
Neurocientista Miguel Nicolelis em entrevista ao Roda Viva
O neurocientista Miguel Nicolelis afirmou nesta segunda-feira (28), durante entrevista ao programa Roda Viva, que o uso de animais em testes clínicos continua sendo imprescindível para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos médicos.
Segundo ele, avanços recentes, como a criação de imunizantes contra a Covid-19, só foram possíveis graças a testes realizados em animais em diversos países.
“ Não dá para você descobrir novas terapias, novas vacinas, sem os animais. A vacina da Covid só conseguiu chegar do jeito que chegou porque foram feitos testes aos montes em animais em todos os países do mundo ”, declarou Nicolelis.
O neurocientista explicou que, apesar de ser defensor do bem-estar animal e de manter um laboratório com protocolos rígidos no tratamento de primatas, já foi alvo de agressões.
Ele relembrou um episódio ocorrido há cerca de dez anos no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, quando foi hostilizado por ativistas durante o lançamento de um livro.
O grupo entrou no auditório gritando e tentou agredi-lo fisicamente. Nicolelis contou que só não foi atingido porque parte do público interveio.
No mês passado, ele venceu na Justiça o processo movido contra os responsáveis.
“ Foi muito chocante. Eu nunca tinha passado por algo assim em lugar nenhum do mundo. A direção do museu permitiu que os ativistas entrassem, e eles vieram para cima de mim. Só não fui agredido porque as pessoas da plateia impediram ”, contou Nicolelis.
“ Enquanto gritavam, eu sentei e comecei a ver o resultado do Campeonato Paulista. O Palmeiras estava ganhando, então resolvi sair do palco ”, relatou o neurocientista.
Importância para a biomedicina
Nicolelis destacou que o laboratório que coordenava foi referência internacional em boas práticas e ajudou a elaborar o manual de tratamento de primatas da Universidade Duke, nos Estados Unidos.
Ele afirmou que nunca perdeu um animal durante os experimentos e implementou ações para melhorar o convívio entre os bichos.
“ Sou um grande defensor dos animais. Tenho cachorro a vida inteira. E, se a ciência conseguir usar menos animais, tanto melhor. Mas ainda é imprescindível ”, disse Nicolelis.
Para ele, o cérebro humano não pode ser estudado de forma isolada, sem considerar sua interação com o corpo, o que reforça a necessidade dos testes em organismos vivos.
“ Ninguém vai construir civilizações com cérebros em placas de petri. Isso não vai acontecer. O cérebro e o corpo são integrados. A pele é o terno do cérebro, porque ela é totalmente enervada e põe o cérebro em contato com o mundo ”, relatou o neurocientista.
IG Último Segundo