Na TV, Lula detona tarifa dos EUA e critica big techs


Lula defendeu a soberania nacional
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Lula defendeu a soberania nacional

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) usou cadeia nacional de rádio e televisão na noite desta quinta-feira (17) para responder à decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma  tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto e criticar as big techs.

A medida, anunciada por Donald Trump, inclui também uma investigação sobre o Pix, sob acusação de prática desleal no setor de pagamentos.

Ele também criticou a atuação de plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Segundo ele, empresas que operam no país devem cumprir as leis nacionais e não podem se posicionar acima da legislação.

Lula defendeu a regulação do setor como forma de proteger a população de crimes e abusos praticados em ambiente digital.

Em sua fala, o presidente afirmou que as redes sociais têm sido utilizadas por indivíduos e organizações para promover fraudes, disseminar racismo, incitar violência contra mulheres e desacreditar vacinas.

Ele também mencionou o impacto entre crianças e adolescentes, citando casos de bullying, violência e até mortes associadas ao uso dessas plataformas.

No pronunciamento de 4 minutos e 50 segundos, transmitido às 20h25, Lula classificou as sanções como tentativa de interferência externa e reafirmou que o Brasil não aceitará pressões comerciais ou políticas.

Lula afirmou que a imposição de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada por Donald Trump representa uma “chantagem inaceitável” e configura tentativa de interferência nas instituições nacionais. 

Segundo o presidente, o Brasil havia encaminhado em maio uma proposta de negociação ao governo dos Estados Unidos, sem resposta até o anúncio da tarifa.

“Fizemos mais de 10 reuniões. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem” , disse.

O presidente destacou que o Brasil tem um Judiciário independente e criticou tentativas de pressionar decisões judiciais, em referência às críticas de Trump ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe de Estado.

“Tentar interferir na Justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional” , afirmou.

Lula também direcionou críticas a políticos brasileiros que manifestaram apoio à medida. Sem citar nomes, disse que são “traidores da pátria” e que “apostam no quanto pior, melhor” .

Além da questão tarifária, o presidente abordou outros pontos relacionados à soberania, como a atuação de plataformas digitais no Brasil.

Ele defendeu que empresas estrangeiras obedeçam às leis nacionais e associou a falta de regulação a práticas como fraudes, racismo, incentivo à violência e campanhas contra vacinação.

Lula citou reunião com representantes de setores produtivos, sociedade civil e sindicatos para discutir os impactos da tarifa e ressaltou que o país usará todos os mecanismos legais, como a Lei da Reciprocidade e recursos à OMC (Organização Mundial do Comércio), para defender sua economia.

Sobre o comércio bilateral, o presidente afirmou que os Estados Unidos têm superávit de US$ 410 bilhões com o Brasil nos últimos 15 anos e que as alegações de práticas comerciais desleais são “falsas”. Também afirmou que o país abriu 379 novos mercados desde 2023.

Lula defendeu o Pix

Lula falou sobre o Pix
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Lula falou sobre o Pix

O Pix foi outro ponto abordado no discurso. Segundo Lula, o sistema é um patrimônio nacional e será protegido diante da investigação aberta pelos EUA contra o modelo brasileiro.

“Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo” , afirmou.

O presidente também mencionou a agenda ambiental, afirmando que o desmatamento na Amazônia foi reduzido à metade nos últimos dois anos, e reafirmou a meta de zerar o desmatamento até 2030.

Ao encerrar o pronunciamento, Lula disse que o Brasil seguirá buscando boas relações comerciais com todos os países, mas advertiu: “Que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono — o povo brasileiro” .

Leia o discurso na íntegra:

“Minhas amigas e meus amigos,

Fomos surpreendidos, na última semana, por uma carta do presidente norte-americano anunciando a taxação dos produtos brasileiros em 50%, a partir de 1º de agosto.

O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras, e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.

Contamos com um Poder Judiciário independente. No Brasil, respeitamos o devido processo legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional.

Só uma pátria soberana é capaz de gerar empregos, combater as desigualdades, garantir saúde e educação, promover o desenvolvimento sustentável e criar as oportunidades que as pessoas precisam para crescer na vida.

Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo.

Minhas amigas e meus amigos, a defesa da nossa soberania também se aplica à atuação das plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras.

No Brasil, ninguém —ninguém— está acima da lei. É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, violência e bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte, e desacreditar as vacinas, trazendo de volta doenças há muito tempo erradicadas.

Minhas amigas e meus amigos,

Estamos nos reunindo com representantes dos setores produtivos, sociedade civil e sindicatos. Essa é uma grande ação conjunta que envolve a indústria, o comércio, o setor de serviços, o setor agrícola e os trabalhadores.

Estamos juntos na defesa do Brasil. E faremos isso de cabeça erguida, seguindo o exemplo de cada brasileiro e cada brasileira que acorda cedo, e vai à luta para trabalhar, cuidar da família e ajudar o Brasil a crescer.

Seguiremos apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo.

Minhas amigas e meus amigos,

A primeira vítima de um mundo sem regras é a verdade. São falsas as alegações sobre práticas comerciais desleais brasileiras. Os Estados Unidos acumulam, há mais de 15 anos, robusto superávit comercial de US$ 410 bilhões de dólares.

O Brasil hoje é referência mundial na defesa do meio ambiente. Em dois anos, já reduzimos pela metade o desmatamento da Amazônia. E estamos trabalhando para zerar o desmatamento até 2030.

Além disso, o Pix é do Brasil. Não aceitaremos ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo, e vamos protegê-lo.

Minhas amigas e meus amigos,

Quando tomamos posse na Presidência da República, em 2023, encontramos o Brasil isolado do mundo. Nosso governo, em apenas dois anos e meio, abriu 379 novos mercados para os produtos brasileiros no exterior.

Estamos construindo parcerias comerciais com a União Europeia, a Ásia, a África e nossos vizinhos da América Latina e do Caribe.

Se necessário, usaremos todos os instrumentos legais para defender a nossa economia. Desde recursos à Organização Mundial do Comércio até a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional.

Minhas amigas e meus amigos,

Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações.

Mas que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono —o povo brasileiro.

Muito obrigado.”



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