Simulação digital revela detalhes do Titanic pelo lado de bombordo da proa
Um modelo tridimensional do Titanic, criado a partir de 715 mil fotografias e imagens em 4K capturadas em 2022, foi apresentado como parte do documentário Titanic: The Digital Resurrection, lançado pela National Geographic na última sexta-feira (11).
A reconstrução é considerada a réplica digital mais detalhada já feita do naufrágio, com precisão milimétrica em escala 1:1.
O trabalho foi conduzido pela empresa britânica Magellan Ltd., especializada em mapeamento em alto-mar.
A operação utilizou dois robôs subaquáticos, chamados Romeo e Juliet, que desceram cerca de 3.800 metros até os destroços no fundo do Atlântico Norte.
Durante três semanas, os equipamentos escanearam a embarcação com tecnologia de fotogrametria e milhões de varreduras a laser, coletando 16 terabytes de dados.
O processamento das imagens levou meses e contou com a colaboração de engenheiros, historiadores e especialistas em arqueologia marítima.
O resultado é um modelo digital que permite examinar a estrutura do Titanic com nível de detalhe suficiente para identificar rebites, objetos pessoais e danos no casco.
A proa do navio permanece parcialmente intacta, embora parcialmente enterrada na lama, dificultando a análise completa do impacto com o iceberg.
Já a popa, localizada a cerca de 800 metros da proa, está fragmentada em pedaços devido ao impacto com o solo marinho.
Um dos achados do modelo é que o navio não se partiu ao meio de forma simétrica. O rompimento foi violento e irregular.
Também foi possível identificar pequenos furos, equivalentes ao tamanho de uma folha A4, em seis compartimentos do casco, por onde a água teria entrado gradualmente, contrariando a ideia de que um grande rasgo teria causado o naufrágio.
A reconstrução mostra ainda que objetos pessoais, como malas, sapatos e utensílios, estão espalhados ao redor dos destroços, preservando aspectos da dimensão humana da tragédia.
Segundo o modelo, as luzes do Titanic permaneceram acesas até os momentos finais, o que reforça relatos de sobreviventes sobre a atuação dos engenheiros para manter as caldeiras em funcionamento.
O projeto também permitiu revisitar discussões sobre a tomada de decisão da tripulação.
Simulações indicam que, caso o navio tivesse colidido de frente com o iceberg, poderia ter permanecido à tona por mais tempo. A hipótese contraria a manobra de desvio executada na época.
Outra reavaliação envolve o primeiro oficial William Murdoch. No filme Titanic (1997), de James Cameron, Murdoch é retratado atirando em passageiros antes de se suicidar. O modelo não sustenta essa narrativa e sugere que ele permaneceu em seu posto até o fim.
A análise dos dados também alerta para o avanço da deterioração da estrutura. Segundo os pesquisadores, bactérias estão corroendo cerca de 180 kg de ferro por dia, e o naufrágio pode desmoronar completamente dentro de 15 a 50 anos.
Nesse contexto, o modelo digital serve como registro histórico que poderá ser consultado mesmo após o colapso físico do navio.
A réplica tridimensional permite análises antes impossíveis, com base em imagens incompletas ou ilustrações artísticas.
Restrições de acordos internacionais impedem a entrada de robôs no interior da estrutura, mas a parte externa revelou informações relevantes sobre a dinâmica da tragédia.
Entre os especialistas que comentaram o projeto, o historiador Parks Stephenson afirmou que o modelo revela fragmentos da história, sempre deixando lacunas para novas interpretações.
Já o arqueólogo James Sinclair, que mergulhou nos destroços em 2000, destacou a importância do material como forma de preservar o legado do Titanic.
Veja as fotos abaixo:
IG Último Segundo