Local é paradisíaco, mas traz perigos que podem ser fatais
A Ilha da Trindade, um ponto remoto no Oceano Atlântico, conhecida por sua beleza natural e importância estratégica, guarda perigos que vão além do terreno vulcânico acidentado. Um dos mais notórios é o das “ondas camelos”, responsáveis por acidentes fatais, inclusive entre os militares brasileiros que guarnecem a ilha. Pelo menos nove dos 17 óbitos registrados no local foram causados por elas.
Mas, o que são as ondas camelos? Também conhecida como “caneleiras”, ou “carreiras”, elas tem mais de 2 metros de altura e períodos superiores a 12 segundos que chegam “de fora”. Ao se aproximarem da costa, elas diminuem de comprimento e sofrem um rápido aumento de altura. O nome foi dado porque a onda tem um perfil parecido com a corcova de um camelo.
Em certos locais, a morfologia da costa rochosa, que pode assemelhar-se a uma rampa, facilita o processo conhecido na engenharia costeira como “galgamento de ondas”, permitindo que elas escalem ou ultrapassem paredões rochosos. A profundidade do local em frente à rocha e a altura delas são elementos chave que indicam os pontos de maior risco.
As formações podem ser traiçoeiras e serem avistadas em diversas áreas da ilha. A região da Pedra da Garoupa, na Praia do Príncipe, é um dos locais de grande risco, assim como a Praia do Parcel e a Praia do Eme. Mesmo em momentos que parecem calmos, uma onda camelo pode surgir inesperadamente, molhando e surpreendendo pessoas.
Marinha do Brasil é responsável por gerenciar o local
Onde fica a Ilha de Trindade e quem é responsável pelo monitoramento
A ilha fica a 1.140 Km do litoral de Vitória, no Espírito Santo (ES), e junto com o Arquipélago de Martim Vaz (que fica a cerca de 40 Km dela), formam o conjunto insular mais afastado da costa brasileira.
A Marinha do Brasil é a principal responsável pela presença humana e pela administração do local, mantendo a ocupação permanente e garantindo a soberania e os direitos associados ao território insular desde 1957. São 30 militares que se revezam a cada quatro meses.
A Força Naval Brasileira é responsável pela Zona Econômica Exclusiva (ZEE), e dá apoio a trabalhos científicos realizados na ilha. O Programa de Pesquisas Científicas na Ilha da Trindade (PROTRINDADE), criado em 2007, é coordenado pela SECIRM (Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar), um órgão relacionado à Força, e conta com o apoio logístico do Comando do Primeiro Distrito Naval.
A documentação dos acidentes e riscos, bem como o apoio fundamental que possibilitou as pesquisas e a produção de conteúdos que esclarecem as particularidades e perigos da ilha, como as próprias ondas camelos, provêm da atuação e suporte da instituição.
Para mitigar os riscos, especialmente os relacionados a quedas e afogamentos, a Força implementou regras na ilha, como a exigência de saídas com pelo menos três integrantes, garantindo que, em caso de acidente, um possa buscar ajuda enquanto outro permanece com a vítima.
Mortes são registradas desde 1957
O perigo das ondas camelos é real, documentado e pode ser fatal. A relação de mortes trazida à tona se refere especificamente ao período de ocupação da ilha a partir de 1957, quando o Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT) foi criado e a ilha passou a ser guarnecida por militares da Força Naval brasileira.
Desde então, pelo menos nove mortes foram causadas por ondas camelos. Casos trágicos ilustram o risco. Em 24 de novembro de 1963, o Cabo Frutuoso se tornou a primeira morte registrada pelo fenômeno. Ele estava pescando na Pedra da Garoupa, na Praia do Príncipe, quando foi surpreendido pela onda.
Outros incidentes fatais incluem o Sargento Oliveira, atingido por uma onda camelo no Parcel, cujo corpo foi achado na Praia das Tartarugas, e o Sargento Domingos, que morreu durante pescaria na região da Pedra da Garoupa, com o corpo aparecendo dois dias depois na Praia do Clipe. A morte mais recente ocorreu em janeiro de 2018. As informações são da Marinha do Brasil.
A ocupação das Forças Navais começou em 1957
Dada a ocupação e exploração da ilha em outros períodos, inclusive por Inglaterra e Portugal, é provável que existam outras vítimas antes de 1957, mas sem comprovação de dados.
Especialista publica informações na internet
Em seu canal no Youtube, o jornalista Elcio Braga documenta e compartilha aspectos da vida e dos perigos na Ilha, onde esteve pela primeira vez em 2007. Em um dos vídeos ele fala sobre o procedimento chamado “cabrita”.
Onda camelo na Ilha da Trindade
Os visitantes eram puxados por cabo de aço e precisavam manter a cabeça abaixada para evitar um corte fatal. caso o cabo se rompesse. Esse transporte até o navio da Força Naval era feito por uma jangada puxada por cabo e era apelidada de cabrita.
IG Último Segundo