
Para Eduardo, a retaliação comercial dos EUA pode ser um catalisador para forçar um recuo das instituições brasileiras
A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos acirrou divergências internas no PL e em partidos do entorno do bolsonarismo.
A medida, anunciada na semana passada como resposta à suposta “perseguição política” contra Jair Bolsonaro(PL), fortaleceu o grupo liderado por Eduardo Bolsonaro, defensor das sanções, e aumentou a tensão com setores que têm priorizado o diálogo com o empresariado, como a ala ligada ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas(Republicanos).
Eduardo, licenciado do cargo de deputado federal e radicado nos EUA desde fevereiro, tem articulado apoio político junto à base trumpista.
Ele defende que as tarifas sejam utilizadas como instrumento de pressão sobre o STF (Supremo Tribunal Federal), especialmente o ministro Alexandre de Moraes, visando uma anistia ampla aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
Para Eduardo, a retaliação comercial dos EUA pode ser um catalisador para forçar um recuo das instituições brasileiras e garantir a reabilitação política do ex-presidente, atualmente inelegível até 2030.
Postura de Tarcísio
Do outro lado, Tarcísio mudou sua postura e agora busca distanciamento em relação ao embate ideológico. O governador tem demonstrado preocupação com os efeitos econômicos das tarifas sobre a indústria e o agronegócio de São Paulo após atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na semana passada, ele se reuniu com Gabriel Escobar, encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos, para discutir os impactos da medida sobre o setor produtivo. A iniciativa foi criticada por Eduardo, que acusou Tarcísio de agir em “subserviência servil às elites”.
A reunião foi interpretada como um movimento do governador para se consolidar como liderança moderada no campo da direita, com apoio empresarial e foco nas eleições presidenciais de 2026.
Essa movimentação contrasta com a ala bolsonarista mais ideológica, que aposta na radicalização do discurso e no confronto com as instituições.
Divergência no PL

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal.
Dentro do PL, as divergências se intensificaram com ameaças de retaliação contra parlamentares que têm demonstrado apoio a Tarcísio, que é do Republicanos, ou se posicionado contra as tarifas.
Relatos apontam para pressões envolvendo a destituição de cargos de liderança na Câmara e, em alguns casos, ameaças de expulsão do partido.
O embate tem colocado em lados opostos dois grupos com estratégias distintas: um centrado na retórica de enfrentamento, outro voltado à preservação de alianças com o setor produtivo.
A divisão reflete também disputas internas sobre a sucessão de Jair Bolsonaro. Com o ex-presidente inelegível, Tarcísio é cotado como principal nome da direita em 2026.
Já Eduardo tenta se viabilizar como alternativa no caso de uma reviravolta jurídica que mantenha o pai fora da disputa. O conflito, entretanto, tem gerado desgaste público para ambos os lados, ampliado por críticas da oposição.
Oposição
A bancada do PT tem explorado o episódio para desgastar as lideranças da direita.
Parlamentares petistas acusam Tarcísio de ter sido conivente com a política externa bolsonarista, enquanto classificam as articulações de Eduardo nos EUA como um ataque à soberania nacional.
IG Último Segundo