o que fez o resgate na Indonésia ser dramático


Resgate de Juliana Marins no Monte Rinjani
Reprodução/redes sociais

Resgate de Juliana Marins no Monte Rinjani

O vídeo que mostra o local do resgate da brasileira Juliana Marins, no Monte Rinjani, na Indonésia , tem impressionado usuários nas redes sociais pela distância entre o topo da montanha e o local onde estava o corpo da vítima. A jovem  morreu após cair durante uma trilha e só foi resgatada na quarta-feira (25), após quatro dias de buscas.

Veja o vídeo:

Para entender o grau de dificuldade do terreno mostrado nas imagens, o  Portal iG conversou com o montanhista e resgatista voluntário Pedro Hauck, que analisou o vídeo e explicou as condições da região.

Segundo o montanhista, a trilha do Monte Rinjani em si não é considerada difícil, tanto que é um destino muito comum entre os turistas da região.

“Agora, onde a Juliana caiu já é outro papo. A trilha é fácil, mas ela caiu num precipício, num abismo cheio de pedra-pome solta. O lugar que ela caiu, desse ângulo, parece que é um paredão, mas é uma parede de 60 graus de inclinação”, explicou.

De acordo com o especialista, esse tipo de rocha se despedaça com facilidade e forma pequenos fragmentos, que tornam o local muito instável.  “Se fosse uma rocha sólida, daria pra se equilibrar. Mas a pedra-pome quebra e forma seixinhos. Então você imagina: 60 graus num local coalhado de seixo solto, areia e poeira. Ela foi escorregando ao longo do tempo”, afirmou.

Resgate difícil e demorado

Hauck também comentou sobre a complexidade da operação de resgate em áreas como o Rinjani. Quando questionado qual o ‘nível’ de dificuldade, do fraco ao extremo, ele reforçou os desafios enfrentados pela equipe de voluntários.

“O resgate foi mais para o extremo do que para o moderado. Havia risco muito grande de queda de pedra nos resgatistas e as ancoragens podiam se soltar, já que o terreno é muito frágil”, disse.

Segundo ele, as equipes precisaram montar uma estrutura improvisada no local. “Levaram um tripé de salvamento, cordas de 200 metros, fizeram rapel até a vítima, levaram maca, tudo em um ambiente muito instável” .

Além da inclinação e do terreno instável, as condições climáticas da região também são traiçoeiras para um resgate rápido.

“O Rinjani não é uma montanha de grande altitude, mas tem uma altitude moderada para alta, com 3.700 metros, numa ilha próxima à linha do Equador. Durante o dia, pode fazer 30 °C sob céu azul, mas, se começa a chover, a temperatura despenca para 10 °C ou 12 °C, e a sensação térmica pode chegar perto de zero”, explicou.

Ele também destacou a dificuldade de acesso – afinal, chegar ao topo do Rinjani requer uma caminhada demorada. “Um turista comum leva dois dias para chegar até o local onde Juliana caiu. Já os resgatistas podem levar de 12 a 15 horas, mas precisam carregar equipamentos, água e comida para dezenas de pessoas”, complementa.

Monte Rinjani, vulcão ativo e desafiador na Indonésia
Reprodução/Divulgação

Monte Rinjani, vulcão ativo e desafiador na Indonésia

A demora no resgate também foi agravada pela ausência de uma equipe de plantão na região. Segundo o montanhista, os equipamentos estavam espalhados por diferentes locais e foi necessário acionar voluntários, o que consumiu um dia inteiro apenas para iniciar a mobilização. A falta de estrutura e de profissionais prontos para agir imediatamente também travou a operação.

Pedro explicou que, em acidentes em áreas remotas como o Monte Rinjani, o resgate costuma ser demorado por uma série de fatores.

“Eu já trabalhei em muitos resgates, sou resgatista voluntário e sei como são as coisas. Quando o acidente acontece e quem aciona o socorro são turistas, as informações chegam sempre muito truncadas”, disse.

Segundo ele, diante desse cenário, o protocolo exige o envio de um membro da equipe, que chamam de “coelho”. Esse profissional sobe a trilha rapidamente, com materiais de primeiros socorros e faz a avaliação da situação no local, em uma etapa que já consome bastante tempo.

Em um cenário ideal, com tempo firme e uma equipe de resgate de prontidão, esse “coelho” poderia ter alcançado Juliana em cerca de seis horas, feito a avaliação e acionado um helicóptero. “Aí seria o resgate perfeito”, afirmou Pedro.

No entanto, segundo ele, o tempo estava ruim, as informações eram imprecisas e foi preciso mobilizar os profissionais certos e buscar equipamentos adequados. Quando chegaram, Juliana já havia escorregado ainda mais.

“O resultado foi esse: quatro dias, não pra salvar uma vida, mas pra resgatar um corpo. Infelizmente, o fim foi trágico, mas os resgatistas fizeram um trabalho muito bem feito com todas as dificuldades que enfrentaram”, concluiu.

Relembre o caso

A publicitária Juliana Marins, de 26 anos, morreu após cair durante uma trilha para o cume do Monte Rinjani, na Indonésia. Ela se acidentou na madrugada de sábado (21) e, após 4 dias de buscas, foi resgatada sem vida na quarta-feira (25).

Juliana Marins, de 26 anos, era publicitária e natural de Niterói, no Rio de Janeiro
Reprodução/redes sociais

Juliana Marins, de 26 anos, era publicitária e natural de Niterói, no Rio de Janeiro

As condições climáticas do Monte Rinjani dificultaram o resgate, que foi realizado por voluntários. A falta de envolvimento do governo indonésio no caso fez com que o país asiático fosse muito criticado pelos brasileiros nas redes sociais.

O corpo de Juliana já passou por autópsia, mas ainda não há informações de quando ele voltará para o Brasil. O pai dela, Manoel Marins, acompanha os trâmites na Indonésia. O translado do corpo será pago pela prefeitura de Niterói, cidade natal da jovem.



IG Último Segundo