Mudanças climáticas ampliam risco de infecções por fungos


Aspergillus Fumigatus
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Aspergillus Fumigatus

Além de incêndios, enchentes e impactos na agricultura, as mudanças climáticas podem estar favorecendo um outro problema de saúde pública: o avanço de infecções causadas por fungos.

Um estudo da Universidade de Manchester, no Reino Unido, aponta que o aquecimento global pode estar abrindo caminho para a disseminação de fungos patogênicos em regiões até então protegidas pelo clima mais frio — como a Europa.

A pesquisa britânica utilizou modelos climáticos para simular o comportamento de três espécies — Aspergillus flavus, Aspergillus fumigatus e Aspergillus niger — em diferentes cenários até 2100.

Os resultados revelam que, sob um cenário de alta dependência de combustíveis fósseis, o avanço dos fungos será mais rápido e amplo. Enquanto isso, regiões do planeta que hoje concentram esses patógenos podem tornar-se quentes demais até mesmo para eles, alterando significativamente o equilíbrio ecológico.

Para os pesquisadores, espécies como Aspergillus flavus e Aspergillus fumigatus, comuns em regiões tropicais e subtropicais, estão expandindo seu território. O estudo indica que, se medidas de mitigação climática não forem adotadas, a distribuição desses fungos poderá crescer de forma expressiva nas próximas décadas.

A depender do ritmo das emissões globais, o A. flavus pode atingir um aumento de até 16% em sua presença na Europa, o que colocaria cerca de 1 milhão de pessoas em risco de infecção. No caso do A. fumigatus, o avanço pode ser ainda mais alarmante: uma expansão de 77,5%, atingindo até 9 milhões de pessoas.

Esses fungos afetam principalmente o sistema respiratório e representam uma ameaça significativa, sobretudo para indivíduos com o sistema imunológico comprometido.

Segundo o Dr. Norman van Rhijn, autor principal do estudo, mudanças no ambiente, com o aumento da umidade e eventos climáticos extremos, criam condições propícias para a adaptação e propagação dessas espécies.

Ele observa que o surgimento do Candida Auris já foi relacionado ao aquecimento global, mas ressalta que, até recentemente, havia poucos dados sobre como outras espécies fúngicas poderiam reagir a essas mudanças no ambiente.

O problema se agrava diante da crescente resistência a antifúngicos, impulsionada em parte pelo uso indiscriminado de fungicidas na agricultura.

De acordo com Viv Goosens, gerente de pesquisa da Wellcome, uma instituição de apoio à pesquisa, os fungos ainda são um risco pouco reconhecido, apesar de representarem ameaças à saúde pública e à segurança alimentar. E destaca que o uso de mapas e modelos para acompanhar a propagação dos patógenos pode auxiliar na formulação de respostas mais eficazes.

Os cientistas estimam que menos de 10% das cerca de 1,5 a 3,8 milhões de espécies existentes de fungos tenham sido descritas, e apenas uma parcela mínima teve seu genoma sequenciado.



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