quais os próximos passos das negociações


Trump e Lula tiveram reunião de 50 minutos de portas fechadas
Ricardo Stuckert / PR

Trump e Lula tiveram reunião de 50 minutos de portas fechadas

Passada a expectativa do primeiro encontro oficial dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump para conversar sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras, após uma breve conversa na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a questão agora é: o que esperar dos próximos passos das negociações?

Lula e Trump se encontraram às margens da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático, na Malásia.

Apesar de breve, o encontro foi “supreedentemente bom” , na opinião de Lula. Trump concordou, elogiou Lula e parabenizou o presidente brasileiro pelo seu aniversário de 80 anos, nesta segunda-feira (27).

A reunião na Malásia foi o primeiro passo para um acordo difícil, no qual o Brasil terá que ceder. E o desfecho poderá levar semanas ou até meses. Essa é a opinião do professor de Relações Internacionais e Economia do Ibmec, Alexandre Pires, que fez uma análise da situação em entrevista ao  Portal iG.

Praxe diplomática

Pires explica que o encontro foi o início de um mecanismo bilateral, ou seja, marcou a autorização dos chefes de Estado para que as suas equipes comecem as negociações. Na sequência, ainda na Malásia, como é a praxe diplomática, ocorreu a definição de agendas e do local.

“Havia expectativa ali das equipes de que alguma coisa avançasse pelo lado americano, mas obviamente que a negociação vai ser dura”, afirmou, destacando que o Brasil está sob investigação na representação comercial americana, com relação às suas práticas.

“Existe um estado de emergência econômico lançado só sobre o Brasil, então existem pontos duros. Uma parte considerável dos elementos para a tarifa de 40% que se somou à de 10%, em abril, tem componentes políticos, jurídicos, regulatórios. E da mesma maneira que outros países estão tendo que ceder tremendamente para fazer acordos com os Estados Unidos, com o Brasil não vai ser diferente”, enfatiza o especialista.

Ainda na opinião do professor, os acordos que têm sido assinados por outros países seriam duros para o Brasil aceitar.

“Especialmente zerar as tarifas para produtos americanos e eliminar, na totalidade ou quase na totalidade, barreiras não tarifárias. Isso tudo vai entrar em questão. Ainda mais com um componente geopolítico, por exemplo, a aproximação do Brasil com a China, e a questão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Vários pontos provavelmente vão ser usados pelos americanos nessas negociações para tentar tirar do Brasil um acordo muito semelhante ao acordo que outros países tiveram que assinar com os americanos” , adverte Pires.

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Segundo ele, os próximos passos agora são os agendamento dos encontros, que deverão ocorrer nos Estados Unidos, além da definição das equipes, as autorizações e vistos. Também se espera o resultado das investigações americanas sobre o comércio brasileiro.

Foco agora é a China

De qualquer forma, o professor de Relações Internacionais ressalta que o foco dos Estados Unidos agora é a China e a busca pela assinatura de um acordo comercial que poderá ocorrer em Gyeongju, na Coreia do Sul, no final deste mês, no encontro entre Trump e Xi Jinping.

“Depois disso, o Brasil pode voltar à pauta e aí a discussão pode se acelerar ou não. Nós temos que lembrar que a China está lá há praticamente sete ou oito meses negociando com um poder de barganha muito maior que o nosso. Outros países tiveram que ceder rapidamente e o Brasil já está aí enfrentando as tarifas há três meses. Então, agora vamos ver como as equipes procedem”, pondera.

O que vai para a mesa de negociações

Alexandre Pires afirma ainda que há muito tempo a diplomacia brasileira não enfrenta negociações bilaterais; o Brasil tem privilegiado fóruns multilaterais.

“Mas o mundo mudou e agora resta esperar como que o Brasil vai responder às exigências, aos pontos da pauta dos americanos e o que nós vamos conseguir colocar na mesa de negociação. Temos minerais críticos, terras raras, temos um mercado consumidor grande para alguns produtos americanos, também para o etanol. O mercado nosso de licitações públicas provavelmente vai entrar na pauta, a questão das big techs, as regulações da Anatel, a questão de pagamento como PIX, enfim, vários pontos vão ser colocados e o Brasil agora vai ter que costurar com os americanos alguma saída” , aponta Pires.

Ele afirma ainda que a equipe brasileira sabe qual é o acordo comercial que os Estados Unidos já têm escrito; resta saber se vai conseguir modificar os termos sem que os parceiros americanos que já assinaram outros acordos venham a se sentir desprivilegiados em relação ao Brasil.

“Vai ser tudo muito difícil, muito duro e talvez exija semanas ou meses. Torcemos para que seja feito de uma maneira rápida, eliminando essas tarifas que pesam sobre as empresas brasileiras e, consequentemente, sobre o potencial de crescimento do Brasil”, finaliza o professor Alexandre Pires.



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