
Papa Leão XIV; primeira exortação apostólica foi emitido nesta quinta (9)
Em seu primeiro documento dogmático oficial, a exortação apostólica “Dilexi te” (“Ele te amou”), emitido pelo Vaticano nesta quinta-feira (9), o papa Leão XIV critica as desigualdades sociais e menciona a política anti-migratória do presidente do Estados Unidos, Donald Trump, quando defende a proteção dos imigrantes.
Exortação apostólica é um documento emitido pelo papa com orientações aos católicos, de forma generalizada ou dirigidas a alguns grupos, como o clero ou os mais jovens.
Em relação a outros textos papais, a exortação é menos solene do que a encíclica, geralmente sobre temas morais ou doutrinários, e do que a constituição apostólica, que costuma reunir questões legislativas e administrativas.
Mas é primeiro documento de alto nível, oficial, emitido por Leão XIV, desde que assumiu, em maio.
A exortação apostólica “Dilexi te”, que possui 104 páginas, foi iniciada pelo Papa Francisco.
Leão XIV explica que Francisco preparava, “nos últimos meses de sua vida”, uma exortação apostólica sobre o cuidado da Igreja com os pobres.
“Ao receber como herança este projeto, sinto-me feliz ao assumi-lo como meu – acrescentando algumas reflexões – e ao apresentá-lo no início do meu pontificado”, disse.
Apelo aos imigrantes
Três capítulos do “Dilexi te” dizem respeito especificamente à situação dos imigrantes no mundo, traçando paralelos com a Bíblia.
No capítulo 73, Leão descreve Maria, José e o Menino Jesus como imigrantes, afirmando que a experiência da migração acompanha a história do catolicismo.
No capitulo 74, o papa destaca o trabalho de santos no cuidado com imigrantes europeus no século XIX, quando uma série de movimentos revolucionários e revoltas levaram mais de 40 milhões de pessoas deixarem a a Europa para o Novo Mundo entre 1850 e 1913.
E, no capítulo 75, Leão XIV fala sobre o acolhimento de estrangeiros como uma tradição do catolicismo, institucionalizada por meio de centros de acolhimento para refugiados, missões nas fronteiras, e a Caritas Internacional. Recorda também que o papa Francisco defendia a missão da Igreja junto aos migrantes como algo mais amplo.
Neste contexto, o primeiro americano norte-amerciano a liderar a Igreja Católica faz um apelo urgente para que o mundo ajude os imigrantes, referenciando diretamente e de forma negativa medidas que Donald Trump defende e implementa, como a construção de muros na fronteira.
“A Igreja, como mãe, caminha com os que caminham. Onde o mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se erguem muros, ela constrói pontes. Pois sabe que o Evangelho só é crível quando se traduz em gestos de proximidade e de acolhimento; e que em cada migrante rejeitado, é o próprio Cristo que bate às portas da comunidade”, diz o pontífice no documento, referindo-se à crítica de Francisco em 2016 a Trump como ‘não cristão’ por causa do plano do presidente em seu primeiro mandato de construir um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México.
O trecho do documento chama a atenção, porque, desde que foi eleito em maio para substituir Francisco, Papa Leão XIV vem se mostrando mais reservado do que seu antecessor, que frequentemente criticava o governo Trump.
Em recentes respostas às críticas do papa, a Casa Branca reiterou que Trump foi eleito com base em suas muitas promessas, incluindo a deportação de “imigrantes ilegais criminosos”.
Desigualdades sociais
Também na sua primeira exortação apostólica, Leão XIV afirma que o clamor dos pobres desafia a todos e ressalta que as respostas da humanidade para combater a desigualdade continuam insuficientes.
“No rosto ferido dos pobres, encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo” , acrescenta o Papa.
Ele ainda menciona as diversas formas de uma pobreza “multifacetada”: ” a daqueles que não têm meios de subsistência material, a pobreza de quem é marginalizado socialmente, a pobreza moral e espiritual, a pobreza cultural, aquela de quem se encontra em condições de fraqueza ou fragilidade seja pessoal seja social, a pobreza de quem não tem direitos, nem lugar, nem liberdade “.
O papa cobra mudança de mentalidade no mundo e alerta para a ” ilusão de uma felicidade que deriva de uma vida confortável e leva muitas pessoas a ter uma visão da existência centrada na acumulação de riquezas e no sucesso social a todo o custo, a ser alcançado mesmo explorando os outros e aproveitando ideais sociais e sistemas político-econômicos injustos, favoráveis aos mais fortes”.
“Assim, em um mundo onde os pobres são cada vez mais numerosos, vemos paradoxalmente crescer algumas elites ricas, que vivem numa bolha de condições demasiado confortáveis e luxuosas, quase em um mundo à parte em relação às pessoas comuns” , ressalta.
Homenagem à Irmã Dulce
Há também uma referência na exortação apostólica ao trabalho da brasileira Irmã Dulce, canonizada em 2019 como “Santa Dulce dos Pobres”, pelo papa Francisco
“Irmã Dulce enfrentou a precariedade com criatividade, os obstáculos com ternura, a carência com fé inabalável. Começou acolhendo doentes num galinheiro e dali fundou uma das maiores obras sociais do país. Atendia milhares de pessoas por dia, sem jamais perder a doçura. Fez-se pobre com os pobres. Vivia com pouco, rezava com fervor e servia com alegria. A sua fé não a retirava do mundo, mas lançava-a ainda mais profundamente nas dores dos últimos”, diz Papa Leão XIV.
Além de ser um instrumento de orientar os católicos, o texto da exortação apostólica também é visto como uma indicação das prioridades de Leão XIV para os próximos anos.
IG Último Segundo