Países da região desejam romper com a Família Real e adotar o regime de república após histórico de exploração de populações negras
Desde a morte da rainha Elizabeth II, em 8 de setembro, movimentos sociais e políticos republicanos do Caribe têm se movimentado em prol do fim do domínio do império britânico sobre a região, como apontam analistas internacionais. Os grupos reivindicam que a monarquia reconheça o histórico de exploração de escravos e de colonização de regiões com a população predominantemente negra, além de independência política. De acordo com Kate Quinn, professora de história do Caribe na University College London, a morte da monarca acendeu o debate sobre republicanismo no Caribe e que a quebra com a família real “entrou no discurso dominante do ‘senso comum’ à medida que um espectro mais amplo da sociedade se envolve com os problemas e se pergunta se a monarquia já fez algo por nós”.
O primeiro país a expressar um desejo de se tornar uma república foi Antígua e Barbuda. O primeiro-ministro Gaston Browne declarou que espera realizar um referendo sobre o assunto dentro de três anos. Líder político da Bahamas, Phillip Davis afirmou ter esperanças semelhantes, embora não tenha fornecido um cronograma. “Para mim, está sempre na mesa. Terei que fazer um referendo e o povo das Bahamas terá que me dizer ‘sim’”, disse Davis em comentários publicados pelo jornal local Nassau Guardian um dia após a morte da rainha. A Jamaica também considera virar a página, uma ideia que o primeiro-ministro Andrew Holness deu ao príncipe William durante uma viagem pelo Caribe no início deste ano. As ilhas caribenhas seguem o exemplo de Barbados, que anteriormente era controlada pela coroa britânica, mas que aprovou no ano passado uma emenda constitucional que removeu a rainha do cargo de chefe de Estado.
Sobre o histórico de exploração da população negra, o rei Charles definiu o período como uma “atrocidade terrível” da escravidão, “que mancha para sempre a nossa história”. Na Jamaica, o príncipe William repetiu as palavras de seu pai, expressando seu “profundo arrependimento” e chamando a escravidão de “abominável” e algo que “nunca deveria ter acontecido”. Nenhum pedido formal de desculpas foi feito, até o momento. Contudo, o viés republicano parece ser mais forte nas nações caribenhas que se tornaram independentes do Reino Unido. Para aqueles que permanecem territórios ultramarinos – as Ilhas Cayman, as Ilhas Virgens Britânicas, Anguilla, as Ilhas Turcas e Caicos, Montserrat e, mais ao norte, Bermudas – há poucos sinais de que a morte da rainha Elizabeth II levará à busca da independência, diz Quinn. É uma decisão que “deve ser tomada pelo povo, não pelos políticos. Cada país tem que decidir não tanto como eles foram tratados no passado (…) mas como enfrentar a realidade de como as coisas são hoje”, disse à AFP o ex-primeiro-ministro das Bermudas, Sir John Swan, que renunciou ao cargo de líder de seu partido depois que a ilha rejeitou a independência por maioria em um referendo de 1995.
*Com informações da agência AFP