulo apresentou a menor taxa, com 6,4 homicídios.
Na comparação com 2022, nove estados registraram alta: Alagoas (4,7%), Amapá (41,7%), Maranhão (3%), Mato Grosso (1,7%), Mato Grosso do Sul (5,1%), Minas Gerais (3,2%), Pernambuco (8%), Rio de Janeiro (13,6%) e Rio Grande do Sul (0,6%). A nível nacional, o índice teve um recuo de 2,3%.
Ranking dos estados mais violentos a partir da taxa de homicídios*:
- Amapá — 57,4 (nº absolutos: 516)
- Bahia — 43,9 ( nº absolutos: 6.616)
- Pernambuco — 38,0 (nº absolutos: 3.697)
- Amazonas — 36,8 (nº absolutos: 1.555)
- Roraima — 35,9 (nº absolutos: 219)
- Alagoas — 35,3 (nº absolutos: 1.194)
- Ceará — 32,0 (nº absolutos: 2.992)
- Mato Grosso — 30,8 (nº absolutos: 1.105)
- Rondônia — 30,0 (nº absolutos: 552)
- Sergipe — 29,4 (nº absolutos: 698)
- Pará — 28,6 (nº absolutos: 2.542)
- Maranhão — 27,9 (nº absolutos: 2.008)
- Espírito Santo — 27,7 (nº absolutos: 1.161)
- Paraíba — 26,5 (nº absolutos: 1.079)
- Rio Grande do Norte — 26,4 (nº absolutos: 955)
- Tocantins — 25,8 (nº absolutos: 419)
- Rio de Janeiro — 24,3 (nº absolutos: 4.292)
- Acre — 23,7 (nº absolutos: 217)
- Piauí — 22,0 (nº absolutos: 725)
- Goiás — 21,4 (nº absolutos: 1.583)
- Mato Grosso do Sul — 20,7 (nº absolutos: 584)
- Paraná — 18,9 (nº absolutos: 2.214)
- Rio Grande do Sul — 17,2 (nº absolutos: 1.981)
- Minas Gerais — 12,9 (nº absolutos: 2.795)
- Distrito Federal — 11,0 (nº absolutos: 347)
- Santa Catarina — 8,8 (nº absolutos: 658)
- São Paulo — 6,4 (nº absolutos: 3.043)
*Dados do Atlas da Violência 2025
Homicídios dolosos

Na esquerda, mapa do país pela quantidade de homicídios dolosos. Na direita, o mesmo mapa a partir da taxa por 100 mil habitantes.
Já a análise feita pelo Mapa da Segurança Pública, feita pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), tem como foco os homicídios dolosos, aqueles com a intenção de matar. O estudo indica que o país registrou 35.265 mortes deste tipo em 2024, uma redução de 6,33% em relação ao ano anterior.
As maiores reduções foram em Tocantins (35,7%), Amapá (28,7%), Roraima (24,8%), Rio Grande do Norte (22,1%) e Sergipe (18,4%). Enquanto isso, os aumentos foram vistos no Maranhão (11,5%), Ceará (9,8%), Minas Gerais (7,4%) e Paraíba (2,1%).
Nos números totais, a Bahia lidera o ranking com 4.205 mortes, enquanto Roraima registrou a menor quantidade de homicídios dolosos. O ranking feito pelo MJSP leva em consideração o número total de homicídios em relação à população estimada do estado.
Em 2024, 45,8% dos homicídios dolosos do país ocorreram no Nordeste, que concentrou 16.022 vítimas, mesmo com uma redução de 2,81% em relação a 2023. A Região Norte apresentou a maior queda proporcional, de 16,44%, somando 4.249 casos. No Centro-Oeste, foram 2.369 homicídios, o que equivale a uma redução de 7,61%.
No Sudeste, houve 9.274 vítimas, uma queda de 4,17%. Já a Região Sul registrou 3.451 homicídios dolosos, retração de 12,43% em relação ao ano anterior.
Estados com maiores taxas de homicídios dolosos em 2025*:
- Ceará — 34,4 (nº absolutos: 3.178)
- Pernambuco — 33,5 (nº absolutos: 3.200)
- Alagoas — 31 (nº absolutos: 997)
- Bahia — 28,3 (nº absolutos: 4.205)
- Maranhão — 27,3 (nº absolutos: 1.914)
- Amapá — 26,9 (nº absolutos: 216)
- Amazonas — 24,5 (nº absolutos: 1.049)
- Pará — 24 (nº absolutos: 2.084)
- Rondônia — 23,9 (nº absolutos: 417)
- Paraíba — 23 (nº absolutos: 953)
- Mato Grosso — 22,3 (nº absolutos: 855)
- Espírito Santo — 19,8 (nº absolutos: 813)
- Rio de Janeiro — 18,8 (nº absolutos: 3.231)
- Rio Grande do Norte — 18,5 (nº absolutos: 636)
- Acre — 17,7 (nº absolutos: 156)
- Piauí — 17,3 (nº absolutos: 584)
- Sergipe — 15,5 (nº absolutos: 355)
- Roraima — 14,8 (nº absolutos: 106)
- Mato Grosso do Sul — 14,5 (nº absolutos: 421)
- Tocantins — 14 (nº absolutos: 221)
- Minas Gerais — 13,4 (nº absolutos: 2.853)
- Paraná — 13,1 (nº absolutos: 1.554)
- Rio Grande do Sul — 12,4 (nº absolutos: 1.397)
- Goiás — 12,1 (nº absolutos: 890)
- Distrito Federal — 6,8 (nº absolutos: 203)
- Santa Catarina — 6,2 (nº absolutos: 500)
- São Paulo — 5,2 (nº absolutos: 2.377)
*Dados do Mapa da Segurança Pública 2025
Em termos absolutos, a Bahia liderou com 4.205 homicídios dolosos. Porém, no recorte de taxas por 100 mil habitantes, o estado é ultrapassado por Ceará, Pernambuco e Alagoas. São Paulo teve a menor taxa proporcional do país, apesar de ser o sexto em números absolutos. A taxa nacional ficou em 16,64 mortes.
Amapá é o estado mais violento do país
A comparação feita pelo iG entre os três principais índices de violência nos estados mostra que os rankings pouco variam. Com base nos levantamentos, pode-se afirmar que o Amapá é o estado mais violento do país.
Luís Flávio Sapori explicou ao iG que o homicídio é o crime mais utilizado para diagnosticar a magnitude da violência num contexto social.
“Supostamente, ele vai ser um indicador mais preciso e mais confiável para poder diagnosticar o fenômeno, segundo a premissa de que a subnotificação do homicídio tende a ser menor do que de outros crimes” , analisa..
Redução da violência
Segundo Sapori, uma das explicações mais consistentes para a queda da violência está na “acomodação do conflito entre o PCC e o Comando Vermelho em nível nacional” . Essa trégua relativa teria reduzido a intensidade das disputas territoriais no tráfico de drogas, o que, por consequência, diminuiu os homicídios.
O especialista ressalta, no entanto, que não se pode ignorar os avanços em políticas públicas. “Alguns estados têm tido políticas de segurança muito eficientes, muito competentes. Tem coisa boa acontecendo no Brasil” , destaca.
Entre os exemplos positivos, o especialista cita o Rio Grande do Sul, que, em sua avaliação, possui hoje a melhor política de segurança pública do Brasil. Ele atribui o resultado ao modelo integrado entre polícias, Ministério Público e Judiciário, marcado por gestão por resultados, uso intensivo de inteligência e controle rigoroso da letalidade policial.
Além do Rio Grande do Sul, também foram mencionados casos de sucesso em estados como Paraíba e Espírito Santo. “São boas políticas regionais de segurança e isso ajuda também, e muito, a reduzir a violência” , concluiu.
IG Último Segundo