Lula x Trump: quem gahou essa queda-de-braço?


Donald Trump não esperou a data-limite para confirmar o tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras.

Digo “confirmar” naquelas.

O chefe da Casa Branca deixou de fora da lista cerca de 700 produtos, entre eles alguns dos principais itens do comércio entre os dois países, como suco de laranja e aeronaves.

As exceções eram tantas que já tinha analista questionando se aquilo era tarifaço ou tarifinha.

Trump queria desgastar o governo brasileiro para, daqui a pouco mais de um ano, instalar um preposto dos interesses norte-americanos por aqui.

Reabilitar Jair Bolsonaro (PL) politicamente é fundamental para isso. 

Se o mestre mandar, o ex-presidente é capaz de trocar as cores da bandeira pelo vermelho, azul e branco do estandarte alheio.

Mesmo que não escape da prisão, a pecha de perseguido, assinada pelo presidente da (ainda) maior potência global, poderia transformar Bolsonaro em mártir e fazer dele o maior cabo eleitoral de 2026.

O preposto do preposto (Tarcísio? Eduardo? Zema?) não precisaria se dar ao trabalho de criar um programa de governo. Bastaria traduzir o chororô da carta em que Trump explica por que puniu os exportadores brasileiros e os ministros da Corte onde corre o processo contra quem planejou um golpe de Estado no Brasil em 2022. 

O objetivo de Trump está desenhado naquelas linhas. Ele quer liberdade para as big techs operarem sem moderação ou regulação e acesso aos minérios de terras-raras brasileiros. Mais que isso, quer um presidente domesticado que não se oponha à cobiça da Casa Branca. Nem magistrados que apliquem a lei local quando ela for atropelada por firmas estrangeiras.

Talvez – só talvez – não tenha passado nem perto de conseguir.

Alexandre de Moraes virou alvo da Lei Magnitsky, para desgosto de um dos idealizadores da norma, o britânico William Browder, chefe da campanha “Global Magnitsky Justice”. 

O próprio Browder foi às redes dizer que passou anos lutando pela aprovação da lei para acabar com a impunidade contra violadores graves dos direitos humanos e cleptocratas. “Pelo que sei, o juiz brasileiro (Alexandre de) Moraes não se enquadra em nenhuma dessas categorias”, protestou.

As sanções – como cancelamento de visto e bloqueio de bens nos Estados Unidos – têm, de toda forma, efeito limitado. 

Moraes não tem conta nem costuma viajar para lá nas férias.

Não deve estar uma hora dessas chorando sozinho no quarto. Inclusive andava bem sorridente nas arquibancadas da Arena Corinthians, onde assistiu nesta quarta-feira (30) à vitória do time da casa contra o Palmeiras.

Lula sentiu o cheiro da arapuca quando foi pressionado por opositores a telefonar ou negociar pessoalmente com Trump e implorar pela redução das tarifas. 

O Itamaraty alertou para o que aconteceu com Volodymyr Zelensky e Cyril Ramaphosa, líderes da Ucrânia e África do Sul que foram à Casa Branca pedir ajuda e acabaram humilhados por Trump diante das câmeras. O primeiro foi acusado de brincar de Terceira Guerra Mundial enquanto seu país era estraçalhada pela Rússia. O outro foi obrigado a assistir a um vídeo fake sobre um suposto genocídio branco em seu território.

O presidente brasileiro pagou para ver. Sabendo que o leão poderia rugir mas não iria morder a corda esticada nem deixar o consumidor norte-americano pagar a mais pelo suco de laranja.

Integrantes da equipe econômica garantem que as negociações continuam ponto a ponto sobre os setores realmente afetados. Nesse meio tempo, já estudam mercados alternativos, como os Brics e a União Europeia, para desovar os estoques excedentes.

O discurso de Lula para o público interno criou uma risca de giz no chão bastante didática sobre quem defende de fato a soberania nacional ao não negociar como um país pequeno – nem aceitar ameaça de quem que seja – e quem está disposto a se ajoelhar e prejudicar interesses nacionais para salvar a própria pele.

Trump não está com pena nem quer levar Bolsonaro para casa. Quer apenas uma marionete mais fácil de manipular enquanto brinca de síndico do Planeta .

Menos de um mês após o início dessa novela, Lula, pela primeira vez em 2025, aparece em uma pesquisa Atlas/Intel com a aprovação (50,2%) maior do que a reprovação (49,7%).

É pouco. 

Trump deu a ele um discurso e um inimigo comum, que aglutinou em torno do governo forças até então avessas do Congresso e do setor produtivo.

Está claro quem ganhou a queda de braço dessa batalha. 

Mas a guerra, comercial e ideológica, está longe de terminar.

*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG



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