prática de manipular informações vem de séculos


Registros de falsificação de documentos mostram a prática de fake news há séculos
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Registros de falsificação de documentos mostram a prática de fake news há séculos

A expressão fake news se popularizou recentemente, principalmente por conta da expansão rápida das redes sociais, mas a manipulação da informação e a desinformação não são fenômenos recentes.

De acordo com o professor Danilo Rothberg, doutor em Sociologia pela Unesp e docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, em entrevista ao Portal iG, estudos indicam que um dos exemplos mais antigos de fake news é a ” Doação de Constantino “, um decreto imperial do século IV atribuído ao imperador Constan

tino, que supostamente transferia o controle do Império Romano Ocidental ao Papa.

“Esse documento foi posteriormente exposto como uma falsificação, no século 15”, aponta o professor.

Segundo ele, especificamente, a expressão fake news foi documentada nos anos 1890, quando jornais começaram a publicar notícias falsas ou distorcidas para atrair leitores, prática conhecida como “jornalismo amarelo”.

“Com o surgimento da imprensa de massa no século 19, jornais passaram a ser o principal veículo de propagação de notícias falsas, muitas vezes motivadas por sensacionalismo ou interesses políticos”, destaca Rothberg.

Professor Danilo Rothberg, Doutor em Sociologia pela Unesp e docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unesp
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Professor Danilo Rothberg, Doutor em Sociologia pela Unesp e docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unesp

Já nos dias de hoje, ele enfatiza que a disseminação ocorre principalmente pelas mídias sociais, permitindo que as fake news alcancem rapidamente os vários públicos em escala global. A desinformação também gera mais impacto em contextos de polarização política, em que a capacidade dos indivíduos de discernir a verdade da falsidade é enfraquecida por seus compromissos ideológicos.

“A disseminação de desinformação, sem dúvida, se tornou mais rápida e disseminada com o advento das mídias sociais. Contas automatizadas, os chamados bots, desempenham um papel significativo na amplificação de conteúdo falso, especialmente nos estágios iniciais de disseminação”, aponta o professor.

Ele ainda ressalta que, nas mídias sociais, a desinformação frequentemente se funde com teorias da conspiração e crenças que questionam autoridades eleitas.

“E os efeitos podem ser particularmente danosos para a saúde da democracia ”, reintera.

Combate às fake news

O professor Danilo Rothberg afirma que combater a disseminação de notícias falsas nas redes sociais é uma meta complexa, mas viável, segundo muitos estudos sugerem.

Segundo ele, estratégias eficazes exigem uma combinação de soluções tecnológicas, como inteligência artificial para detectar e sinalizar automaticamente a desinformação, além de educação do usuário, que envolve a literacia digital e midiática, que é a capacidade de uma pessoa navegar, avaliar e comunicar informações de forma eficaz e crítica em um ambiente digital. 

Ele também aponta, entre as estratégias, intervenções das plataformas de mídias sociais.

“Isso seria feito, por meio de checagem de fatos, rótulos de advertência e restrições de encaminhamento”, exemplifica, mencionando também a necessidade de esforços de cooperação entre governos, plataformas, sociedade e usuários para se combater fake news.

As raízes históricas das fake news e sua relação com os meios de comunicação contemporâneos são temas da palestra do professor emérito da Universidade de Cambridge, o historiador britânico Peter Burke, autor de mais de 30 livros e considerado referência na área de História Moderna Europeia.

Burke participará nesta noite de quarta-feira (7), das 19h às 21h, na Biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo, da série Encontro com Escritores, que é fruto de parceria entre a Editora Unesp, a Universidade do Livro, a Biblioteca Mário de Andrade e a Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp. 



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