
Pressão e risco eleitoral derrubam ”PEC da Bandidagem”
Que ninguém se engane.
Se pudessem, os senadores que acabam de derrubar a PEC da Bandidagem na Comissão de Constituição e Justiça na Casa votariam em peso em defesa do projeto que blinda parlamentares de investigações e operações policiais.
Problemas com a Justiça e a policia não são monopólio da Câmara dos deputados, onde a PEC foi gestada. Farra com emendas, também.
Mas a pressão feita pela população há uma semana, com direito a showmÍcio de Chico, Caetano, Gil e grande elenco no domingo (21), deixou evidente o vespeiro na mão dos senadores.
Eles não são mais puros que os colegas da vizinhança. Só estão mais expostos.
Em 2026, um terço do Senado estará em disputa. A eleição para senador, como se sabe, é majoritária. Vence quem têm o maior número absoluto de votos em seus estados e fim.
A campanha se assemelha a de candidatos a governadores, com quem costumam cumprir agendas juntos. E seria difícil explicar para a população que alguém capaz de defender um projeto como aquele merecia uma das duas vagas em disputa.
Na Câmara, o vai-que-cola era um cálculo estratégico. O número de vagas em disputa é maior. E os deputados são eleitos pelo sistema proporcional: a divisão de cadeiras acontece conforme o desempenho de cada partido. Numa campanha mais pulverizada, a chance de obter um novo mandato, desde que em um partido capaz de eleger uma grande bancada, é ainda considerável, mesmo com o desprezo escancarado pelo eleitor.
Relator da proposta, o senador Alessandro Vieira (MDB), um ex-policial eleito com uma bandeira de combate à corrupção, sabia da encrenca nas mãos e desancou o projeto dos deputados. Fez bem em dizer que a PEC seria uma porta entrada para bandidos na política (os que ainda não têm mandato).
Afinal, não teria lugar melhor para fugir da policia do que um gabinete parlamentar. Ou o comando de um partido politico, por menor que fosse, já que presidentes das legendas também precisariam do endosso parlamentar para serem investigados.
Os senadores perceberam a tempo o erro e deixaram o constrangimento todo com a Câmara, onde centrão e bolsonaristas bancaram o projeto em troca da anistia. Deu bem errado. Melhor para o Brasil.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG
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