Por que nunca mais o homem pisou na Lua?


Astronautas na lua
Reprodução Pixabay

Astronautas na lua

Cinquenta e seis anos depois que o astronauta Neil Armstrong pisou na Lua pela primeira vez, ainda há quem não acredite que “o grande passo para a humanidade” tenha realmente ocorrido.

E muitos perguntam o motivo de não terem sido feitos outros pousos humanos na Lua desde 1972.

O homem pisou na Lua em seis missões tripuladas realizadas pela NASA, entre 1969 e 1972, durante o programa Apollo.

Ao todo, 12 astronautas diferentes pisaram na superfície lunar nessas missões.

A primeira vez foi com Neil Armstrong e Buzz Aldrin, em 20 de julho de 1969, na missão Apollo 11, e a última com Eugene Cernan e Harrison Schmitt na Apollo 17, em 1972.

Entre eles, foram à Lua os astronautas Pete Conrad e Alan Bean, na Apollo 12, em 19 de novembro de 1969; Alan Shepard e Edgard Mitchell, na Apollo 14, nos dias 5 e 6 de fevereiro de 1971); David Scott e James Irwin, na Apollo 15, entre 31 e 2 de agosto de 1971, e John Young e Charles Duke, na Apollo 16, entre 21 e 23 de abril de 1972.

Desde então, o homem não pisou mais na Lua, levantando muitas teorias.

De acordo com o canal @DobraEspacial, que produz conteúdo sobre exploração espacial, ciência e tecnologia, a resposta para essa pergunta tem a ver com dinheiro público e contexto político.

Desdobramentos da Guerra Fria

As primeiras iniciativas de viagens espaciais datam do pós Segunda Guerra Mundial e ganharam força e expansão com os desdobramentos geopolíticos da Guerra Fria.

O canal @DobraEspacial lembra que, na época, o sentimento dos americanos era que os soviéticos pareciam estar sempre um passo à frente dos americanos.

“Depois do primeiro satélite, eles colocaram os primeiros animais em órbita, mandaram a primeira sonda para a Lua e colocaram o primeiro ser humano em órbita do planeta”, contextualiza o canal.

Nesta época, houve muito investimento; para entender o canal compara o quanto de dinheiro era gasto na NASA durante esses anos e quanto é gasto hoje em dia. Considerando o percentual do orçamento federal americano destinado à NASA, é possível comparar.

Em 1966, quase 4,5% do orçamento federal americano era destinado à NASA. Em 1975, só três anos após a Apolo 17, esse percentual caiu para menos de 1% e continuou a encolher até os últimos anos.

“E mesmo naquela época, com o cenário geopolítico mundial e grandes progressos como o problema Gêmenes e o problema Apolo, nem todo cidadão americano aprovava esse tipo de gasto”, pondera o @DobraEspacial.

“Com eficiência e sustentabilidade em mente, o programa Apolo tinha um fim em si mesmo. Para continuar indo para a Lua com uma certa frequência, seria necessário construir todo um maquinário para suportar esse objetivo, o que significa construir as engrenagens não somente técnicas envolvidas em todo o processo de construção e operação de foguetes e espaçonaves, mas também as engrenagens burocráticas dentro de organizações públicas e privadas. E também, é claro, as engrenagens políticas para fazer com que todo o dinheiro necessário para que isso funcionasse continuasse sendo liberado”, enfatiza a análise.

Mudança de rota

O @DobraEspacial lembra ainda que durante o mandato do presidente Nixon, a NASA mudou de direção e começou a trabalhar em projetos especiais com um foco muito mais amplo e sustentável.

A ideia, a partir de então, não era ter um novo programa Apollo ou então algo ainda mais ousado para chegar à Marte, por exemplo, mas sim tornar o espaço ainda mais rotineiro. E foi nessa direção que a NASA caminhou com seus projetos após todos esses anos com a Estação Espacial Skylab, os ônibus espaciais e, vários anos mais tarde, a Estação Espacial Internacional.

E enfatiza que, mesmo com o programa Artemis caminhando para um possível pouso na Lua antes do final dessa década, as críticas em relação a custos pesam muito nos grupos políticos que hoje tomam as decisões sobre o programa. Cortes de orçamento são cartas que nunca saem da mesa.

De qualquer forma, a conclusão é que a ideia de que os últimos 50 anos, desde o primeiro pouso na Lua, foram uma grande estagnação na exploração espacial é simplesmente falsa.

“Grandes progressos foram feitos em relação ao nosso entendimento sobre como operar no espaço, sobre tecnologias que nos ajudaram a ter uma presença mais sustentável fora do planeta,e mais recentemente, com a promessa de redução massiva de custos de lançamento e, consequente, aumento de acessibilidade ao espaço que veículos espaciais totalmente reutilizáveis podem trazer. Todo esse progresso ao longo da década de 70, 80, e durante os 20 anos de ocupação constante da órbita baixa da Terra não rendem manchetes tão triunfantes, foi extremamente importante para o que nos espera nos próximos anos” , conclui análise do @DobraEspacial.

Interesse comercial

O geofísico e youtuber Sérgio Sacani, endossa a justificativa da corrida espacial na Guerra Fria, que impulsionou os investimentos dos Estados Unidos para que seus astronautas pisassem na Lua antes dos soviéticos.

Ele destaca que, para entender porque não fomos novamente, é preciso entender porque fomos a primeira vez.

“Quando o ser humano foi para a Lua, não tinha objetivo científico, nem nada disso, era só pra mostrar que era melhor que seu amiguinho. E os Estados Unidos foi lá e falou, ganhamos, chegamos primeiro na Lua. Tanto que a própria Apolo 13, ninguém mais nem queria ver o lançamento. Não tinha mais audiência, porque o que interessava era chegar primeiro”, contextualiza.

Passados os anos e a euforia, as sondas espaciais começaram a explorar a superfície lunar e surgiu o interesse comercial na Lua, que não existia nos anos de 1960 e 1970, segundo Sacani.

A Lua possui recursos valiosos, como metais raros, incluindo os usados ​​em baterias de carros elétricos, além da possível extração de água, que pode ser usada como combustível para futuras missões espaciais. Isso torna a Lua uma base estratégica para a exploração do sistema solar.

“Mas, mesmo assim, é muito difícil a liberação de verba para essa exploração, porque é muito dinheiro”, conclui o geofísico.



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