Como qualquer partido ou agremiação política, o PT também tem que lidar com seus problemas internos. Uma visão apenas externa, e superficial, pode representar o partido como uma espécie de lago de águas calmas. Mas um mergulho neste mesmo ambiente irá mostrar uma intensa movimentação cujo mote é, basicamente, obter e consolidar poder.
Lula já não é o líder de outrora. Isso é fato. Desgastado pelo tempo, claramente farto das negociações políticas que antes bem realizava, até com claro prazer, exibe um evidente fastio de tal atividade no presente. E isso também se aplica ao seu próprio partido.
O presidente da República é respeitado pelos petistas, mas a especulação, a movimentação, a conjuração desses mesmos integrantes, é quase inevitável no contexto.
O mandato da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, chega ao fim em breve. Quem a substituirá? O indicado "natural" era o habilidoso Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara por nada menos que quatro mandatos, mas que não fez o sucessor em 2024.
Seu nome, contudo, vem recebendo resistência, especialmente de políticos e lideranças petistas do nordeste que se opõem não exatamente à Edinho como pessoa e político, mas ao fato de ele ser paulista. Querem mudar o eixo de poder do partido, que nasceu quase no ABC, na grande São Paulo, mas mostra um desempenho melhor no nordeste nos últimos tempos.
Buscando até um certo isolamento, Lula parece não querer se envolver. No entanto, aquele que foi um poderoso interlocutor no Partido dos Trabalhadores
no passado, José Dirceu, abandonou sua discrição e seu silêncio habituais para pedir a Sidônio Palmeira, atual ministro da Secretaria de Comunicação, que leve um recado seu a Lula: ou o chefe maior do PT entra no circuito, usa a sua força para acomodar pretensões e encerra os conflitos, ou o partido corre sérios riscos.
Observador arguto da cena política brasileira e figura de proa do petismo, Dirceu conhece bem o partido e por certo sabe o que fala. Não mandaria um recado desses a Lula se não fosse algo relevante.
A questão ou dúvida que fica é: Lula vai considerar o alerta de Dirceu, ou se fechará em copas, como parece estar fazendo de uma maneira geral com todos os assuntos que o cercam? Só o futuro poderá responder essa indagação.
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