Lula gasta mais com cartão corporativo que Dilma, Temer e Bolsonaro


A justificativa para os gastos elevados foi o número de viagens do Presidente para agendas no exterior
Ricardo Stuckert/PR

A justificativa para os gastos elevados foi o número de viagens do Presidente para agendas no exterior

Dados do Portal da Transparência sobre o uso de cartões corporativos Cartão de Pagamento do Governo Federal (CPGF)
da Secretaria de Administração da Presidência da República mostram que nos primeiros sete meses de mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gastou mais que Jair Bolsonaro (PL – inelegível)
, Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT). 

Até o mês de agosto, as despesas somam cerca de R$8 milhões, numa média de R$1,1 milhões ao mês em números corrigidos pela inflação. Na gestão de Bolsonaro, que também foi recordista nesse tipo de gasto, a média mensal era de R$1 milhão ao mês. Temer gastou cerca de R$584 mil ao mês, enquanto a fatura de Dilma Rousseff girava em torno de R$905 mil.


Se compararmos os primeiros sete meses de Lula em seu terceiro mandato ao mesmo período de gestões passadas, o atual presidente ainda lidera o ranking de gastos. Enquanto as despesas de Lula somam R$8 milhões, Bolsonaro acumulou R$5,3 milhões gastos em sete meses. Temer gastou R$3,8 milhões, e Dilma, R$4,9 milhões.

O Palácio do Planalto afirma que a maior parte das despesas de Lula com o cartão corporativo nos últimos meses se deve às viagens que o presidente tem feito para cumprir agendas no exterior. 

Em oito meses de mandato, Lula viajou 19 vezes. O detalhamento das despesas, contudo, não é revelado pela CGU, que classifica essa informação como “sigilosa” para não por em risco a segurança do presidente e seus familiares. Dessa forma, apenas o valor total de despesas se torna público.

No entanto, em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou trechos de um decreto para dar transparência a gastos do Palácio do Planalto, inclusive com cartões corporativos.

Isso permitiu que viessem a público informações sobre as faturas dos cartões na gestão Bolsonaro, gerando desgaste à imagem do mandatário, que gastou muito dinheiro com combustível para veículos nas motociatas da quais ele participava.

Além disso, a quebra do sigilo dos gastos do ex-presidente revelou ao menos R$ 4,7 milhões gastos em dias sem agenda de trabalho, quando Bolsonaro postou fotos curtindo férias, feriados, jogos de futebol e as tais motociatas.

Com menos de 15 dias de governo Lula, o Palácio do Planalto divulgou, em janeiro, uma planilha que quebrou o sigilo dos extratos dos cartões corporativos de Bolsonaro, Temer, Dilma e Lula (em seus dois primeiros mandatos).

Além de não estar atualizada com os gastos de Lula neste ano, a planilha também apresenta algumas divergências com o Portal da Transparência.

Como funciona o cartão corporativo?

O cartão corporativo começou a ser utilizado durante o governo Fernando Henrique Cardoso, substituindo cheques nas despesas para suprimento de fundos, que são compras emergenciais e de valor baixo, situação em que não é possível seguir os trâmites de um processo licitatório ou de dispensa de licitação.

Esses cartões são usados por diversos órgãos que constituem a estrutura de governo, e em cada um deles há um ordenador de despesas para administrar a distribuição dos cartões entre alguns servidores, e determinar quais gastos podem ou não ser feitos.

Alguns exemplos de usos possíveis para os cartões corporativos são a compra de materiais, prestação de serviços, abastecimento de veículos oficiais, segurança do presidente em viagens, manutenção e realização de eventos no Palácio da Alvorada.

Os decretos nº 93.872/1986 e nº 5.355/2005 determinam que as despesas com cartões corporativos podem ser feitas para atender despesas eventuais (incluindo viagens e serviços especiais) que exijam pagamento imediato; para despesas de caráter sigiloso; e para gastos de valor baixo, que não ultrapasse o limite estabelecido em Portaria do Ministro da Fazenda.

Além disso, as normas prevêem que o Ministério da Fazenda e o Ministério do Planejamento podem autorizar outras despesas por meio de ato conjunto.

A Portaria 95/2002 do Ministério da Fazenda determina os limites de valor desses gastos em 10% dos valores fixados pela Lei de Licitação para obras, e 10% do fixado na lei para outras despesas. A norma também esclarece que esses limites podem ser ultrapassados de modo excepcional, desde que a mudança seja justificada. 

No que diz respeito à Secretaria de Administração da Presidência da República, que cuida das despesas de Lula, de sua família e de funcionários próximos, os limites são mais flexíveis por força do Decreto 93.872/1986, que cria um regime especial para uso do cartão em órgãos específicos, devido às peculiaridades envolvidas em seu funcionamento. 



IG Último Segundo