A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva
Quase 24 horas depois, ninguém sabe, ninguém viu o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pronunciar qualquer reprimenda aos colegas que atacaram a ministra Marina Silva em uma audiência da comissão de Infraestrutura da Casa na terça-feira (27).
É provável que da caneta do senador não saia uma nota de solidariedade à ministra do Meio Meio Ambiente do governo com quem troca tantos flertes.
O silêncio diz tanto ou mais sobre os ataques coordenados de três senadores – dois opositores declarados e um suposto aliado.
Não por acaso, os três – quatro, se contar Alcolumbre – têm base eleitoral na região Norte. Assim como Marina.
O primeiro disparo partiu do senador bolsonarista Marcos Rogério (PL), de Rondônia, um dos mais atuantes membros da bancada do agronegócio no Congresso.
Veio dele o pedido para uma ministra de Estado “se por em seu lugar” durante a audiência.
O senador falou o que quis e ouviu o que não quis.
Marina respondeu com dedo em riste, avisou que não era submissa, e seguiu de pé.
Antes ela já havia emparedado o senador Omar Aziz, do Amazonas, que deu a ela o crédito por retrocessos ambientais aprovados no Congresso, a começar pelo PL da Devastação.
Aziz é do mesmo PSD do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a antítese de Marina na Esplanada.
O ataque do correligionário não veio gratuitamente.
Mas a ministra só deixou mesmo a sessão quando outro adversário, o senador tucano Plínio Valério, do Amazonas, disse que ela não merecia ser levada a sério.
Foi um convite para se retirar.
Meses antes o mesmo senador havia dito, a uma plateia de empresários da região, que sentiu vontade de enforcar Marina ao ouvi-la em uma palestra. A plateia riu. Marina o chamou de psicopata.
Como tal, Plínio Valério se esforçou um tanto, na comissão do Senado, para mostrar que a ministra estava certa.
São muitas as camadas contidas nos ataques a ela.
Tem uma questão de gênero. De classe. De tom de pele. Mas sobretudo de projetos.
(No caso de Valério há também interesse em causa própria, já que ele possui um imóvel irregular em uma reserva ambiental na Amazônia).
Marina é hoje a maior defensora viva de um modelo de desenvolvimento econômico capaz de gerar riquezas sem derrubar florestas. Segue a cartilha do conterrâneo Chico Mendes, líder seringueiro morto por fazendeiro em 1988 em Xapuri, no Acre, berço de Marina.
Ela havia sido convidada para falar à comissão sobre uma proposta de criação de áreas de preservação próximas à Foz do Amazonas, onde o governo estuda a viabilidade da exploração de petróleo. Mal deu tempo.
A área fica no Amapá, reduto político de Alcolumbre, para quem a exploração já deveria ter começado ontem.
No meio do caminho, porém, existe uma pedra chamada Ibama, instituto presidido por Rodrigo Agostinho, um aliado de Marina.
Os homens que atacam – ou silenciam diante dos ataques – Marina são os mesmos que já salivam e esfregam as mãos diante de um empreendimento do tipo. São defensores de um modelo predatório de exploração de riquezas que tensiona as leis ambientais para passar com a boiada – a literal, que pisa no pasto onde um dia foi floresta, e as alegóricas, relacionadas à extração de minério e óleo do solo e dos rios.
Sobre essa questão, Marina costuma dizer que a exploração de petróleo na Foz do Amazonas é uma decisão técnica do Ibama, e não um embate político.
Os ofensores não entendem assim. Estão convictos de que a região se tornará uma potência econômica no dia em que a floresta não atrapalhar os planos.
E desde sempre atuam para remover as barreiras que, mesmo com todas as fragilidades, ainda os impedem de transformar a Amazônia em um grande shopping center.
Remover uma defensora dessa regulação é abrir caminho livre, mata adentro, para a destruição.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG
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