
A decisão do Conselho pela Paz, no entanto, rompeu uma tradição norueguesa centenária
O Conselho Norueguês pela Paz anunciou, na última sexta-feira (24), o cancelamento da tradicional procissão de tochas e dos eventos paralelos à cerimônia oficial do Prêmio Nobel da Paz, que neste ano foi concedido à líder da oposição venezuelana María Corina Machado.
Entenda: Quem é María Corina Machado, que levou o Nobel da Paz de 2025
O órgão, independente do Comitê Nobel, justificou a decisão afirmando que a homenagem “não condiz com nossos princípios” , em referência ao apoio de Machado a intervenções militares estrangeiras na Venezuela.
O prêmio, no valor de 11 milhões de coroas suecas (aproximadamente R$ 6,3 milhões), foi concedido pelo Comitê Nobel em 10 de outubro, em reconhecimento ao “trabalho incansável para promover direitos democráticos na Venezuela” e à sua atuação pela transição pacífica do país “da ditadura à democracia” .
A entrega oficial segue mantida para o dia 10 de dezembro, em Oslo, data que marca o aniversário da morte de Alfred Nobel.
A decisão do Conselho pela Paz, no entanto, rompeu uma tradição norueguesa centenária de celebrações públicas em torno do Nobel. Segundo comunicado, o cancelamento busca preservar “coerência moral” diante de controvérsias internacionais, como a guerra em Gaza.
O Conselho destacou que não se trata de um questionamento à escolha formal do Comitê, mas de uma dissociação simbólica de homenagens que, em sua visão, poderiam “contradizer valores pacifistas fundamentais”.
Reconhecimento e controvérsia

A líder opositora defende a possibilidade de operações estrangeiras no país
Aos 58 anos, engenheira e ex-deputada, María Corina Machado vive em esconderijo na Venezuela, após ser impedida de disputar as eleições presidenciais de 2024 contra Nicolás Maduro.
A líder opositora defende a possibilidade de operações estrangeiras no país “para salvar vidas” e dedicou o Nobel “em parte ao presidente Donald Trump”, que a parabenizou publicamente após o anúncio.
Machado foi indicada ao prêmio por um grupo de congressistas americanos e por Marco Rubio, atual secretário de Estado dos Estados Unidos.
Ela foi descrita pelo Comitê como um “exemplo extraordinário de coragem civil na América Latina”, por ter reunido diferentes forças opositoras e resistido à militarização da sociedade venezuelana.
A concessão do prêmio dividiu opiniões dentro e fora da Venezuela. O candidato opositor Edmundo González classificou a escolha como “um reconhecimento à luta por liberdade” .
Já o governo de Maduro reagiu com hostilidade, chamando-a de “bruxa demoníaca” e determinando o fechamento da embaixada venezuelana em Oslo em retaliação.
Nos Estados Unidos, a Casa Branca de Trump criticou o Comitê Nobel por “priorizar política sobre paz”, afirmando que o próprio presidente norte-americano seria mais merecedor do prêmio por seu papel em acordos de cessar-fogo em Gaza.
Repercussão internacional
A escolha de Machado também recebeu críticas de organizações internacionais.
O CAIR (Conselho de Relações Americano-Islâmicas) e o parlamentar norueguês Bjørnar Moxnes questionaram a coerência do Comitê ao premiar uma figura que, segundo eles, “defende intervenções militares e apoia Israel” , lembrando que Machado assinou um acordo de cooperação com o partido Likud em 2020.
Essas manifestações contribuíram para o desgaste do prêmio e para o debate sobre o alcance político das decisões do Nobel da Paz.
O cancelamento dos eventos públicos reforçou o clima de controvérsia, levando analistas a apontarem uma “crise de legitimidade” em torno da premiação.
IG Último Segundo


