o ‘coringa’ dos falsificadores de combustíveis e bebidas


O metanol é muito utilizado para fins industriais
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O metanol é muito utilizado para fins industriais

metanol acabou se tornando uma sustância “coringa” dos criminosos que atuam na adulteração de combustíveis e também de bebidas alcóolicas. 

O Portal iG consultou especialistas para entender os motivos. Entre eles, está o custo de produção da substância, que é mais baixo que o do etanol; e a acessibilidade, já que é produzido em grande escala e utilizado para fins industriais.

Parecido com o etanol

O metanol (CH₃OH) e o etanol (C₂H₆O), segundo químicos ouvidos nesta terça-feira (30) iG, são parecidos estruturalmente.

A utilização de metanol em bebidas adulteradas voltou a ter destaque no cenário nacional em razão dos casos de mortes e internações registradas a partir do fim de semana, na Grande São Paulo.

Saiba mais:  SP cria gabinete de crise para investigar intoxicação por metanol

As ocorrências motivaram a  criação de um gabinete de crise e evidenciou, novamente, os riscos gravíssimos do consumo de metanol.  As investigações seguem.

Segundo a química Beatriz Freitas, do Projeto Lagoa Viva, da Universidade Federal Fluminense (UFF), o metanol e etanol são dois compostos orgânicos da mesma categoria química. São álcoois, o que lhes conferem propriedades parecidas, como serem líquidos incolores, voláteis e solúveis em água.

“O etanol é o álcool presente nas bebidas alcoólicas e também é utilizado como combustível. Em contrapartida, o metanol é um álcool mais simples, que se mistura facilmente à gasolina e ao etanol. Ele pode manter o funcionamento do motor, o que costuma disfarçar a adulteração a curto prazo. Já nas bebidas clandestinas, ele pode ser adicionado intencionalmente para aumentar o volume do produto falsificado, uma vez que apresenta custo de produção inferior ao do etanol”, afirma.

O grande perigo, conforme adverte a especialista, é que, embora parecidos, o organismo humano não metaboliza metanol da mesma forma que o etanol.

“Quando ingerido, o metanol é convertido em formaldeído e ácido fórmico, compostos altamente tóxicos que atacam o sistema nervoso central e o nervo óptico, podendo causar cegueira e até a morte”,  aponta.

Já quando misturado aos combustíveis, o metanol pode causar corrosão em motores e componentes do sistema de alimentação, diminuindo o desempenho e a durabilidade dos veículos a longo prazo, segundo ela.

“E na saúde humana, o risco não se limita à ingestão: a inalação de vapores também pode causar sintomas como tontura, náusea, fraqueza e alterações no sistema nervoso central. Por isso, a presença de metanol fora de usos controlados é extremamente perigosa”, enfatiza Beatriz.

Custo menor

O professor Wagner Fellipe, do Departamento de Química Analítica da Universidade Federal Flumineses (UFF), ressalta também a similaridade química do metanol e do etanol.

“Eles têm a mesma classificação; são álcoois. Mas sempre que nós pensamos em álcool para consumo humano, nós estamos pensando em etanol, independente do tipo de bebida que esteja sendo consumida: cerveja, vinho, cachaça, uísque, qualquer outra bebida” , exemplifica.

O professor da UFF aponta algumas características das duas substâncias que facilitam a utilização de metanol como coringa em adulterações.

Segundo ele, ambos são solúveis, possuem a mesma cor e são miscíveis, ou seja, se misturam completamente em todas as proporções, formando uma solução homogênea e sem a formação de fases distintas.

“Então, sempre quando se faz uma mistura de metanol em etanol, não se vê a diferença. O aspecto é o mesmo, a solução fica totalmente misturada. No caso da bebida, eles utilizam porque é mais barato que o etanol e não causa um estranhamento no gosto tão grande quanto se fosse utilizada água na mistura, por exemplo. Uma bebida com muita água causa diferença no paladar” , contextualiza.

Em relação aos casos de adulteração de combustível, o professor explica que o metanol é mais barato que etanol e também é combustível, o que pode dificultar de quem está usando o carro identificar.

Apesar dos casos recentes de morte e internação por consumo de metanol em bebidas alcóolicas terem sido registrados na Grande Saão Paulo, acredita-se que as bebidas adulteradas podem estar circulando para além do estado paulista.

Por isso, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar a procedência da substância e a possível rede de distribuição.



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