A entidade denunciou o conteúdo do jogo à Comissão Australiana de Classificação
Um jogo com conteúdo sexualmente explícito e temáticas envolvendo dinâmicas de dominação familiar foi disponibilizado na Steam, uma das maiores plataformas de distribuição digital de jogos, acessada por milhões de usuários, incluindo crianças e adolescentes.
O título, chamado No Mercy, permite ao jogador interagir com uma narrativa centrada em chantagem, coerção e relações de poder, com cenas descritas como inadequadas por entidades de defesa dos direitos da criança.
A situação gerou reações de organizações como a Collective Shout, que atua no combate à exploração sexual de menores e à objetificação feminina.
A entidade denunciou o conteúdo do jogo à Comissão Australiana de Classificação, responsável por definir a faixa etária apropriada para obras de entretenimento.
Após análise, o órgão determinou que No Mercy não é adequado para venda no país, levando à sua remoção da versão australiana da Steam. No entanto, o título ainda permanece disponível em outras regiões, incluindo por meio de sites alternativos.
De acordo com a descrição oficial do jogo na plataforma, o enredo envolve o relacionamento entre enteados e madrastas, com ênfase em dominação masculina e chantagem.
Para acessar o conteúdo, o usuário deve confirmar ter mais de 18 anos, mas a ausência de um sistema eficaz de verificação de idade tem sido apontada como uma falha por especialistas em segurança digital.
Susan McLean, consultora na área, afirmou ao The Sydney Morning Herald que o caso ilustra a presença de uma cultura misógina em ambientes virtuais frequentados por jovens.
Ela destacou que pais e responsáveis muitas vezes desconhecem o tipo de conteúdo acessado pelos filhos e defendeu a implementação de medidas mais rigorosas nas plataformas digitais.
Segundo McLean, a série Adolescence, exibida pela Netflix, contribuiu para evidenciar essas questões ao retratar o ambiente tóxico das chamadas “manosferas”, comunidades online que promovem discursos de dominação e sexismo.
O episódio ocorre paralelamente a outros casos envolvendo jogos com conteúdo impróprio. Em Geelong, na Austrália, um homem de 32 anos foi condenado a 11 anos de prisão após desenvolver um jogo que simulava exploração infantil.
Embora sem ligação com No Mercy, o caso reforçou o debate sobre a necessidade de regulação e monitoramento das plataformas digitais. A Polícia Federal Australiana apreendeu bens do condenado, que serão leiloados com a verba destinada a projetos sociais.
A Steam já foi alvo de críticas semelhantes no passado. Em 2019, o jogo Rape Day foi anunciado na plataforma, mas acabou removido após mobilização de usuários e organizações.
Na ocasião, a Valve, responsável pela Steam, alegou que o título envolvia riscos que não poderia administrar.
Especialista
A socióloga Jamilla Rosdahl afirmou que jogos com temáticas violentas ou sexistas podem influenciar o comportamento de jovens, especialmente meninos expostos a comunidades virtuais que reforçam visões agressivas sobre relações de gênero.
Ela alertou que a repetição desses estímulos pode naturalizar condutas abusivas entre usuários em formação.
O órgão australiano de segurança digital, eSafety, informou que acompanha casos como o de No Mercy e atua em parceria com plataformas para garantir o cumprimento das leis locais.
O código de conduta digital do país exige que serviços online removam ou restrinjam conteúdos classificados como ilegais ou extremamente prejudiciais, incluindo material com exploração infantil, violência sexual e apologia ao terrorismo.
IG Último Segundo