PF acha agenda de supostos repasses ilegais com filho de prefeito


Agenda obtida pelo Portal iG
Arquivo pessoal

Agenda obtida pelo Portal iG

Uma operação da Polícia Federal (PF), que teve como alvo o deputado federal Júnior Mano (PSB), revelou um possível elo político dele com a família do prefeito de Fortaleza, em um esquema que teria desviado dinheiro público.

A investigação segue sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF), com colaboração da Controladoria-Geral da União (CGU).

Durante cumprimento de mandado de busca e apreensão, no começo de julho, a PF encontrou Eduardo Leitão, filho do prefeito da capital cearense, Evandro Leitão (PT), no apartamento funcional de Mano, em Brasília.

Com Eduardo foi achada uma agenda na qual há nomes de políticos do Ceará, incluindo ex-deputados federais, estaduais e vereadores.

De acordo com relatório obtido com exclusividade pelo Portal iG, a agenda foi localizada em uma mochila portada por Eduardo. Para a PF, os apontamentos na agenda indicam planejamento e organização ligados a movimentações ilegais de recursos públicos.

Na agenda apreendida foram achados registros “Urgência Pagamentos” e “Novos Contratos”.

Como funcionava o esquema, segundo a PF

A operação da PF, batizada de ”Underhand” (”dissimulado”, em inglês), aconteceu no dia 8 de julho. O deputado Júnior Mano foi o principal alvo da ação.

As operações criminosas funcionavam da seguinte maneira, segundo a apuração realizada até o momento:

  • ● O grupo indicava o repasse de emendas parlamentares (verbas públicas que os políticos destinam para onde desejam. Geralmente, enviam para suas bases eleitorais, onde costumam ter votos).
  • ● Em troca, o grupo exigia a devolução de até 15% dos valores
  • ● Empresas ligadas ao grupo venciam licitações (contratação de obras, produtos e serviços) direcionadas.
  • ● Os recursos seriam usados para financiar campanhas eleitorais

Uma ex-prefeita, cujo nome não foi divulgado, confirmou em depoimento ter recebido proposta com esse teor.

Municípios e valores

Foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, nas cidades de Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé, Baixio, além de Brasília. As outras cidades, que teriam recebido repasses, ainda estão em investigação.

Nova Russas, governada por Giordanna Mano (PRD) — esposa do deputado —, foi o município mais beneficiado por emendas de Júnior Mano. Desde 2021, a cidade recebeu R$ 4,4 milhões, sendo R$ 3,05 milhões via transferências especiais e R$ 1,35 milhão destinados à saúde e assistência social.

Distribuição das emendas de Júnior Mano nas cinco cidades que mais receberam repasses

  • Nova Russas CE R$ 4.400.000,00
  • Russas CE R$ 2.900.000,00
  • Fortim CE R$ 2.850.000,00
  • Beberibe CE R$ 1.950.000,00
  • Mulungu CE R$ 1.850.000,00

Bloqueio de valores e crimes investigados

O Supremo Tribunal Federal determinou:

  • ● Bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas de pessoas e empresas investigadas
  • ● Quebra de sigilo de celulares apreendidos
  • Os crimes investigados incluem:
  • ● Organização criminosa
  • ● Lavagem de dinheiro
  • ● Falsidade ideológica com fim eleitoral
  • ● Captação ilícita de sufrágio

O que mais foi apreendido?

Além da agenda, a Polícia Federal recolheu:

  • ● Dois celulares e um mini celular de botão
  • ● Pen drives
  • ● Um tablet
  • ● Chips de telefonia
  • ● Anotações manuscritas com nomes de pessoas

Segundo fontes ligadas à operação, Mano se recusou a fornecer a senha de um dos aparelhos.

Outros lados

Ao iG, a assessoria de comunicação da prefeitura de Fortaleza respondeu com a seguinte nota:

“Eduardo atua no ramo de eventos artísticos, com reuniões e agendas de trabalho em outros estados. Ele não mantém nenhum
vínculo com a Prefeitura de Fortaleza. Além disso, não foi citado formalmente em nenhuma investigação”.

Ao ser questionada sobre a citação no relatório da PF, a assessoria declarou:

“Ele foi citado por conta da agenda, isso é bem diferente de ser investigado. Não é alvo de investigação”.

Em nota oficial na época da operação, Júnior Mano afirmou:

“Não tenho qualquer participação no esquema. Como parlamentar, não exerço funções executivas em prefeituras nem participo de processos licitatórios.” Ele também classificou as acusações como tentativas de interferência política nas eleições de 2026 e disse confiar que “a verdade prevalecerá”

Procurado pela reportagem do iG nesta semana, ao ser questionado da relação entre ele e Eduardo Leitão, Mano respondeu que se trata de “amizade”.

“Ele não é alvo de investigação e dormiu lá em casa porque eu o chamei”.
Tentamos contato com Eduardo Leitão, mas não conseguimos falar com ele até o fechamento da reportagem. O espaço segue aberto.

Na PF, fontes confirmam a operação, mas por se tratar de uma investigação em andamento, não vão se manifestar no momento.



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