O prefeito Ekrem Imamoglu, em 31 de março de 2024 em Istambul
YASIN AKGUL
Um juiz determinou neste domingo(23) a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, o principal opositor do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, por “corrupção”, após a quarta noite de protestos em massa, o que levou a confrontos violentos com a polícia.
Um dos advogados de Imamoglu, 53 anos, confirmou a decisão do tribunal, à qual será contestada. “Estou de pé, nunca me renderei”, disse Imamoglu em uma mensagem na rede social X após o veredito.
Ele também prometeu que “tudo ficará bem”, lema que adotou em 2019 depois que sua eleição como prefeito de Istambul foi anulada, mas que acabou vencendo por uma ampla margem em uma segunda votação.
O prefeito enfrentava outra investigação “relacionada a terrorismo”, mas o tribunal não determinou sua prisão neste caso, disseram o advogado e uma fonte municipal à AFP.
A detenção na quarta-feira de Imamoglu, que pertence ao Partido Popular Republicano (CHP) social-democrata, desencadeou os maiores protestos no país em mais de uma década.
O CHP denunciou um “golpe de Estado político” depois que Imamoglu foi levado ao tribunal de Caglayan, em Istambul, no sábado, junto com 90 corréus.
O tribunal também ordenou a prisão de alguns desses réus, incluindo um dos conselheiros mais próximos do prefeito, segundo a imprensa turca.
Milhares de pessoas se reuniram pela quarta noite consecutiva no sábado em frente à Prefeitura de Istambul para protestar contra a prisão de Imamoglu, denunciando acusações “imorais e infundadas” contra ele.
Alguns manifestantes passaram a noite dentro da Prefeitura, tentando dormir em cadeiras no saguão enquanto esperavam que o destino do prefeito fosse decidido, observou um fotógrafo da AFP.
Erdogan, que está no poder há mais de duas décadas — inicialmente como primeiro-ministro e depois como presidente — prometeu não ceder ao “terror das ruas”.
– Rival de Erdogan –
Imamoglu se tornou um intrigante rival do chefe de Estado quando tomou a Prefeitura de Istambul do partido do presidente em 2019.
O AKP, o Partido da Justiça e Desenvolvimento, dominou a capital econômica do país nos últimos 25 anos.
O prefeito da oposição, reeleito triunfalmente no ano passado, deveria ser nomeado neste domingo como candidato de seu partido para as próximas eleições presidenciais de 2028.
O CHP decidiu realizar essas primárias apesar da prisão de sua principal figura política e convocou todos os turcos, mesmo de fora do partido, a participar da votação.
“Sempre que há um opositor forte [de Erdogan], o prendem”, disse Ferhat, um eleitor de 29 anos que não quis revelar seu sobrenome.
Muitos dos presentes expressaram sua indignação com a prisão de um prefeito que eles elegeram há alguns anos. “Eles literalmente roubaram nosso voto. Estou em lágrimas”, disse Sukru Ilker, 70 anos.
As acusações contra Imamoglu levantaram temores entre seus apoiadores de que ele poderia ser substituído por uma autoridade nomeada pelo Estado à frente da maior cidade do país.
Sua prisão desencadeou protestos em massa em pelo menos 55 das 81 províncias da Turquia, com confrontos violentos com forças de segurança e centenas de detenções, disseram autoridades.
A onda de protestos é inédita desde as grandes manifestações que começaram no Parque Gezi, em Istambul, e abalaram o país em 2013.
Para evitar distúrbios, a província de Istambul estendeu a proibição de reuniões até quarta-feira à noite.
Também anunciou restrições à entrada na cidade de qualquer pessoa que participe de manifestações, sem especificar como implementaria a medida.
IG Último Segundo