A segurança na aviação envolve diferentes fatores, sendo o treinamento de pilotos e a manutenção das aeronaves aspectos essenciais para reduzir riscos. Dados do CENIPA apontam que a maioria dos acidentes ocorre durante as fases de decolagem e pouso, conforme explicou Aroldo Soares, fundador e Head de Produtos da Espaço Aéreo.
“Tenho aqui dados dos últimos 10 anos, a partir de 2014, sobre acidentes aeronáuticos. A principal causa, por tipo de ocorrência, está relacionada a falha ou mau funcionamento do motor, perda de controle em voo, excursão de pista, perda de controle no solo e falhas em operações de baixa altitude. No entanto, esses dados são bastante gerais. O que deve ser analisado é o número total de acidentes”, afirmou o especialista.
Os registros mais recentes indicam que, entre janeiro e fevereiro de 2024, ocorreram cerca de 27 acidentes na aviação geral.
“Neste início de ano, foram registrados quase 30 acidentes entre janeiro e fevereiro, ou algo em torno de 27, mas já até perdi as contas. Esses casos ocorrem, principalmente, na aviação geral, que é regida pelo RBAC (Regulamento Brasileiro da Aviação Civil) 91. Essa aviação abrange aeronaves de serviços públicos, tanto regulares quanto não regulares”, explicou Soares.
Na aviação comercial, regulamentada pelos RBAC 121 e 135, que inclui empresas como Gol e Azul, o histórico de acidentes é significativamente menor. Entre 2015 e 2024, os dados mostram que, em 2015 houve um acidente, em 2016 foram dois, em 2017 um, em 2018 dois, em 2019 dois, em 2020 um, em 2022 um e, em 2024, dois.
“Os acidentes registrados em 2024 e previstos para 2025 ocorrem, principalmente, na aviação geral. Esse setor, regido pelo RBAC 91, engloba diversos tipos de aeronaves, como aviões particulares, helicópteros e aeronaves agrícolas. Há uma grande diferença em relação ao treinamento de pilotos nesse segmento”, afirmou Soares.
A quantidade de acidentes registrados no pouso e na decolagem destaca a necessidade de aprimoramento na formação dos pilotos. Os números em 2024 apontam 32 acidentes na decolagem e 39 no pouso.
Em relação a incidentes graves, ocorreram 12 na decolagem e 30 no pouso. Já os incidentes considerados de menor gravidade somam 405 na decolagem e 539 no pouso.
De acordo com Soares, “o principal problema desse setor está relacionado à formação dos pilotos, algo que exige maior atenção da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), que é a responsável pela regulação e fiscalização do setor”.
A aviação comercial conta com um treinamento mais estruturado e um nível elevado de supervisão.
“Na aviação pública, seja regular ou não, há um programa de treinamento estruturado e maior controle. Já na aviação geral, esse nível de supervisão não se aplica da mesma forma”, ressaltou o professor.
Outro ponto abordado por Soares é o investimento na segurança operacional. “Muitas vezes, empresários compram aeronaves que custam milhões de dólares, mas tentam reduzir custos na contratação de pilotos, na manutenção e na compra de peças. Essa economia pode representar um risco significativo, principalmente quando essas aeronaves são utilizadas para o transporte de familiares e passageiros”.
Queda
O histórico de acidentes mostra que, apesar do volume registrado em 2024, o setor apresenta tendência de queda.
“O número de acidentes em 2024 é, sem dúvida, elevado, mas não tão alarmante quanto algumas pessoas têm demonstrado. Embora seja inaceitável e precise ser reduzido, é importante contextualizar os dados. Em 2015, por exemplo, foram registrados 172 acidentes, e, na época, o número de aeronaves no Brasil era menor do que o atual. Se analisarmos proporcionalmente, considerando a quantidade de aeronaves em operação e o número de horas de voo, houve uma redução no índice de acidentes ao longo dos anos”, explicou Soares.
O professor também mencionou a ampliação da cobertura midiática de acidentes. “O que acontece hoje é que qualquer incidente na aviação recebe ampla cobertura midiática. Se uma aeronave sai da pista por qualquer motivo, o caso é noticiado em todo o país. Enquanto isso, acidentes de trânsito, que ocorrem a cada minuto em cidades como São Paulo, muitas vezes não recebem o mesmo nível de atenção, apesar do alto número de vítimas diárias”.
Diante do cenário, foram criadas iniciativas para ampliar a segurança aeronáutica no país.
“No final de 2024, foi criado no BrASI (Brasil o Brazilian Air Safety Institute), um instituto voltado à segurança aérea. Faço parte do conselho dessa organização, idealizada pelo comandante Laertes e composta por profissionais altamente qualificados, incluindo pilotos com vasta experiência, ex-investigadores do CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), além de especialistas da aviação geral, executiva e militar”.
A iniciativa busca apoiar as autoridades aeronáuticas e promover o aperfeiçoamento da formação de profissionais.
“Precisamos trabalhar com seriedade no treinamento de pilotos, despachantes operacionais de voo, mecânicos e até mesmo controladores de tráfego aéreo”, concluiu Soares.
IG Último Segundo